14 de outubro de 2004 MéXICO

UM CENTENÁRIO

O Irmão J. Jesús Sánchez Cobián nasceu num pequeno povoado rural ao sul de Jalisco, São João de Amula, no seio de uma família profundamente cristã dedica ao trabalho do campo. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas dois anos. Desde muito cedo o jovem Jesús se dedicou ao trabalho do campo.

Eis aqui o relato que ele mesmo faz de sua vocação.

?Aos 17 anos, enquanto arava uma plantação de milho, eu perguntava a Jesus e a Maria, qual seria a minha vocação. Em 1921, enquanto eu ia à missa da quinta-feira santa, lhes pedi que me dissessem qual seria a minha vocação. Eles nada responderam. Porém, no dia seguinte, sexta-feira santa, ouvi claramente duas palavras: ?Irmãos maristas.? Senti-me muito seguro ao ouvir isso. Guardei silêncio durante a sexta-feira, o sábado e o domingo. Na segunda-feira pela tarde, eu disse para minha mãe: ?vou ser Irmão marista.? Ela me sorriu e disse: ?filho, você não serve para isso.? Insisti, e ela me disse: ?vai conversar com o padre para que ele lhe ajude.?

Nessa mesma tarde fui encontrar-me com o padre e ele me disse: ?Que tolice! Melhor será você se juntar aos seus irmãos no seminário de Colima.? Eu lhe respondi: ?Para ser padre, não.? Discutimos durante algum tempo e ele me dizia sempre a mesma coisa. Eu lhe respondi: ?vou embora, já que você não quer me ajudar.? Foi então que ele me disse: ?quando o Irmão Pedro Damián passar por aqui procurando vocações, eu lhe avisarei para que trates com ele desse assunto.? Eu lhe agradeci e fiquei esperando que ele me avisasse.

Poucos dias depois o padre me chamou dizendo que o Irmão Pedro Damián havia chegado, e que eu fosse encontrar-me com ele para tratar do meu assunto.

Encontrei-me com o Irmão Pedro Damián que me indicou um pequeno texto, li algumas linhas e ele me disse: basta! Escute, eu estou indo a Limón, a Grullo e a Autlán. Enquanto isso você se prepara. Quanto eu voltar se você estiver pronto, eu lhe levarei.

Voltei para ver o Irmão quando ele regressou e me mandou chamar. Porém, ao chegar à paróquia onde se hospedava, disseram-me que ele já havia ido embora. No entanto deixou dito: hoje durmo em Tonaya e amanhã em São Gabriel. Eu pensei: amanhã passarei por Tonaya e o alcançarei em São Gabriel, mesmo que seja à noite. E assim fiz. No dia seguinte fui a São Gabriel e cheguei quando já estava escurecendo. Perguntei onde ficava a casa do padre. Em seguida dirigi-me para lá, e ao chegar, bati. Saiu o Irmão Pedro Damián que me disse: entrar, e para não incomodar o Sr. Cura, dormirás aqui; e juntou três cadeiras.

No dia seguinte subimos a serra até ao rancho La Manzanilla. Fomos à casa de uns amigos seus. No dia seguinte descemos a serra e chegamos a Sayula. (Todo esse caminho que fizemos foi a pé). No povoado de Sayula tomamos o trem até Guadalajara. Chegando ali fomos ao colégio dos Irmãos, e no dia seguinte, pela tarde, iniciamos nossa viagem para a Cidade do México. Chegamos ao amanhecer do dia seguinte. Eu não leva dinheiro comigo, e o Irmão Pedro pagou tudo. Fomos de bonde até Tlalpan, D. F., onde estava a casa de formação, e lá entrei como aspirante marista. (Até aqui o relato é do Ir. Jesús Sánchez Cobián)

-Como tinha poucos estudos, não iniciou seu postulantado imediatamente. Em razão da sua idade, também não lhe enviaram ao juniorato. Transcorria o mês de outubro de 1922.

Durante a festa do Natal de 1923, ele tomou o hábito marista e recebeu o nome de Ir. José Leandro. Durante a festa dos 25 anos da chegada dos Irmãos maristas ao México, 25 de dezembro de 1924, ele emitiu seus primeiros votos.

Durante o fechamento das casas de formação do México em conseqüência da perseguição religiosa de 1926, o Ir. Jesús foi para Cuba, onde assumiu a função de vigilante do internato de Cienfuegos.

Volta para o México e de 1927 a 1935 exerce seu apostolado tanto na Cidade do México como em Guadalajara, até que as leis perseguidoras contra as escolas católicas, obrigam-no novamente a viajar para Cuba, onde exerce a função de professor no colégio de Cárdenas, por 5 anos.

Durante o período de calmaria porque passava as leis perseguidoras do governo mexicano, o Ir. Jesús Sánchez volta a sua pátria, em 1940.

Em julho de 1945 começa seu longo período de trabalho como diretor e superior. De 1945 a 1949 trabalha como diretor do colégio de Cocula, um pequeno povoado de Jalisco.

Em 1949, durante a primavera, participa do curso de segundo noviciado em Gugliasco. Ao regressar, é nomeado diretor do colégio Morelos de Tepatitlán, em Jalisco. Ao terminar seu sexto ano de trabalho, é nomeado novamente diretor, desta vez para o colégio Hidalgo, em Cocula. Ao terminar, mais uma vez, vemo-lo como diretor novamente em Tepatitlán, até 1961.

Durante sua gestão em Cocula e em Tepatitlán, ele se distingue por sua preocupação em suscitar novas vocações, atividade na qual teve muito êxito.
Em 1961 é nomeado diretor do colégio Montejo Anexo, da cidade de Mérida. Esta é uma escola fundada por pessoas com poucos recursos financeiros.

Em 1967, o encontramos próximo de sua terra de origem, para onde foi nomeado para fazer parte da comunidade que trabalhava no colégio da Cidade Guzmán, Jalisco. No ano de 1970, passa a fazer parte de comunidade da cidade de Campeche, por sete anos. Nesta cidade, terra totalmente tropical, torna-se famoso por despertar a comunidade todas as manhãs com alguns acordes do seu acordeão e pelos mergulhos que dava no tanque do jardim, à meia noite, para liberar-se do calor e poder dormir. Mesmo que reclamasse que não conseguir ver bem, todas as manhãs ele ia até o centro do povoado para comprar o jornal, e chegando de volta, já o havia lido todo.

Durante curtos períodos de tempo passa sucessivamente pelas comunidades de Cidade Guzmán, Campeche, Guayamas, Guadalajara. Finalmente, em 1990, é nomeado para fazer parte da comunidade de Sisoguichi, na Serra Tarahumara. Continua sendo uma pessoa sempre jovial, com um dom especial para fazer observações divertidas. Porém, pouco a pouco sua saúde vai se ressentido com o peso da idade e os rigores do frio da Serra Tarhumara.

Em 1997, com grande pesar, lhe é pedido que passe a fazer parte da comunidade da Casa Champagnat, de Morelia.

Temos um Irmão com grande claridade de pensamento, sempre alegre, escrevendo poesias. Vive em uma grande solidão porque sofre de uma surdez quase total. Passa seus dias sobretudo rezando: vários terços durante o dia e visitas ao Santíssimo sacramento. Parte do tempo consagra às leituras e escrevendo poesias.

Seu caminhar é muito lento, porém consegue manter-se em pé. Sempre pontual. Bom apetite. E como disse antes, sempre de bom humor e tecendo comentários jocosos.

No próximo dia 15 de outubro fará cem anos desde que viu a luz pela primeira vez, e no dia 25 de dezembro, completará 80 anos de entrega ao Senhor através dos três votos religiosos.

Com freqüência ele gosta de fazer contas das vezes que participou da Eucaristia ao longo da vida, e com esses números procura estimular os Irmãos a viverem o dia a dia da eucaristia.

Don Jesús, como é conhecido em Tepatitlán e cocula, nos unimos a você para dar graças a Deus por estes primeiros cem anos de vida, por todas as graças que ele lhe agraciou. Nós Irmãos damos graças a Deus por nos ter dado um Irmão à moda antiga, profundamente enamorado de Jesus, da eucaristia e de nossa Boa Mãe.

Feliz aniversário e que se repita ainda por muitos e muitos anos.

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