Carta a Marcelino

Pe. Jean-Claude Colin

1836-01-19

O Pe. Champagnat procurava uma casa que fosse ponto centralizador do grupo dos padres maristas na arquidiocese de Lião, pois não havia satisfação com aquela de Valbenoîte, onde os padres maristas atuavam sobretudo na paróquia, com pouco tempo para as missões populares, objetivo original da Sociedade. Ele tinha oferecido até mesmo a sua propriedade da Grange Payre para tal finalidade, como dissemos nos comentários das Cartas nº 58 e 60. O Pe. Colin, da sua parte, na diocese de Belley, tentava manter aí o pólo dos dois grupos, arquitetando a compra de nova casa, que receberia o nome de noviciado. Devem ter ocorrido divergências e insatisfações das duas partes. Nesta carta o Pe. Colin exprime o seu sofrimento com a situação, revela confiança no Pe. Cholleton e se dispõe até em deixar o cargo de superior dos dois grupos, para facilitar uma solução. As dificuldades desapareceram depois, no mês de março, quando a Sociedade de Maria foi oficializada por Roma e atingiu nível supradiocesano.

Belley, 19 de janeiro de 1836.

Senhor e caríssimo confrade:

Sou levado a escrever-vos e sigo, prazerosamente, este pensamento. Desde que trabalho para a Sociedade de Maria, sempre considerei como dever o aconselhar-me com o Pe. Cholleton e concertar-me com ele antes de agir. Nas circunstâncias atuais, com a graça de Deus, quero seguir com fidelidade ainda maior tal linha de procedimento.

Consoante os seus conselhos, suspendemos todas as diligências para a aquisição da nova casa de noviciado. Penso que se deveria fazer outro tanto em Lião e aguardar o momento da Providência.

Por certo vos recordais de que os meus confrades pensaram que seria bom escolher entre nós alguém que fosse elemento de unificação; certamente, a medida era de todo natural e necessária para o êxito do nosso empreendimento. Não digo qual foi o resultado de tal medida, mas devo expor com muita sinceridade: há bom tempo desejo de todo o coração ceder a outras mãos, com toda a documentação que concerne à Sociedade, o título de superior que me outorgaram e espero que em breve se cumpra o voto ardente do meu coração. Sempre desejei que a escolha daquele que deve caminhar na nossa frente recaia no Pe. Cholleton; mas, enquanto se aguarda que a Providência o desonere do vicariato geral e o ponha ostensivamente à nossa frente, cumpre-nos sentir a necessidade de que algum membro, dedicado por inteiro à Sociedade, se torne o ponto central e presida a todas as diligências junto às administrações diocesanas e a todos os novos projetos. De outra forma, nada faremos de sólido e nos destruiremos. No passado, as imprudências e a falta de unidade atrasaram a obra, prejudicaram-na e, por certo, terminariam por torná-la impossível. É o sentimento e a visão das disposições dos espíritos que me fizeram dizer que terminaremos por nos concentrar na diocese de Belley até nova ordem e, nisto, expressei menos o voto do coração do que a dura necessidade das circunstâncias.

Portanto, se visamos ao êxito da obra, que nos importa fazer? Devemos entender-nos mais do que nunca. Antes de nos havermos concertado não devemos levar nenhuma diligência às administrações episcopais de Belley ou de Lião. A certeza de que nada faço sem consultar o Pe. Cholleton deve afastar de vós toda a inquietude, todo o temor de que eu prefira os interesses de Belley aos de Lião. Aliás, aqui não quero ver senão o bem geral da Sociedade, cujo fim principal é unir-se ao episcopado e trabalhar de acordo com ele.

Enfim, meu caro confrade, dirijo-me a vós, porquanto é em vós e no Pe. Pompallier que tenho mais confiança. É em vós dois que mais descubro este espírito religioso tão imprescindível no êxito de tal empresa. Não ando longe de pensar que será pelo vosso intermédio que a Sociedade se consolidará na diocese de Lião. Pensai também em pôr em ordem o ramo dos vossos Irmãos. Se tiver tempo, procurarei descobrir como poderemos ligá-los ao corpo dos padres.

Avante e coragem. Entendamo-nos e porfiemos, por todos os meios da prudência e da submissão aos senhores Bispos, em dar à nossa empresa direção mais uniforme, mais forte. Ponhamos de lado qualquer motivo interesseiro ou de visão particular. É à mesma obra que consagramos os nossos esforços; é o bem geral da Sociedade que devemos procurar, antes de tudo. Roguemos ao Senhor que nos assista e, sobretudo, nos esclareça na escolha dos candidatos que se apresentam e que nos dê o verdadeiro espírito da Sociedade, que deve ser espírito de humildade, de abnegação e devotamento.

Escrevo a mesma coisa aos padres Pompallier e Cholleton.

Recebei a segurança do meu sincero afeto e respeito, nos quais sou o vosso muito humilde e obediente servidor, COLIN, superior.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: OM 358

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