Entrevista com o Ir. Teo Grageda, Animador de uma fraternidade

22/02/2007

Está fazendo agora 20 anos que os irmãos da África inauguraram seu próprio centro de formação acadêmica, o Marist Internacional Center (MIC). Por seus bancos escolares já passaram algumas centenas de irmãos, que ali se prepararam para seu trabalho apostólico. Estão estudando atualmente no MIC 69 irmãos de 11 nacionalidades diferentes. Este numeroso grupo, cujos integrantes fizeram a opção de viver em comunidade, se organiza em pequenas fraternidades de 10 a 15 pessoas que vivem em uma mesma casa. Há sete destas pequenas casas e cada uma delas tem o nome de um dos lugares ligados às origens do Instituto: Maisonette, La Valla, Hermitage, ou dos santos maristas, como Champagnat, Francisco, Chanel, e também o nome de um santo africano, Carlos Luanga. Neste momento estão instaladas e funcionando cinco fraternidades. À frente de cada fraternidade tem um irmão que atende às necessidades do grupo que se abriga sob o mesmo teto. É o caso do Ir. Teo Grageda, mexicano, que está há muitos anos na África, e com quem estivemos conversando para conhecer a dinâmica de uma fraternidade de estudantes maristas.

AMEstaún. Você está à frente de uma das cinco fraternidades de estudantes do MIC. Quais são as suas funções dentro do MIC?
No grupo de formação do MIC somos três irmãos já um pouco veteranos na Instituição, e a mim cabe ser o animador de uma das fraternidades, a que vive na casa chamada de Maisonette. Ao mesmo tempo colaboro na animação das diferentes atividades apostólicas e trabalhos que são feitos pelos escolásticos ou nos grupos que animam a vida comunitária do MIC.

Eu vi que no MIC há sete pequenas casas ocupadas por cinco fraternidades.
Na realidade existem seis casinhas ocupadas. Cinco delas estão sendo ocupadas pelas fraternidades dos irmãos jovens e a sexta, que é a Champagnat, é onde residem oito irmãos da equipe de formação. É também o lugar onde são acolhidos os irmãos de passagem.

Ir. Teo. Todos os que vivem no MIC formam uma grande comunidade canônica, mas na prática vocês estão agrupados em pequenas fraternidades.
Esta estrutura nos ajuda na criação da fraternidade. Neste lugar, atualmente somos 82 irmãos, dos quais 69 são jovens irmãos e outros 13 irmãos integram a equipe de formação. Uma única comunidade de 82 irmãos não seria a melhor solução para ajudar na formação. Um grupo tão grande não é prático para a participação em reuniões comunitárias, para partilhar a oração diária, etc., porque é muito fácil se perder no meio da massa, e assim algumas pessoas passariam desapercebidas e seriam ignoradas no meio de tanta gente. Por isso se decidiu criar espaços para grupos menores, fomentando uma melhor convivência. Desta maneira, formamos o que chamamos de fraternidades e o objetivo delas é criar um ambiente de família, onde cada um seja considerado, receba atenção e se sinta acolhido.

À frente de cada fraternidade há um irmão formador, com a função ou a responsabilidade de diretor.
De acordo com as constituições maristas, todos nós religiosos que estamos aqui formamos uma comunidade e por isso temos um único superior. Mas na prática, nós os animadores das diferentes fraternidades, funcionamos como superiores das fraternidades para tudo aquilo que esteja relacionado com permissões, com as decisões do dia a dia, para sair de casa, regressar, sobre os assuntos econômicos e outros, mas tudo em relação ao pequeno grupo. Tudo isto é cuidado pelos irmãos animadores, que na realidade são os superiores dos irmãozinhos, ainda que não sejamos os superiores canônicos. Algumas vezes temos reuniões de todos os animadores das fraternidades junto com o superior da comunidade, para tratar da coordenação da vida de cada uma das fraternidades com a grande comunidade. O superior também nos visita uma vez por semestre, compartilhando durante uma semana a vida da fraternidade.

Cada fraternidade tem uma independência em sentido físico, porque tem a sua casinha, com sua sala de reuniões, seu oratório e, como previsto, um quarto individual para cada irmão. Como vocês se organizam nestes espaços?
De fato, a organização de uma fraternidade é muito parecida com a organização da grande comunidade. Todas funcionam com um horário muito semelhante. Dentro da fraternidade existem comissões, tais como a de liturgia, que organiza as orações e a distribuição dos irmãos e sua participação nas orações, a comissão de manutenção, que cuida de tudo o que acontece na casa, como por exemplo, a manutenção das bicicletas que temos em cada fraternidade e que servem para os deslocamentos, para irmos às bibliotecas, para fazer compras, etc. Há ainda a comissão que cuida dos visitantes e dos enfermos, procurando atendê-los da melhor maneira possível, e a comissão dos festejos, que organiza as diversas festas familiares e um passeio que fazemos uma vez por ano.

As refeições vocês fazem todos juntos, em um grande refeitório com uma cozinha comum, mas eu vi que as fraternidades também têm um pequeno espaço dedicado à cozinha.
Posso falar concretamente de minha fraternidade, pois existem algumas diferenças entre elas no que se refere à organização. As refeições de cada dia, isto é, o café da manhã, o almoço e o jantar, as fazemos todos juntos. No sábado cedo, o café da manhã se organiza na fraternidade. Temos a nossa pequena cozinha e nosso pequeno refeitório. Na cozinha, os irmãos trabalham em turnos que se revezam. Cada semana compete a um irmão preparar as refeições. É muito importante na vida da fraternidade o fato de compartilhar fraternalmente nossas experiências nos momentos das refeições. No grande refeitório a gente pode se perder no meio de 82 irmãos, mas na fraternidade tem-se a ocasião de compartilhar de maneira mais individual. Os domingos são dias muito particulares, pois o almoço se faz com todos juntos, até mesmo por questões práticas, mas o café da manhã e o jantar são feitos em cada fraternidade. É o momento em que os irmãos jovens, que são de diferentes países, querem preparar os pratos típicos de seus países.

De quais países são os irmãos de sua fraternidade?
Em minha fraternidade somos um total de 15 irmãos, contando comigo, e procedemos de 11 países diferentes. Eu venho do México e os outros irmãozinhos vêm de dez países diversos. São irmãos do Congo, Zimbábue, Madagascar, Angola, Camarões, Nigéria, Zâmbia, Libéria, Ruanda e da Costa do Marfim.

No dia que você prepara a comida, tenho certeza que põe muita pimenta.
Preciso ficar atento, porque não são todos os que gostam de pimenta tanto como eu.

Qual o idioma que vocês usam habitualmente para a comunicação?
É o inglês. As orações, as comunicações, tudo é em inglês. Anteriormente, em alguns momentos, era o francês. Por exemplo, em alguns dias rezávamos em francês, mas na realidade era mais uma prática de francês do que oração. Por isso optamos que se falasse tudo em inglês. Em muitas ocasiões são incluídos cantos em francês, ou nas línguas nativas (suahili), que é muito bonito. Temos um dia por semana em que nos ensinamos uns aos outros diferentes cantos, e desta maneira podemos animar nossa oração comunitária.

Os irmãos realizam alguma atividade apostólica fora do MIC, nas redondezas ou em bairros da cidade?
Sim. Estas atividades estão dentro daquilo que chamamos de prática formativa geral para todo o centro, planificada dentro da formação apostólica. Todos os irmãos jovens devem se comprometer a estarem presentes em diversos lugares.

Quais são as características de algumas dessas atividades?
Posso comentar o que fazemos para a promoção vocacional, que é o que me compete. Por esta razão estive empenhado no encontro de jovens da África com o Conselho geral, que se realizou em um final de semana, e para o qual colaborou um grupo de jovens irmãos do MIC.
O que nós fazemos na pastoral vocacional é visitar diferentes paróquias, juntando-nos com outras equipes de atividade apostólica, animando grupos de jovens ou ainda na pastoral de juventude nas escolas. Desta maneira nos fazemos conhecer. Além disso, organizamos retiros durante o ano, de maneira que os aspirantes ou quem estiver interessado em conhecer mais sobre a vida marista possam participar.

Qual é o desafio mais freqüente que vocês encontram na pastoral vocacional?
É o discernimento. A promoção vocacional neste centro é algo sobre o qual devemos estar atentos para fazer um discernimento profundo, porque na realidade devemos estimular que as pessoas descubram sua vocação à vida religiosa e não tanto uma vocação para estar no MIC.

Os irmãos estudantes estão presentes nos bairros pobres da cidade?
Sim, nos fazemos presentes ali para realizar a primeira evangelização, isto é, para preparar ao batismo, à primeira comunhão e à crisma, em duas paróquias. A paróquia de São Miguel está em um dos subúrbios onde vivem em torno de um milhão de habitantes, que é uma das maiores concentrações de pessoas no mundo, em uma das piores condições de insalubridade. A outra paróquia onde colaboramos é a de Cristo Rei, que é dirigida por missionários de Guadalupe. Nesta paróquia também trabalham as missionárias da caridade de Madre Teresa de Calcutá. Estes são os dois lugares aonde os irmãos vão.

Quais são as idades dos irmãos que fazem parte da sua fraternidade?
As idades oscilam entre 22 anos, o mais jovem, e 35 anos, o mais velho.

Eu vi que cada uma das casinhas tem o nome de um dos primeiros lugares maristas. Como se vive na África esta relação com os lugares maristas que ficam tão distantes geograficamente?
Estes temas estão sendo tratados no postulantado e no noviciado eles passam a conhecer ainda um pouco mais. Cuidamos para que cada fraternidade ambiente sua vida com algo relacionado com o nome escolhido para ela. Maisonette passou a ser a fraternidade dos irmãos nos primeiros tempos. Este nome foi dado por um irmão dos Camarões, que relacionou a casinha com o Ir. Francisco. Maisonette foi a primeira de todas as construções. É uma construção diferente das demais. Quando você entra nela tem a sensação de estar em uma casa de família numerosa. As outras são feitas de forma muito prática. L?Hermitage é mais acolhedora e cômoda e se destina aos professores que nos visitam, ou quando estão presentes entre nós irmãos que passam uns poucos dias.

Como é a vida dentro de cada fraternidade?
Temos um projeto de vida da fraternidade. Dentro dele nos propomos um tema comum, que é para todas as fraternidades, e serve de motivação durante todo o curso. Este tema é escolhido por nós, os irmãos membros da equipe de formação.

Qual é o tema que vocês escolheram para este ano?
Este ano, temos como tema motivador, «O amor de Cristo nos impulsiona». Feita esta proposta de objetivo comum, cada fraternidade decide como torná-lo prático em nossa vida durante todo o ano e deve organizar a sua própria estratégia concreta. Este ano, temos como iniciativa a organização de grupos de oração, de até três, em alguns dias e dentro da fraternidade. Na última quarta-feira de cada mês rezamos na intenção das famílias de cada um de nós, pois não nos desinteressamos por aquilo que está ocorrendo em cada uma de nossas famílias, além de que desta forma nos conhecemos melhor e estimulamos a relação fraterna.
Temos também um momento de intercâmbio fraterno às quartas-feiras à noite. Todos os membros da fraternidade, às dez horas da noite, nos sentamos na fraternidade para tomar o chá, para conversar, para jogar baralho ou outros jogos de salão. Como você pode ver, a vida aqui é facilmente dominada pelos estudos e com facilidade cada um pode se fechar no escritório ou no seu quarto e assim aconteceria que não nos veríamos durante todo o dia. Uma casa como a nossa, com tantas portas, é muito fácil acontecer que nos distanciemos e não nos vejamos, por isso nos colocamos de acordo para criar espaços onde possamos trocar idéias sobre o que está acontecendo no meio de nós.

Que tipo de estudos os irmãos fazem em sua fraternidade?
Eles estão dentro dos programas do MIC. Todos estudam para obter um título na área de educação, para serem educadores. E há diversos ramos, como por exemplo, o da matemática, onde eles se preparam ao mesmo tempo para serem professores de religião e de matemática. Há quem estuda história, para ser professor de religião e história, ou a geografia, o inglês. Dessa maneira, todos saem com o título de professor para atuar em duas áreas: professor de religião e de matemática, ou de história, ou de geografia, ou de inglês. Em todos os setores há duas matérias catequéticas.

Estes títulos têm validade em todos os países de onde procedem os irmãos?
Não exatamente em todos. Na maioria sim, em quase todos. Em alguns deles devem revalidar algumas matérias. Antes os nossos títulos tinham o respaldo da Universidade Urbaniana, de Roma, mas agora ele vem sendo dado por uma universidade queniana, o que significa que o reconhecimento é maior e os títulos são validados em todos os países, principalmente naqueles dos bispos do centro e do sul da África.

A aceitação é maior da parte da Igreja ou da parte dos Estados?
Sim, a Igreja reconhece os títulos. A universidade que temos aqui em Nairobi, tem sete mil alunos e está crescendo constantemente e é muito bem aceita em todos os lugares. Mas, certamente mais no campo eclesial do que no estatal.

Até agora o centro de estudos tinha sido o Marist Internacional Center e de agora em diante é Marist International College. Quais são as conseqüências disto?
Sim, é fácil fazer uma diferenciação. O que temos aqui é o centro. O centro envolve a comunidade e o college, enquanto que, o que é do college, faz referência unicamente à questão acadêmica. No mundo marista, continuar falando do MIC como centro internacional é válido, enquanto que o alcance do college faz referência exclusivamente à sua estrutura acadêmica. Agora ele fica aberto a muitas pessoas de fora.

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