26 de janeiro de 2015 CASA GERAL

A vida religiosa está em perigo?

(Aleteia.org – Míriam Díez Bosch)  Se não há vocações, o que vai acontecer com a Igreja? A resposta do Ir. Emili, Superior Geral, é clara e condiz com o Papa Francisco: isto não vai ocorrer, mesmo se “foram anos difíceis, de caminhar tateando”

O senhor esteve em encontros com o Papa Francisco, por que motivo, acredita o senhor, que dedicou-se o ano de 2015 à Vida Consagrada?

Acredito que esta resposta esteja na tradição de convidar toda a Igreja a prestar atenção em um determinado grupo ou a algum elemento importante de nossa tradição. Assim, por exemplo, se dedicou o ano 2009-2010 aos sacerdotes e o ano de 2012-2013 foi o Ano da Fé. Nesse caso, é um convite para que nós todos, membros do Povo de Deus, descubramos mais sobre a Vida Consagrada e nos aprofundemos no significado dela. A Vida Consagrada é, provavelmente, um dos grupos eclesiais que mais levou a sério o convite de renovação do Concílio Vaticano II e tem vivenciado, em um período de tempo relativamente curto, transformações formidáveis. Foram anos difíceis, de caminhar tateando, tratando de manter-se fiel ao chamado do Espirito Santo. Este período de transformação interna, pedida pelo Vaticano II, não está encerrado e por isso que acho muito positivo o Papa confirmar este esforço de renovação e convidar para a esperança. Como disse na Carta Apostólica para o Ano da Vida Consagrada: não se unam aos profetas de infortúnios que proclamam o fim ou a perda de sentido da Vida Consagrada na Igreja em nossos dias. Neste mesmo sentido, oferece os objetivos para este ano de 2015: olhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança.

A falta de vocações coloca em perigo a vida consagrada?

O Papa Bento XVI disse em 2010, que diante da diminuição dos membros de muitos institutos religiosos e do seu envelhecimento – evidente em algumas partes do mundo, muitos se perguntam se a vida religiosa consagrada seja, ainda hoje, uma proposta capaz de atrair os jovens. Contudo, observou, a Vida Consagrada tem sua origem em nosso Senhor, que escolheu para Si esta forma de vida casta, pobre e obediente. Por isso, a Vida Consagrada nunca poderá faltar nem morrer na Igreja: foi desejada por Cristo como parte irremovível da Igreja. A falta de vocações não anuncia o fim da Vida Consagrada, me parece mais o fim de uma determinada maneira de viver a Vida Consagrada. Creio que as dores atuais não são de agonia e sim de parto. Algo como uma crise de crescimento, da qual a Vida Consagrada sairá mais forte e mais evangélica.

Não acreditas que falamos com frequência das consequências e não suficientemente das causas desta falta de vocações? Quais acha que são?

Parto do princípio de que Deus continua chamando os jovens para a Vida Consagrada, portanto, mesmo correndo o risco de simplificar as coisas, diria que a falta de vocações se deve, basicamente, a duas razões: os jovens não escutam o chamado ou o que lhes oferece a Vida Consagrada não é interessante. Portanto, me parece que há um duplo trabalho: em primeiro lugar acompanhar os jovens e criar as condições para que possam escutar e aprender a discernir o chamado do Senhor e, em segundo, que os religiosos e religiosas vivam de tal maneira que possamos ser reconhecidos pelos jovens por nossa capacidade de risco e coragem, por nossa alegria, por nossa vivência da fraternidade evangélica, por nossa presença nas fronteiras e com os marginalizados, por nossa profunda espiritualidade…

O Papa Francisco é um religioso jesuíta. Qual é o sonho dele para este ano dedicado à Vida Consagrada? Como imagina Francisco a contribuição dos religiosos para a Igreja?

Há pouco mais de um ano, no encontro dos Superiores Gerais, estivemos com o Papa. Ele resumiu a própria visão de Vida Consagrada em uma linda expressão: desperta o mundo! Ao mesmo tempo, ele é membro de uma comunidade religiosa, portanto acredito que este despertar do mundo o podemos entender como a própria maneira como ele vive e não somente nas palavras. Não está o Papa despertando o mundo e também a muitos cristãos que estão cochilando desanimados? A proximidade calorosa e sincera a qualquer pessoa, especialmente àquelas que mais sofrem ou estão marginalizadas na sociedade; a vontade de viver a pobreza evangélica; a alegria contagiosa; a confiança na Providência de Deus; a audácia e a profunda liberdade interior; a paixão pela saída missionária da Igreja… Não são claras indicações do tipo de Vida Consagrada que o Papa deseja?

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Publicado originalmente em Aleteia.org
Livre tradução por Oniodi Gregolin – UMBRASIL

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