Carta a Marcelino

Pe. Claude-Marie Page

1840-05-23

Na sua comunicação anterior (Carta nº 206), o Pe. Page havia comunicado ao Fundador que a sua paróquia assumiria o pagamento dos Irmãos no primeiro ano, para não sobrecarregar o município que, no mesmo período, estaria construindo a escola. O texto desta nova carta do zeloso pároco de Digoin é para informar o resultado positivo da sua coleta entre os paroquianos: o salário dos Irmãos estava assegurado; o Pe. Champagnat não precisaria recear enviá-los em novembro, para o início do ano escolar. Seguindo o ditado popular que ele cita na carta, ?enquanto o ferro está quente, deve-se martelar?, foi à sede do bispado, em Autun, para solicitar a D. Hericourt que apoiasse o projeto da escola marista em Digoin. Obteve do seu bispo a expedição de uma bela carta ao Pe. Champagnat, dando-lhe respaldo pleno (Carta nº 211).

Digoin, 23 de maio de 1840.

Senhor superior:

Como a nossa administração se encarrega de todas as despesas da escola, acreditei dever isentá-los das despesas necessárias à instalação dos nossos Irmãos. Com isso, fiz visita pastoral na paróquia e, com o consentimento do prefeito, apresentei aos meus paroquianos um livro de subscrição. Edifiquei-me em ver a sua boa vontade. Estive nos cafés e em casa dos mestres-escolas, que se comprometeram. Duas casas particulares subscreveram 500 francos cada uma. Entrando em outra, um bar, saí com subscrições de 400, 100, 50, 20 e 10 francos cada uma. Enfim, no primeiro ano os alunos não pagarão nada e espero que o mesmo ocorra no futuro.

Senhor superior, não somente podeis confiar-nos sem temor os vossos Irmãos para o final deste ano, mas rogo-vos no-los concedais quanto antes, diria mesmo, em seguida. De outra forma, encontrar-nos-emos em embaraços de que não poderemos sair, não sei por quantos anos; ficaríamos todos desconcertados. A razão explica-se a seguir.

Há oito dias, um inspetor de Macon passou aqui; vendo a instrução atrasada em Digoin, e sabendo que se esperam Irmãos este ano, disse ele ao nosso prefeito que aprovava o projeto dos Irmãos; mas, se não estivessem aqui no mês de outubro, seria enviado um professor leigo e a comuna teria o encargo de lhe proporcionar alojamento e de alocar-lhe pagamento conveniente. O inspetor teve a bondade de mandar dizer-me que eu devo contar com os Irmãos o mais prontamente possível, se não quisesse a dor de ver fracassar o nosso feliz projeto. Assim, sr. superior, conto com a vossa gentileza para que obtenha a certeza do atendimento.

Enquanto o ferro está quente é que é preciso bater. Não tereis motivo de queixar-vos de mim, como espero não ter senão que alegrar-me com o vosso zelo em me secundar e encorajar cada vez mais. Desejo que tenhais a bondade de vir dizer-nos e fazer-nos ver o que é preciso para a mobília e como deve ser o restante, enquanto aguardo a resposta com que espero queirais distinguir-me.

Desvaneço-me de ser, com profundo respeito, sr. Superior, o vosso muito humilde e muito obediente servidor PAGE, pároco.

P.S. Perdoai-me a má redação da carta, o que aponta a falta de tempo.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 129.80

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