Um ano sobre a espiritualidade marista – Entrevista com o Irmão Téofilo Minga, Secretário da Comissão de Vida Religiosa

29/11/2007

O Irmão Téofilo deu uma entrevista ao semanário ?Noticias de Chaves?, quando passou em Lisboa em fins de Setembro de 2007. Na entrevista faz uma apresentação do ?Ano de espiritualidade marista? e do livro ?Água da Rocha? recém aparecido. Das suas declarações destacamos alguns parágrafos mais significativos para o nosso Boletim.

Notícias de Chaves ? Um ano em Roma, Irmão Teófilo. Como tem sido?
Teófilo
? Foi um ano de adaptação. De uma vida mais activa desenvolvendo algum trabalho apostólico numa comunidade ou numa escola passei a uma vida mais parada (só em parte) de trabalho sobretudo em escritório. Digo ?só em parte? porque o meu trabalho em Roma exige que de quando em quando me desloque a animar algumas actividades no próprio terreno relacionadas com a minha Comissão. A divulgação do documento no mundo marista cai sob a alçada do meu Secretariado, mas é evidente que não sou eu só a fazer essa divulgação: trabalho numa equipa de cinco (5) irmãos.

Na sua resposta encontramos elementos para várias perguntas. Pode dizer-nos qual é o título desse documento e falar-nos de algumas das suas actividades.
O documento tem por título: ?Água da Rocha? ao qual se junta o subtítulo: ?Espiritualidade Marista que brota da tradição de Marcelino Champagnat?.
Gostaria de chamar a atenção dos leitores para o subtítulo. A expressão ?Espiritualidade Marista? é qualificada depois pelo facto de ?brotar da tradição de Marcelino Champagnat?. É importante este pormenor porque na Igreja existe mais de uma ?espiritualidade marista? no sentido de que há várias Congregações Maristas. Menciono aquelas quer mais frequentemente estão ligadas ao mundo e à história dos Irmãos Maristas: os Padres Maristas, as Irmãs Maristas, as Irmãs Maristas Missionárias. Ora todas estas Congregações que têm muito de comum na sua fundação e na sua história não têm necessariamente uma espiritualidade comum a 100%. Há aspectos diferentes. No livro em questão Água da Rocha é claro que só nos referimos à espiritualidade dos Irmãos Maristas fundados por Marcelino Champagnat. É uma espiritualidade que brota da tradição de Marcelino Champagnat e não da tradição dos fundadores dos outros ramos da família religiosa marista.
É evidente que partilhamos com todos os outros ramos maristas, assim como com os Leigos maristas e os Leigos em geral, esta nossa espiritualidade. Ela é um dom para a Igreja e não apenas para a Congregação dos Irmãos Maristas, mesmo se ela passa para a Igreja a través da Congregação.

Em que consiste concretamente esse ?Ano de Espiritualidade Marista??
O objectivo geral será dar a conhecer o livro de espiritualidade agora publicado ?Agua da Rocha?. Este objectivo geral desdobra-se depois em objectivos específicos para serem vividos e rezados ao longo de todo o ano. Queremos pois que todos os Maristas, Irmãos, Leigos, Associados e simples amigos e colaboradores redobrem de empenho para viver, conhecer, divulgar e amar a Espiritualidade Marista. Isso pode fazer-se de diferentes modos: retiros, reflexão de fins-de-semana, trabalhos de grupo, estudos a apresentar em seminários, recolecções, colóquios?

Parece que entramos no coração do seu trabalho para 2008. Pode dizer-nos quais são os objectivos específicos para esse Ano de Espiritualidade?
São cinco fundamentalmente:
1. Aprofundar a espiritualidade marista que é mariana e apostólica.
2. Viver a espiritualidade marista de maneira mais vibrante e torná-la mais conhecida e amada.
3. Dar continuidade à primeira chamada do XX Capítulo Peral que pedia aos Irmãos e aos Maristas em geral de centrarem as suas vidas em Jesus Cristo.
4. Criar processos de formação espiritual que possam continuar muito para além do ano 2008.
5. Proporcionar uma estrutura que facilite o conhecimento do texto ÁGUA DA ROCHA e a capacidade de o difundir de maneira efectiva no Instituto.

Já várias vezes fez referência ao livro sobre a Espiritualidade Marista recentemente publicado. E pouco mais sabemos do que o título ÁGUA DA ROCHA. De que se trata concretamente?
Apesar de ser um ?livrinho? de apenas 117 páginas, ele é de grande importância para todo o mundo marista. Os Irmãos e os Leigos Maristas esperavam este livro com alguma ansiedade desde algum tempo. Desde os tempos do Fundador em termos de espiritualidade havia um pequeno livro para todo o Instituto que estava francamente desactualizado. Chamava-se ?Manual de Piedade?. O documento ?Água da Rocha? recentemente publicado, pela primeira vez na História da Congregação sintetiza e sistematiza as grandes linhas e as grandes características da Espiritualidade Marista. Este livro vem colmatar um desejo e uma necessidade que se fazia sentir no mundo marista HOJE: um livro que apresentasse de uma maneira simples o que é a Espiritualidade Marista. De facto um livro assim tinha sido pedido à Administração Geral pelo anterior Capítulo Geral, em 2001. Uma Comissão Internacional, representativa de todos os Continentes, foi nomeada com Irmãos, duas mulheres leigas, uma das Filipinas outra da Holanda, e uma Irmã Marista. Trabalharam durante 4 anos e o resultado está à vista. Decerto modo é um marco na História da Congregação. Mais de 35.000 cópias serão publicadas em varias línguas, sendo as mais importantes as quatro línguas oficiais do Instituto Marista: português, espanhol, francês e inglês.

O que diz aguça a nossa curiosidade. Poderia sucintamente apresentar o livrinho pois em Chaves há muitos Leigos Maristas para já não falar das inúmeras vocações que saíram desta zona em tempos passados?
Será o meu trabalho essencial em 2008 durante o ano da Espiritualidade Marista. Faço-o com todo o gosto para os inúmeros leitores de Notícias de Chaves e para os muitos conhecidos e amigos que tenho neste cidade. Será um meio original de o fazer, já que não terei muitas vezes a oportunidade de o apresentar através jornais. A estrutura do documento é a seguinte:

1. Uma palavra de apresentação do Superior Geral dos Irmãos Maristas, Irmão Seán Sammon. O Irmão Superior Geral termina a sua apresentação fazendo referência a dois poderosos símbolos maristas que se encontram precisamente no título: o rochedo e a água tão presentes em L?Hermitage que com La Valla forma o berço do Instituto. A apresentação é feita aos Irmãos e aos membros da Família Marista.
2. Uma Introdução ao documento feito pela própria Comissão que redigiu o documento. Em breves traços a Comissão apresenta o que é a Espiritualidade Marista, os marcos do desenvolvimento dessa Espiritualidade e sugestões para ler e rezar o documento.
3. Seguem-se os quatro (4) Capítulos do documento e uma última parte a que propositadamente não se chamou ?CONCLUSÃO?. Não há uma conclusão. A Espiritualidade é dinâmica: tem elementos fundamentais que não mudam mas que podem ser vistos e vividos de maneira diferente ao longo dos tempos e nas diferentes culturas.
4. Depois dos Capítulos e da última parte seguem-se umas perguntas para reflexão sobre cada capítulo. É evidente que estas sugestões não querem matar a criatividade que esperamos vai aparecer no mundo marista. Querem ser apenas uma ajuda para começar o trabalho sobre o documento e talvez ajudar a criatividade de muitos outros ao estudar o documento.
5. Logo depois encontram-se as notas do documento. O documento não é um estudo científico ou exegético sobre a Espiritualidade marista. A orientação do documento é pastoral e, claro, espiritual. Contudo a seriedade da Comissão não pode ser posta em causa e procurou em todo o tempo e lugar dar as referências dos documentos utilizados. Isso salva a ?verdade? do documento e permite a quem quiser aprofundar os temas abordados a possibilidade de ir às fontes que a própria comissão utilizou.
6. O documento termina com um glossário sobre termos, a maioria dos quais do mundo marista. Não se trata necessariamente de termos complicados. E se o documento fosse só para Irmãos Maristas muitos dos termos do glossário poderiam desaparecer porque são da nossa vida de todos os dias. Não acontece assim ainda com os Leigos Maristas. Daí a necessidade de explicar mais detalhadamente muitos termos que para os Irmãos são conhecidos.

Pelo que nos diz então o vosso livro sobre a Espiritualidade Marista ?AGUA DA ROCHA? parece ser bastante original e criativo?
Tem toda a razão. Repare em primeiro lugar que é um livro de ?Espiritualidade? e não um livro de ?Piedade?. Há uma diferença grande entre as duas palavras embora tenham aspectos que se entrecruzam. Uma pessoa ?piedosa? no melhor sentido da palavra pode ser profundamente espiritual. Se a tomamos no sentido bíblico a palavra piedade conduz a uma espiritualidade que se desenvolve na ?oração? e na ?missão?. Mas não quero entrar em aspectos bíblicos muito detalhados para mostrar a relação entre as duas palavras. Poderia cansar os leitores e exigiria muito espaço do jornal que certamente não me pode dar.
Mas simplificando as coisas um pouco dir-lhe-ia que este livro substitui outro com mais de 100 anos de existência e que modelou a vida espiritual e de oração de muitas gerações de Irmãos Maristas no passado. Estou a referir-me ao Munuel de Piété (Manual de Piedade) publicado em 1855 (cf Água da Rocha, pag 17). Como era de esperar esse documento sublinhava mais as orações e até as devoções que os Irmãos Maristas deviam fazer ao longo do dia ou da semana. Tudo era muito estruturado, até mesmo o horário da oração. Por outras palavras apresentava mais o que podemos chamar hoje algumas ?práticas piedosas?.
O documento Água da Rocha não se detém nesses detalhes (que hoje até nos poderiam fazer rir, mas que devemos respeitar como uma expressão da oração daquele tempo) e lança-se, como vimos anteriormente num fundamento mais bíblico da espiritualidade ?esquecendo? essas ?práticas piedosas? muito pormenorizadas. Isso não quer dizer que o documento não nos apresente alguns elementos que também podem ser considerados como ?práticas?, muito ligadas mesmo à tradição marista. Aliás é com essa palavra que o documento se refere a esses elementos no nº 79: ?Actualmente, algumas práticas são essenciais para alimentar a nossa vida de fé como Maristas?: a Lectio divina ou Meditação da Palavra de Deus; a oração pessoal; a Revisão do dia; a oração em comunidade; a partilha da fé; o acompanhamento; a celebração eucarística e a reconciliação.

Como pretendem os Maristas divulgarem o documento que parece ser de uma importância capital na história da Congregação Marista pelo que tem vindo a dizer?
De uma maneira simples o documento vai ser divulgado como se divulgam tantos outros documentos: através de seminários, retiros, encontros de fim-de-semana, orações feitas a partir do documento, conferências, mesas redondas, colóquios… Temos mesmo em algumas partes do Instituto o que chamamos ?Redes de Espiritualidade Marista? cuja função é reflectir, aprofundar e divulgar através de encontros e retiros a nossa Espiritualidade. A partir de agora usarão como elemento de base para as suas actividades o documento Água da Rocha. As mais importantes ?Redes? são a do Sul da Europa e a da América Latina.

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