Carta a Marcelino

Pe. Jean-Baptiste Pompallier

1836-02-17

O Pe. Pompallier fizera uma visita à comunidade dos padres maristas de Valbenoîte para transmitir-lhes, de viva voz, as proposições de Roma com relação ao ramo dos padres, isto é, de que a aprovação estaria condicionada à aceitação das missões na Oceânia. Ele mesmo, o Pe. Pompallier, lançara o projeto de abrir a Congregação para as missões estrangeiras, o que acabou determinando o feliz resultado do processo de reconhecimento pontifício da Congregação. A liderança do Pe. Pompallier aparece clara e o apoio que lhe dá o vigário geral Pe. Cholleton fará com que, sem surpresas, ele seja o escolhido para ser o administrador apostólico do grupo dos missionários maristas, padres e Irmãos, que partiriam para as missões da Oceânia e cujos nomes, desde então, conforme o texto da carta, começavam a ser definidos.

V.J.M.J.
Lião, 17 de fevereiro de 1836.

Senhor superior:

Embora espere para breve a honra de ver-vos em lHermitage, apresso-me em dizer-vos e também pedir-vos coisas importantes e urgentes; é recomendação que o Pe. Cholleton me faz.

Primeiramente, desejais, sem dúvida, conhecer o resultado da minha viagem aos nossos confrades de Valbenoîte. Pois bem, todos tomaram as coisas em consideração e no espírito de Deus. Todos sentem as conseqüências vantajosas que vão resultar para a pequena e sofrida Sociedade, com a aceitação da missão oferecida pela corte de Roma. Todos fazem orações e reflexões para implorar as luzes do Espírito Santo e para escutá-lo em si, no tocante ao projeto e à própria vocação.

Em breve o Pe. Colin ou o Pe. Séon escreverá para dar a conhecer aquele ou aqueles que, plenos de confiança no socorro de Jesus e de Maria, experimentam o desejo de se dedicar à conversão dos infiéis que nos foram designados; um candidato, pelo menos, deverá ser de Valbenoîte.

Como segundo ponto, o sr. arcebispo acaba de receber outra carta de Roma, uma das mais tranqüilizadoras e encorajantes. Ela é do cardeal Sala, Prefeito da Sagrada Congregação dos Regulares. O cardeal não duvida de que obtenhamos de Sua Santidade o breve de aprovação, tão desejado, mas somente para o ramo dos padres. Além disso, assegura que o Santo Padre nos exorta vivamente a ir adiante com a empresa da missão da Oceânia. Como me alegro diante de Deus por ter aceito, desde o princípio, os trabalhos dessa missão e assim ter provocado toda a Sociedade a se dedicar a tal obra. Essa aceitação, segundo a minha previsão, deve apressar e quiçá assegurar a nossa aprovação, objetivo principal dos nossos anseios comuns. Sem demora tomareis conhecimento dessa carta valiosa.

Como terceiro ponto, rogo que o Pe. Servant escreva ao Pe. Cholleton para manifestar-lhe a sua intenção de dedicar-se às missões, com a qual conto de maneira certa . Dignai-vos, também, respeitável confrade, designar-nos três ou quatro Irmãos, para que, de comum acordo, possamos escolher em definitivo dois deles. O sr. arcebispo se entenderá para isso com o Pe. Colin, superior de Belley, com a intermediação do Pe. Cholleton, imagino.

Rezo a Nossa Senhora de Fourvière que obtenha do seu divino Filho bênçãos abundantes sobre as nossas diligências, sobre o nosso projeto e a Sociedade inteira. Rezai vós também para que, com o cargo que os superiores querem impor-me, eu não seja nunca in ruinam sed in resurrectionem multorum.

Em quarto lugar, presumo que entre 29 do corrente e primeiro de março irei a St. Chamond, a lHermitage e a Valbenoîte. Terei muitas coisas que comunicar-vos. Dizei-me, por favor, se estareis lá.

O vosso Orfanato, em Lião, está em situação difícil. Percebi isto desde que tive ocasião de entreter-me com os Irmãos, quando os confesso. Falar-vos-ei disso na minha próxima viagem.

Muito me recomendo às orações de todos os Irmãos e, em particular, aos vossos santos sacrifícios e àqueles do futuro missionário apostólico, nosso caro confrade, Pe. Servant.

O vosso muito humilde e muito obediente servidor POMPALLIER, padre m.

P.S. A minha lembrança ao Pe. Terraillon.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 126.07

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