13 de novembro de 2014 SíRIA

A situação atual em Alepo

Reproduzimos uma entrevista realizada pela Rádio Vaticana no dia 5 de novembro de 2014 com o Ir. Georges Sabé. Nesta entrevista, o Irmão Marista fala da situação atual dos habitantes da cidade de Alepo, dividida há anos em dois setores, um nas mãos do exército do governo e o outro em poder dos rebeldes sírios.

Como se vive hoje em Alepo?

Hoje em dia a situação está bastante tranquila porque a cidade está dividida em duas partes. É impossível passar de uma a outra diretamente. É preciso fazer uma longa viagem para tanto. Viagem que levava antes de cinco a dez minutos e agora exige onze ou doze horas porque passamos de uma região à outra: uma região é dominada pelo governo e a outra nas mãos de elementos armados. Acontecem combates fora da cidade e bombas são lançadas em alguns distritos. Anteontem caiu uma bomba em um bairro cristão, atualmente desabitado. A população abandonou essa área porque passou a ser o objetivo de bombas e morteiros em alguns distritos. O povo está cansado. Depois de três anos de guerra, as pessoas não sabem como terminará. Quando e como tudo isso vai acabar? Além do cansaço, o povo tem medo. Durante as 24 horas do dia, em 23 ficamos sem energia elétrica. Passamos toda a semana sem internet. Graças a Deus voltamos a ter água, algo positivo.

Você disse que antes, por causa desta situação, muitos habitantes de Alepo escolheram o êxodo…

Lamentavelmente muitas famílias e muitos jovens abandonam a cidade quase diariamente. Há um sangramento impossível de estancar. Creio que esta hemorragia também provém do cansaço das pessoas porque o horizonte é incerto. Não se sabe aonde nos conduzirá tudo isso. Preferem emigrar aos países vizinhos na medida em que são aceitos. O Líbano atualmente cria muitos problemas para permitir o ingresso dos sírios. Há um grande contingente de refugiados sírios no Líbano.  A Jordânia também coloca muitas dificuldades. Há jovens que tentam fugir para a Turquia, Grécia e outros países da Europa por meios nem sempre legais. De qualquer modo, cada um faz o que pode para fugir. Há edifícios inteiros vazios na cidade. As pessoas abandonam suas casas, o que torna a situação mais difícil. 

Apesar da guerra, não há algum motivo de esperança?

A despeito de tudo, posso assegurar que há muitos sinais positivos, sinais normais de uma vida cotidiana, como escolas que funcionam, a universidade que continua com seus cursos, pessoas que têm trabalho e que podem se dirigir a ele. Há uma grande quantidade de frutas e verduras, os alimentos estão chegando. Acho porém que a ajuda internacional desacelera e se concentra em outras regiões mais problemáticas. Estamos em um momento em que a Síria não está mais na vanguarda de importância e interesse para a mídia nem para a política em geral. Isso cansa as pessoas. Estamos cansados. Não porque estamos assustados ou porque nos sentimos ameaçados… Mas quando tudo isso vai parar? Estamos resistindo há três anos. Podemos resistir mais, mas para isso precisamos de um horizonte mais claro que nos permita ter esperança de que voltaremos a ter paz. A solução não se resolverá com armas. Desgraçadamente, as armas causam muitas feridas nas famílias, nas pessoas. Quase todas as semanas acontece um funeral de alguma pessoa querida que morreu em combate ou em bombardeio de um e de outro lado.

Neste momento, a atenção dos meios de comunicação se concentra mais em Kobané, na fronteira com a Turquia. Em Alepo há também a ameaça do estado islâmico?

Esta é uma das nossas preocupações. O estado islâmico está nas portas de Alepo.  No momento, ainda não se movimenta, nem avança. Mas não está muito distante da cidade. A região da cidade sob o controle do governo não está diretamente ameaçada, por enquanto. Mas em nossas mentes esta ameaça existe. Há um medo interior que faz com que todos nos façamos a pergunta: “Será melhor fugir agora ou esperar até que ocorram acontecimentos dramáticos que nos obriguem a fugir como aconteceu em Mosul?”

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