A nova terra (1)
O documento do XXI Capítulo geral ostenta na capa o título: ?Com Maria, ide depressa para uma nova terra!? Ele retoma muito bem o que os Capitulares chamaram de ?Apelo fundamental?. E é muito significativo e bonito, para nós Maristas, que esse apelo seja colocado sob a proteção de Maria, a primeira missionária de Cristo.Permanece o mistério dessa « nova terra » para a qual é preciso partir, depressa. Resta-nos descobri-la. Essa nova terra é como uma utopia, a estrela dos magos, capacidade de sonho com a porta aberta para o futuro. Ela seduz, atrai e suscita energias novas. Também para Abraão a ?nova terra? era uma grande incógnita. Mesmo para o povo de Israel a ?terra prometida?, de início, foi igualmente ?uma utopia? cujo primeiro fruto foi o de formar, do que não passava de um amontoado de pessoas, um povo, o povo de Deus. Os magos, por sua vez, acreditando em sua estrela, colocaram-se na estrada, rumo a uma nova terra, mas na qual os esperava o Rei que acabara de nascer. Maria também vai ao encontro do sinal que Gabriel lhe dera, sem saber de todas as graças que a esperavam, na casa de Isabel. Essa capacidade de sonho emerge mais vezes no documento: ?Juntos, sonhamos nosso futuro e descobrimos o apelo fundamental que Deus nos faz hoje? (Doc. do Capítulo geral, p. 17). Essa realidade do sonho já estava muito presente em ?Água da Rocha?; o título da página 84 é significativo: ?E terão novas visões e sonhos.?« Nova terra? » E, entretanto, como Pascal faz Deus dizer: ?Vós não me procuraríeis se não me tivésseis já encontrado? temos a intuição de que essa ?nova terra?, de certa maneira, não nos é tão desconhecida; nela, nós já moramos. « Essa nova terra » é antes de tudo o Filho que se forma em Maria, absolutamente novo nela, e que ela vai descobrindo dia após dia, e nos traz a novidade eterna de um Deus, sempre jovem. Jesus é a terra nova, capaz de dar-nos ?céus novos e uma nova terra?. Jesus é o primeiro ao qual devemos ir depressa; ele é o primeiro a ser descoberto, o primeiro em quem devemos morar e a única nova terra que podemos desvendar a tantos outros, sobretudo aos jovens. Nesse caminho Maria é a primeira, e ela é a mãe, porque Jesus se deixa descobrir no amor. O seio que porta essa terra nova é a Anunciação, a corrida missionária, o Magnificat: Maria.Mas, se o caminho que conduz a Jesus é o amor, há outra terra para renovar, isto é, o nosso próprio coração. Jesus e Maria nos fazem penetrar em nossa própria interioridade, para que nossa vida se torne santuário do Senhor, rico do único tesouro que podemos oferecer aos outros. A reflexão do Ir. Emili, SG, ao apresentar o Documento do Capítulo geral, vai nesse sentido: ?Duvido muito que um desafio tão importante, em nível coletivo, quanto esse de ?ir depressa, com Maria, para uma nova terra? possa realizar-se se não houver, ao mesmo tempo, um deslocamento, um itinerário interior em cada um de nós.? Essa terra também já a conhecemos um pouco; e entretanto, quantos continentes por descobrir em nós mesmos. Maria, que fez de seu coração e de seu seio o santuário da Palavra, pode realmente nos guiar: ?Com Maria, vamos depressa para a terra nova de nossa própria interioridade?.Esse caminho para o coração é o roteiro que faz de nossa família ?uma nova terra?. ?Nova terra? para cultivar também, com muito cuidado, todos esses leigos maristas que se inspiram no documento ?Em torno da mesma mesa?. É um caminho interior. Nossa família pode tornar-se uma terra nova, cheia de possibilidades, se ela caminhar com Jesus, se ela se deixar inspirar por Maria, se souber renovar seu coração e torná-lo generoso.Giovanni Bigotto, fms