Carta a Marcelino

Ir. Louis-Marie

1838-11-23

Em Côte Saint-André, diocese de Grenoble, o Ir. Louis-Marie foi o diretor da escola por vários anos e teve uma administração nada fácil, por causa das ingerências do Pe. Douillet, proprietário dos imóveis utilizados pela escola e pelo pensionato (Cartas nº 106 e 109). O Pe. Douillet quis passar a sua posse para os Irmãos, mas com algumas cláusulas que eram inaceitáveis para o Instituto. Houve muita discussão e, por duas vezes, o Pe. Champagnat quis romper com o Pe. Douillet, anunciando a intenção de retirar os Irmãos e informar o bispo local sobre o caso. Temos a reação do bispo, D. Phlilibert de Bruillard, na Carta nº 163: ?Veríamos com muita pena o rompimento com o Pe. Douillet?. Também o Pe. Colin interferiu, pedindo ao Fundador que continue amigo do Pe. Douillet (Carta nº 135). Os sete parágrafos do contrato que o Pe. Douillet propunha podem ser lidos na carta que o Fundador enviou a D. Philibert, para colocá-lo ao corrente de tudo (Lettres, doc. 213). Houve ulteriores modificações no texto, até que, finalmente, o contrato fois assinado no dia 5 de novembro de 1838; mas nem tudo estava claro; havia muitos pontos práticos para serem elucidados. É o tema desta carta do Ir. Louis-Marie, pedindo ao Pe. Champagnat que fosse mais uma vez a Côte Saint-André, para complementar o contrato.

Côte-St. André, 23 de novembro de 1838.

Reverendíssimo pai:

1° O negócio da comuna não foi realizado. O Pe. Douillet não fez propostas porque a comuna não as aceitaria e porque o sr. bispo também tinha a mesma posição. Assim, não quis expor-se a uma recusa.

2° O Pe. Douillet desejaria conhecer a vossa opinião sobre o aluguel da vinha, na parte plana, e da parte que continua com ele. Está disposto a vo-la ceder; estima que, assim, a coisa caminhará melhor. Para tanto, seria bom que viésseis para avaliar tudo e combinar o preço.

3° A mobília, não se encontrando incluída explicitamente no arrendamento total, uma vez que a maior parte dela está na casa Bon, seria preferível que estivésseis aqui para relacioná-la e para fazê-la transportar à nossa casa, pelo menos o que nos é mais necessário.

4° A vossa presença seria muito útil também para a relação das provisões. O Pe. Douillet não está querendo arrolá-las todas na mesma categoria; prevejo que haverá dificuldades, as quais vós resolveríeis muito mais rapidamente do que eu.

5° O pároco de Roches me disse que deveis visitar a sua escola na semana que vem; se puderdes chegar até aqui, isto seria muito bom. Vós colocaríeis as coisas em bom andamento; é muito necessário que elas comecem bem, pois é por nove anos que deveremos manter esse pensionato.

6° Veríeis a questão do fogão, da fonte para a água no pátio e outras pequenas arrumações que seriam necessárias; combinaríeis com o Pe. Douillet a respeito das provisões.

7° O Pe. Douillet deseja que façais o levantamento exato de tudo quanto ele já pagou pela manutenção dos Irmãos. Ele acredita não deve mais que 300 francos, enquanto o Ir. Jean-Marie me apresentou atrasados quatro ou cinco vezes maiores. Ele quer regularizar isto de uma vez, e na primeira ocasião.

8° O número de alunos gratuitos está completo. Há muitos comentários, na cidade, sobre o sr. prefeito e a comuna. Teremos alguns alunos pagantes na escola; não sei quantos.

9° Contamos entre 54 e 56 alunos no curso de francês; acredito que na próxima semana chegaremos a sessenta; no entanto duvido de que atinjamos o número do ano passado.

10° A vossa viagem, se for possível, me trará muitos outros pequenos favores, que me darão grande satisfação. Seria bom que não chegásseis a Côte senão na quarta-feira de tarde, porque o Pe. Douillet estará ausente na terça e na quarta-feira, até de tarde. Não vos digo nada de Grenoble. O Irmão M. Stanislas, por certo, vos detalhou o que lá aconteceu.

Aceitai os meus sentimentos de profundo respeito, com o qual sou, reverendíssimo pai, o vosso humílimo e muito obediente servidor, Irmão LOUIS-MARIE.

P.S. O Pe. Douillet me disse que se vos decidirdes a fazer essa viagem, e aceitar hospedá-lo em l´Hermitage, ele não ligará muito a certas coisas daqui, mas não se explicou bem. Mais uma razão para vir acertar algo de mais definitivo e que corte rente todas as suas tergiversações. Tem tanto tempo para refletir que muda de parecer em cada instante. Ele me veio procurar por duas vezes enquanto rabisco esta carta, apressado, para colocá-la em tempo no correio. Não tenho o tempo de explicar-vos as suas novas idéias. Eu muito apreciaria que estivésseis aqui por causa da mobília, das provisões e por causa da questão da irmã. Sobre isso, penso que vai voltar novamente a falar.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 121.10

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