Carta a Marcelino

Pe. Jean-Claude Colin

1839-02-22

Este texo é conhecido como ?a carta cominatória? que o Pe. Champagnat recebeu. O Pe. Colin, na sua qualidade de superior, aplicou uma ordem formal de obediência ao Fundador, punindo-o com três dias de retiro, ?para humilhar-se perante Deus por ser tão pouco obediente em certas ocasiões?. A ?desobediência? do Pe. Champagnat teria sido o não envio de Irmãos Maristas para secundar o Pe. Chanut no recente posto de atuação que ele havia assumido em nome dos padres maristas, na diocese de Bordéus, mais precisamente na paróquia de Verdelais (Carta nº 167). Apesar da indicação explícita do Pe. Colin para que o Fundador não apresentasse novas desculpas para negar Irmãos ao Pe. Chanut, sabemos que, finalmente, nenhum Irmão foi enviado lá. Provavelmente houve entendimento entre os dois superiores, por meio de encontro pessoal ou de troca de correspondência. Mais adiante (ver a Carta nº 201), encontraremos o Pe. Colin muito mais ameno na sua forma de tratar com o Fundador.

Belley, 22 de fevereiro 1839.

Senhor e mui querido confrade:

Já é a quarta ou quinta vez que vos peço ou faço que vos solicitem o envio de um Irmão ao Pe. Chanut, na diocese de Bordéus. A minha petição tão reiterada mostra-vos a importância que ligo a esse ato de obediência que espero de vós.

Lembrai-vos de que Maria, nossa Mãe e a quem devemos tomar por modelo, após a Ascensão do seu Filho, empregava-se por inteiro nas necessidades dos apóstolos; é esse um dos primeiros escopos da congregação dos Irmãos e das Irmãs Maristas para com os padres da Sociedade, para que estes, liberados por inteiro das preocupações temporais, se entreguem mais desembaraçadamente à salvação das almas. Um Irmão ao serviço dos Padres da Sociedade faz vinte vezes mais bem, segundo a minha opinião, do que se estivesse empregado numa comuna, onde, hoje, graças a Deus, os meios de instruir a juventude não faltam; mas nunca pudestes compreender bem essa ordem e esse fim da Sociedade.

Seja como for, após a recepção desta carta, passareis três dias numa espécie de retiro para vos humilhar perante Deus por haver feito, até aqui, tão pouco a sua divina vontade, sob alguns aspectos; depois escolhereis o Irmão ou o noviço que, diante de Deus, reputardes mais capaz de fazer sozinho a viagem de Lião a Bordéus, e administrar a casa e formar outros Irmãos no espírito da Sociedade, para enviá-lo ao Pe. Chanut. Não esqueçais que a obediência plena e inteira é sempre abençoada por Deus e que deve ser o caráter distintivo dos filhos de Maria, e que ela fará a vossa segurança e o fundamento da vossa maior recompensa.

Aceitai a certeza da sincera afeição com que tenho a honra de ser, meu querido confrade, o vosso muito humilde e muito obediente servidor, COLIN, sup.

P.S. Recomendo-vos que não aporteis nenhuma desculpa nem demora à petição que vos formulo de um Irmão para a região do Verdelais. Uma carta que acabo de receber de Bordéus insiste no envio de dois Irmãos: um para dirigir os trabalhos da horta e o outro para a cozinha. Há já alguns noviços. É preciso, portanto, pelo menos um Irmão de direção. O Pe. Chanut paga o transporte.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 122.30

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