Carta de Marcelino – 168

Marcellin Champagnat

1838-01-05

O Irmão Denis deve ter escrito ao Padre Champagnat, por ocasião do Ano Novo. A resposta vem repassada de sentimentos muito paternais do Padre, aos quais talvez não tenha sabido corresponder, pois saiu da Congregação pouco tempo depois.
Teria sido por doença? Morreu cinco anos depois. Seria por um sentimento de frustração? Diz que sonhava ser mandado para as Missões.
O Padre Champagnat, nesta correspondência, anima o Irmão a alimentar, sim, a esperança de ir às Missões; mas, por outra, já aponta-lhe o Irmão Flavien como sucessor. Recomenda também que trate bem o Irmão Pascal, que falece muito jovem, aos 20 anos, deixando o nome marista ao jovem Gaudin que foi o Irmão Pascal, eleito Assistente no segundo Capítulo Geral, em 1854.

V.J.M.J.
Notre Dame de lHermitage, 5 de janeiro de 1838.
Caríssimo Irmão,
Meu bom amigo, se você quiser que eu continue a admoestá-lo de suas faltas, não deve estranhar minhas observações. Nunca poderá manter por demais apertada sua vigilância com relação aos alunos, não se permita nenhum descuido. Estou deveras surpreso de que nada encontre na Regra que proíba de convidar gente estranha a vir comer com a comunidade, pois encontra até mesmo a proibição de admiti-los. Onde está o espírito desta proibição?
Está claramente proibido de tomar refeições fora de casa, sem uma real necessidade, não basta uma necessidade comum.
Também não deve ausentar-se, sem prevenir o Irmão que o substitui e sem indicar o lugar para onde vai. Perguntei em que data lhe dei licença de ir a Lião, e você nada me disse a respeito.
Você me fala do desejo que alimenta de partir para a Missão da Polinésia. Alimente este desejo, meu querido amigo, creio que vem de Deus. Aliás acho que você tem as graças e o jeito para isso. Deus sem dúvida tem projetos a seu respeito; prova fundamentada disto é a cura que lhe concedeu. Não a esqueça. Fique com as contas em dia, para que se for chamado a embarcar, você esteja preparado.
Quanto ao Irmão Flavien, não pense de forma alguma despedi-lo, pois seria impossível encontrarmos por ora quem o substituísse. Trate este Irmão com muitas atenções. Diga-lhe que deve ser ele seu substituto, e que nesta função, deverá entender-se com você para trabalhar pelo bem de todos os meninos que lhes são confiados; diga-lhe ainda que nem preciso desejar-lhes Feliz Ano. Todos vocês sabem que não almejo outra coisa do que o bem de todos. Não existe nenhum bem que eu não lhes deseje, nenhum que eu não esteja firmemente determinado a tudo fazer e a tudo empreender para que dele possam desfrutar.
Fico muito agradecido ao Irmão Jean pelo bom proceder. Quero muito bem a ele, como sobrinho do Padre Courbon, que muito estimava como superior meu. Não perco de vista o bom Irmão Pascal. Queira Deus conservar-lhe a saúde que, em sua infinita misericórdia houve por bem restituir-lhe.
Vocês estão bem convencidos, pelo menos deveriam estar, de que os amo a todos com ternura de pai. Quero, ardentemente desejo, que nos amemos uns aos outros como filhos do mesmo Pai, que é Deus, da mesma Mãe que é a santa Igreja.
Enfim, para tudo dizer em uma só palavra, Maria é a Mãe de todos nós. Poderia Ela ficar indiferente se conservássemos em nosso coração alguma coisa contra um daqueles que Ela tanto ama, talvez mesmo até mais do que a nós?
Adeus, meu caro Irmão Denis, adeus a todos nos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.
Tenho a honra de ser o dedicado pai em Jesus e Maria.
Champagna
sup.

P.S. Não se esqueçam de rezar pelo êxito de nossos projetos referentes à Sociedade de Maria. Quando vocês terminarem a novena que estão fazendo, comecem outra, rezando às minhas intenções. Que todos os meninos a façam também.
Mandem para cá tudo: a forja e o torno, já que vocês compraram tudo. Escolham alguém de confiança para fazer esse transporte.

Edição: Marcelino Champagnat. Cartas - SIMAR, São Paulo, 1997

fonte: Daprès lexpédition autographe AFM 111.29

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