Carta de Marcelino – 305

Marcellin Champagnat

1839-12-03

Dom Devie pediu ao Padre Champagnat (cf. Carta no 143) que instalasse um noviciado em Saint-Didier.
O Padre Champagnat expõe, nesta carta, as dificuldades em manter juntos, na mesma instituição, alunos internos e noviços. Argumenta inclusive com exemplos.
O bispo não ficou muito convencido e se dirigiu aos Irmãos de Santa Cruz e aos da Sagrada Família que começavam a se constituir na diocese.

Excia. Revma.,
Lamentei sinceramente não ter podido, na época do retiro, gozar da sorte de ir apresentar a V. Excia. minha respeitosa homenagem e comunicar-lhe de viva voz minhas observações sobre o noviciado de Saint-Didier.
De acordo com o desejo que V. Excia. me havia manifestado, quer pelo Padre Superior, (Jean-Claude Colin), quer através das diferentes entrevistas que tive com o senhor, aumentei o pessoal de Saint-Didier, a fim de que o Irmão Diretor pudesse dedicar-se especialmente ao cuidado dos noviços. Ele acaba de me escrever, anunciando que tem aceito alguns e foi com prazer que recebi a notícia, mas temo deveras que o andamento do noviciado seja prejudicado pelo funcionamento das aulas e do internato.
Por experiências várias, descobrimos que não podem funcionar bem, na mesma casa, essas obras diferentes.
A princípio também nós tínhamos resolvido receber em lHermitage alunos externos e alguns internos. Fomos obrigados a abandonar a idéia, porque uma tal situação acarretava a perda de um número significativo de noviços. Ficou evidente que o prejuízo era de todos. Chegamos ao ponto de nos ver obrigados a separar os postulantes dos Irmãos. Só desta maneira é que pudemos colocar ordem em nossa casa e conservar nossos candidatos.
Um excelente eclesiástico da diocese de Grenoble (Douillet), tendo começado em La Côte-Saint-André um estabelecimento exatamente nas mesmas condições que o de Saint Didier, quis também colocar lá um noviciado. Tivemos que ceder às suas instâncias, mas foi ele o primeiro a reconhecer que aquele estado de coisas não podia continuar. Escreveu-me então dizendo que se limitaria ao preparo de candidatos para a Sociedade, com a condição que nós mandássemos para a diocese um certo número de Irmãos em proporção ao número de candidatos que nos mandaria.
Senhor Bispo, a questão não está na recusa de começarmos o noviciado que V. Excia. deseja, mas no fato de que depois de termos refletido e maduramente examinado, chegamos à conclusão que não dará certo nas condições em que se acha o estabelecimento. Contudo, se V. Excia. persistir nas mesmas disposições, vamos experimentar, mas seria depois lamentável ver a obra esboroar-se ou, pelo menos, esmorecer.
Não seria preferível colocar provisoriamente o estabelecimento de Saint-Didier nas mesmas condições de funcionamento que o de La Côte, até que nos seja possível encontrar um local adequado, destinado unicamente ao noviciado? Seria uma situação mais ou menos igual à que nos está sendo oferecida em Vauban, pelo senhor bispo de Autun. Eu recearia expor demais a vocação de nossos postulantes, tirando-os de lHermitage para mandá-los a Saint- Didier. Aliás, para isso, seríamos obrigados a comprar o mobiliário ou transportar o de lHermitage para lá. Isto custaria muito, e nossos recursos não suportariam esse gasto atualmente, visto que as despesas quase duplicaram neste ano.
Peço, por favor, senhor Bispo, examine bem minhas ponderações. Submeto-as totalmente à discrição de V. Excia. A Sociedade de Maria lhe deve demais, tanto que estamos dispostos a tudo fazer, a tudo arriscar para provar a V. Excia. com que respeito, com que gratidão e atenção tenho a honra de ser, etc.
Champagnat

Edição: Marcelino Champagnat. Cartas - SIMAR, São Paulo, 1997

fonte: Daprès la minute, AFM, RCLA 1, pp. 157-158, nº 201, éditée dans CSG 1, p. 296, et dans AAA pp. 296-297

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