Carta a Marcelino

Pe. Jean-Baptiste Pompallier

1834-04-25

O mês de abril de 1834 foi assinalado por muita agitação social na França, especialmente em Paris e Lião. Os revoltosos praticamente tinham tomado o poder em Lião e foi preciso a intervenção das tropas legalistas para restabelecer a ordem. Houve combates acirrados sobretudo durante a semana de 9 a 14 de abril. O Pe. Pompallier escreveu essa carta ao Pe. Champagnat, para relatar a proteção de Deus sobre a casa durante os dias agitados da revolução civil. Ao transmitir ao Pe. Champagnat encargos da parte do Vigário Geral Pe. Cholleton, ele se vai firmando sempre mais como intermediário entre o arcebispado e as questões atinentes ao ramo dos padres maristas.

J.M.J.
De Nossa Senhora de Fourvière,
25 de abril de 1834.

Senhor Superior:

Faz alguns dias que desejo escrever-vos, já para dar-vos sinal de vida, já para transmitir-vos recado do Pe. Cholleton.

Certamente não ignorais a catástrofe que alarmou não apenas esta cidade, mas ainda toda a França. Como sabeis, por seis dias, Lião foi teatro da guerra civil com todos os seus horrores. Dia e noite, ouvia-se o canhão e a fuzilaria. Ninguém sabia o que aconteceria. Houve proteção visível de Deus sobre os cristãos pacíficos, ocupados apenas com a própria salvação e com os seus deveres domésticos, sem nenhuma participação em todos os conflitos políticos que agitam as cabeças.

Nenhuma pessoa se acidentou, nenhu- ma família, nem ninguém do pensionato , onde sempre permaneci. Confessei toda a casa sob o barulho do combate. Todos os exercícios se fizeram como de costume; mantivemos sempre duas pessoas, sucessivamente, em adoração perante o Santíssimo Sacramento. Várias vezes por dia dava algumas orientações espirituais na capela; faziam-se orações adequadas às circunstâncias. Graças se dêem à bondade de Deus e à proteção de Maria por nada haver atingido a casa, embora esteja ao lado do forte de Santo Irineu. Rogo-vos que vos unais com todos os nossos Irmãos no nosso reconhecimento, para que nunca me torne indigno da bondade de Deus e da proteção da nossa Mãe comum.

O Pe. Cholleton pediu que vos comunicasse o seguinte: há em Mornant certa pessoa que, por testamento, constituiu legado em favor dos Irmãos mestres de escola. Acertai com o sr. pároco dessa localidade os meios que a prudência aponta para que tal gesto tenha efeito legal. É renda de cerca de vintena de francos, a título perpétuo.

Lastimo profundamente não ter podido ver os nossos Irmãos na sua passagem por Lião, ontem. Ter-lhes-ia entregue a presente. Recomendo-me instantemente às vossas intenções, na missa. Creio que terei a alegria de ir a lHermitage em breve.

As minhas considerações ao Pe. Servant e a todos os nossos Irmãos. O vosso muito humilde e muito obediente servidor, POMPALLIER, padre.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 126.04

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