Antonio Castagnetti Morini, fms Reitor da Universidade Marcelino Champagnat de Lima, Peru

25.09.2003

UMA OBRA HUMILDE DE GRANDE SIGNIFICADO HUMANO

Ir. Lluís Serra

O Irmão Antonio Castagnetti, 82 anos, nasceu em Reggio Emilia, Itália. Teve dois irmãos que foram Irmãos Maristas e já faleceram, e duas irmãs salesianas, das quais uma ainda vive na Itália. Depois de concluir sua formação inicial em Gassino e Grugliasco, foi enviado ao Peru em 1939 e desde então ali viveu, com apenas dois interrupções: uma como professor no Juvenato Hispano-americano de Valladolid (Espanha) e outra nos Estados Unidos. Após estudar física e química, doutorou-se em Educação pela Universidade São Marcos de Lima. Possui um Mestrado em Psicologia pela Universidade Colúmbia de Nova Iorque. Foi Provincial do Peru. Hoje é Reitor da Universidade Marcelino Champagnat de Lima, Peru.

Os docentes estão revoltados e estão também de greve por uma semana (no momento da entrevista. Posteriormente o conflito se agravará). Têm eles razão em suas reivindicações?
Os professores são mal pagados. Precisam se qualificar para obter um título profissional. Penso que sobram professores, mas faltam professores bem preparados, honestos e com boa mística pedagógica.

Em 1990 foi criada a Universidade Marcelino Champagnat em Lima, com que finalidade?
A finalidade era a preparação de professores humanistas cristãos e ao mesmo tempo de professores de religião. Esta Universidade é o último passo de uma Escola Normal que começou em 1948 e que em 1983 se transformou no Instituto Superior Pedagógico, para finalmente converter-se na Universidade atual.

Que estudos ali se realizam?
Trata-se de uma universidade com apenas uma faculdade, a Faculdade de Educação, ainda que pela Lei de oficialização pode criar e oferecer outros estudos. Os níveis oferecidos são: Bacharelado universitário, Licenciatura (título profissional), Mestrado (dois anos depois da licenciatura) e Doutorado. Os alunos saem com duas licenciaturas, uma corresponde a uma especialização em pedagogia (Inicial, Primária, Bioquímica, Fisico-matemáticas, Língua e literatura, Psicologia, Filosofia, Ciências histórico-sociais?)e outra em Ciências Religiosas. Licenciaram-se mais de 3.000 professores de religião.

Quantos alunos têm a Universidade?
Total de 430 alunos seguem cursos regulares aqui, no centro de Miraflores, e 1000 nos cursos a distância com períodos de escolarização que compreendem seis semanas por ano durante sete cursos. Na Sede Central de Lima se prestam todos os exames e o resto corresponde a um trabalho a distância. Não queremos crescer demasiadamente para continuar oferecendo um serviço qualificado, mas estamos abertos a outras possibilidades.

Destes últimos quero falar um pouco mais porque, conforme tenho entendido, são pessoas disseminadas por toda a geografia peruana e especialmente líderes educativos e pastorais no interior ou em lugares quase inacessíveis.
Vêem de todas regiões do Peru e de distintas etnias, tais como aguarunas, huambisas, chayahuitas, ashánincas. Reunimos líderes de comunidades cristãs, a líderes da área da saúde, muitos dos quais provêem do interior e trabalham em postos de missão. Para que sejam acolhidos em Lima, temos uma residência para 350 pessoas onde oferecemos alojamento e comida por dois (2$ USA) diários. Esta gente é maravilhosa e trazem uma grande contribuição ao desenvolvimento humano e religioso nas áreas com grandes carências.

Que valores promovem entre os estudantes dentro de seu projeto educativo?
Todos aqueles que têm relação com o humanismo cristão, tais como a vida de família, a compreensão, o complemento, a responsabilidade, a seriedade nos estudos, o carinho, a presença. Tentamos irmanar espírito de família e prestígio.

Os alunos da classe social simples, têm aceso às aulas?
Chegam alunos dos grupos socialmente considerados C e D, isto é, da classe média baixa. Por exemplo, ninguém chega à Universidade de carro. Por outra, existe um sistema de bolsas diversas: bolsas médias, um quarto de bolsa e bolsas para os que trabalham. O horário é vespertino, das 16 às 17h, para facilitar os alunos.

Pelo visto, não vejo como sua universidade possa ser auto-suficiente do ponto de vista econômico. Como pode ser viável?
Efetivamente, há pessoas e instituições que contribuem financeiramente com a universidade, como a Adveniat, o arcebispado de Colônia, a Igreja de Sufre (Kirche in Not), CEI (Conferência Episcopal Italiana) e Conferência Episcopal Norte-americana. Tenham em conta que os textos se repartem gratuitamente e que se entregam aos alunos separatas para cada curso. Estamos falando de uns 80 livros para quem acabou a carreira.

Sua universidade goza de alto conceito?
Posso apresentar dois indicadores significativos. Primeiro, muitos colégios, tanto estatais como privados, solicitam professores de nossa universidade porque percebem uma boa preparação dos mesmos. Segundo, não gastamos praticamente nada em publicidade. É o que se fala, tanto para dos cursos regulares como dos cursos à distância.

Que papel tem a investigação na universidade?
Trata-se de um ponto que desejaria reforçar. Há 23 pessoas que concluíram os cursos de doutorado e em junho se apresentam as três primeiras teses, das quais duas são de Irmãos Maristas. Estou satisfeito com os Congressos de Educação Católica que realizamos aqui. O último foi em fevereiro de 2002 sobre ?Jesus Cristo: a violência dos pacíficos?.

Qual deve ser, na sua opinião, o perfil dos futuros educadores?
Desejamos formar pessoas honestas, trabalhadoras, cristãs, patriotas, humanistas, cultas. Tudo isso é mais difícil porque em nossa formação devemos sanar o déficit que tiveram os alunos nas etapas anteriores (alguns nunca tiveram um livro durante seus anos de estudo). Queremos dotá-los também de ética profissional e estimular o sentido místico da educação.

Quantos Irmãos trabalham na universidade?
Concretamente cinco. O total de professores da universidade gira em torno de 60.

O Irmão Emili Turú, Conselheiro geral, visitou recentemente sua universidade e afirmou que é uma obra da qual ?nos podemos sentir orgulhosos como maristas?. A que se referia ele?
Possivelmente pelo papel social que está cumprindo devido a seu compromisso por melhorar a educação do Peru através da formação de bons mestres e de bons catequistas ou professores de religião, e pela simplicidade de uma obra humilde de grande significado humano. Imagino também que se trata de uma tarefa multiplicadora já que o Peru tem necessidade de bons mestres e mestras. Há muitos jovens e as carências todavia são muito importantes.

Gostei da apresentação técnica de cada aula. Acabo de ver como o Irmão Marino Latorre leva suas aulas de História da Cultura utilizando vídeo, CD, power point, música, computador. A lição entra pelos olhos e os ouvidos.
Não se trata de entreter senão de ensinar melhor. Os recursos técnicos estão ao serviço de uma educação mais completa.

Seus 82 anos não tolheram a astúcia de seu olhar nem sua capacidade de sonhar um futuro melhor através da preparação de bons mestres e catequistas. Em seu laboratório há peças de artesanato peruano. Tem duas peças especiais feitas com restos de um carro-bomba explodido pelos terroristas na entrada do local. Uma é um Cristo crucificado. Outra, um monumento à paz, com uma pomba no topo. Uma paz que continua sendo necessária em muitas regiões do planeta.

ANTERIOR

I Centenário da presença marista - Argentin...

PRÓXIMO

O calendário marista par o mês de outubro -...