Reflexão sobre os novos caminhos da formação de hoje – Reunião em Roma dos formadores do pós-noviciado

08/03/2007

De 19 a 23 de fevereiro estiveram reunidos em Roma um grupo de irmãos responsáveis pela formação marista do pós-noviciado, que é também chamada de etapa 1. Esta foi a primeira vez que se realizou este tipo de reunião. Conversamos com o Ir. Teófilo Minga, secretário da comissão para a vida religiosa, que foi aquele que coordenou os trabalhos desta reunião.

AMEstaún. A quem se deve esta iniciativa? Quem suscitou este encontro?
Teófilo Minga.
Deve-se precisar que esta é uma reunião de formadores do pós-noviciado 1, e que faz referência aos três primeiros anos de formação depois do noviciado. A reunião foi promovida pela comissão da vida religiosa, depois que meu antecessor, o Ir. Ernesto Sánchez, tinha visitado todas as casas de formação do Instituto, como secretário desta comissão. As observações feitas pelo irmão e suas reflexões posteriores aconselharam a realização desta reunião com os formadores de todo o mundo, representantes deste nível de pós-noviciado 1, para procurar estabelecer uma formação comum no mundo marista.

Quantos irmãos, que ainda estão em processo de formação, são atendidos por estes irmãos formadores?
Vieram para esta reunião 15 irmãos. Estavam inscritos 16, mas um deles não pôde vir. Em termos gerais, estes irmãos são responsáveis pela formação de aproximadamente 160 jovens irmãos que participam do processo do pós-noviciado 1.

Mas, eles estão espalhados por todo o mundo…
Muito espalhados e com uma divisão muito desigual. Eu tenho aqui os dados. Por exemplo, cito os grandes blocos dos escolasticados institucionais, que são o MIC e o MAPAC: o primeiro tem 34 escolásticos e o segundo uns 70. Mas temos também vários escolasticados que, digamos, são de tamanho médio, como os do Brasil e do México, que têm em torno de uma dezena de irmãos em cada um. Temos também escolasticados em que temos a proporção de um formador para cada escolástico, como é o caso agora da Europa e da Austrália.

A reestruturação das províncias levou também a pensar em reestruturar os escolasticados? Existe algum escolasticado que poderíamos chamar de «internacional», por ser constituído de irmãos de várias províncias e de várias nações?
Um dos pontos importantes da discussão que mantivemos durante o encontro, do intercâmbio de idéias que fizemos, foi o fomento da prática da intercultura, que se promove cada vez mais por toda parte, e não apenas nos escolasticados, mas também nos noviciados.
Respondendo à sua pergunta, eu diria que os dois grandes centros internacionais, o MIC, que acolhe os escolásticos da África, e o MAPAC, que atende praticamente a todos aqueles da Ásia e do Pacífico, são escolasticados internacionais. As demais províncias solucionam seus problemas de acordo com a situação de cada país ou região.

Quais foram os objetivos que vocês se propuseram neste trabalho com o grupo internacional?
Nós nos propusemos cinco objetivos, embora nem todos tivessem a mesma importância. Primeiro, queríamos compartilhar, com os 15 irmãos que vieram participar, sobre a diversidade dos planos de formação nos vários escolasticados, para chegarmos a definir alguns pontos convergentes, que talvez sejam necessários. O segundo objetivo era obter uma visão mais clara sobre as distintas etapas da formação, do noviciado e do pós-noviciado 2. Queríamos também discutir sobre algumas inquietudes concretas que o Conselho geral tem em relação a esta etapa de formação. Para isto havia um documento que todos os formadores tinham recebido, e que serviu de base para as discussões. Finalmente, um ponto mais concreto, que era o de fazer uma avaliação da utilidade que pode ainda ter hoje o Guia da formação.

Nesse momento, como está caminhando a formação marista nesta etapa que está sendo focalizada pela atenção dos formadores?
A partir dos dados que nos foram trazidos pelos grupos, nesta etapa existem alguns novos aspectos, que talvez nós não tenhamos vivido há 20 ou 25 anos atrás em nossa formação, e dizem respeito principalmente às circunstâncias que condicionam os jovens de hoje e sua maneira de ser. Deve-se conhecer em profundidade e claramente o que é a juventude de hoje, conhecê-la bem, estarmos conscientes dos desafios que tudo isso representa, ter sempre presente algumas coisas que já comentamos anteriormente, como os aspectos intercultural e intercongregacional. Deve-se também considerar como importantes alguns problemas, tais como a afetividade e a sexualidade, aos quais se procurou dar uma especial atenção durante este encontro.

Durante esta etapa, parece que prevalece em quase todos os escolasticados a idéia de que os jovens irmãos devem se qualificar profissionalmente, estudando e se preparando no nível secundário ou no universitário. Esta é uma tendência generalizada ou se apresenta somente em alguns escolasticados?
Isto é o que vemos praticamente em todos os escolasticados e foi um dos pontos sobre os quais esteve focalizada a atenção de todos os participantes da reunião. Sabemos que os objetivos previstos no Guia da formação, para a etapa do pós-noviciado 1, são a formação religiosa, além de continuar e consolidar os estudos bíblicos, a formação marista, isto é, os núcleos da formação religiosa. Mas, por outro lado comprovamos que, seja pelas possibilidades de cada escolasticado, seja pela vontade dos próprios irmãos provinciais, também nesta etapa se insiste cada vez mais sobre a formação profissional. Desta maneira se vê um pouco de tensão entre estes dois pontos, isto é, entre uma maior formação religiosa marista e uma formação profissional. Certamente as duas não estão em contradição, mas há uma tensão entre elas.

Esta tensão entre a formação profissional e a formação para a missão está suficientemente equilibrada?
É aqui que estamos encontrando o desafio. Gostaríamos que existisse certo equilíbrio e queremos obtê-lo nestes dois ou três próximos anos de formação, como algumas províncias já conseguiram. Os jovens irmãos devem estar bem preparados para a missão e, ao mesmo tempo em que deverão descobrir a dimensão internacional da missão, não poderão esquecer e consolidar a formação religiosa. Uma formação religiosa deficiente certamente não ajuda à perseverança do jovem irmão. Eles devem estar preparados para a missão, mas ao mesmo tempo devem pensar que é uma missão que vai muito além das fronteiras nacionais.

Você falou do Guia da formação como um ponto de referência. Atualmente este Guia já não está desatualizado?
Precisamos não esquecer que a primeira edição do Guia da formação já tem quase 21 anos, depois houve uma segunda edição há 12 anos, o que significa que já se passou muito tempo desde que ele foi elaborado. A idéia central deste grupo era de que se deve atualizar o Guia, aperfeiçoando-o, mas fazendo sempre uma distinção entre «como» deve ser a formação e «em que» deve ser modificada. Naquilo que se refere ao «em que» deve ser atualizado o Guia, dizemos que apesar de tudo o consideramos ainda muito rico para os dias de hoje, embora deva ser atualizado, por exemplo, nos temas sobre a intercultura, o intercongregacional ou em outros, relativos aos problemas da afetividade, da sexualidade ou da relação entre o indivíduo, o subjetivismo, e a instituição. Insisto ainda que o Guia possua conteúdos muito valiosos e claros. Mas, onde deverá ser feita certamente uma grande mudança é no «como» da formação, ou seja, como atualizar e propor aos escolásticos a formação apresentada no Guia. Os escolásticos de hoje têm outra sensibilidade, outra visão de mundo e de Igreja. Devemos estar atentos às novas visões que têm das coisas, às suas novas intuições, salvaguardando sempre que existem alguns valores não negociáveis na formação, que se situam além de todos os aspectos culturais. A cultura não pode suprimir a formação espiritual, o acompanhamento, o conhecimento da tradição marista, a vida de oração, a vida comunitária, para mencionar apenas alguns desses valores não negociáveis. Aqui terão que ser feitas grandes mudanças.

Depois das reflexões e das discussões que foram feitas durante estes dias, pode-se afirmar que no Instituto há uma convergência sobre os planos de formação nesta etapa? Existem idéias claras que se conduzem em uma mesma direção, ou há divergências?
Há muitas divergências. E este foi um dos pontos que discutimos. Se tivéssemos que resumir os cinco objetivos, de que falei anteriormente, em apenas um, seria aquele de encontrar linhas comuns de formação, sempre respeitando a diversidade. Mas, vimos que existem estruturas diferentes e difíceis de harmonizar. Um MIC, com 70 escolásticos, requer uma estrutura muito diferente de um escolasticado onde existem apenas um ou dois escolásticos trabalhando com um formador. Deve haver acentos diversos. Existem divergências, mas temos o propósito de continuar buscando linhas convergentes de base.

Esta foi a primeira reunião dos irmãos para refletir sobre o momento presente da formação no âmbito do pós-noviciado. Está previsto dar uma continuidade a este espaço de reflexão? No futuro, como se fará o seu prosseguimento?
Na avaliação feita pelos participantes do encontro não se falou em dar continuidade a este tipo de reunião. O que se propôs é que sejam organizadas reuniões semelhantes a esta, mas com a participação de grupos distintos, como por exemplo, dos mestres de noviços ou dos irmãos que trabalham com os formandos que estão no pós-noviciado 2. Assim, poderiam ser definidos mais claramente os objetivos da formação e de sua continuidade, mas sobretudo para salvaguardar o que é fundamental na formação marista.

Este encontro foi a primeira atividade que você organiza, desde que assumiu a responsabilidade do secretariado para a vida religiosa. Qual é o seu plano de trabalho, previsto para o futuro nesta nova responsabilidade?
Sim, foi a primeira atividade. Eu vim aqui com um pouco de medo. Você já sabe que eu estava dentre os primeiros irmãos que participaram da Missão Ad Gentes, em Davao. Estava muito contente ali, mas vim a Roma para servir o Instituto, apesar de ter-me custado esta mudança. Minha atividade no futuro se desenvolverá em três direções. Em primeiro lugar, fazendo o acompanhamento e apoiando os irmãos na formação inicial, atribuições que herdei do Ir. Ernesto Sánchez. Segundo, dar continuidade aos cursos de formadores que se realizaram em Nairobi e à formação contínua em geral. E, em terceiro lugar, e o que me pedirá mais tempo, principalmente no próximo ano, será difundir, tornar conhecido o documento sobre a espiritualidade marista. Este documento será editado em quatro idiomas, no final de junho deste ano de 2007, e a partir dele se deverá desenvolver todo um plano para coordenar o Ano da espiritualidade marista, previsto para 2008, em preparação ao Capítulo.

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