Missionários e jornalistas
Escrevo de Bouaké, centro da Costa do Marfim, da casa dos Maristas. Ontem à noite chegamos a Abidjan e a cidade nos recebeu como sempre, com este afago carinhoso de calor úmido que avisa que a África é isto e se alguém quer algo dela precisa suar gotas grossas. Pois, nela estamos.
Hoje tivemos que viajar pelo interior até chegar à missão marista. Já é do vosso conhecimento que grande parte de minhas crónicas é tomada pelas narrações das intermináveis horas de carro para chegar aos diferentes lugares por via terrestre. Quer seja por caminhos infernais ou por rodovias mais ou menos decentes. A autoestrada de hoje que une Abidjan com Yamousukro foi um presente inesperado.
Trouxeram-nos até aqui José Antonio Ruiz e Javier Salazar, dois maristas enamorados deste continente cheio de vida, de magia, de problemas e de esperanças. Um, já faz quarenta anos que está aqui. O outro, vinte anos indo e vindo e com a Costa do Marfim agarrado ao seu coração para sempre.
Pois bem, para um jornalista compartilhar uma viagem de carro com estas personagens é um luxo, uma sorte, um prazer…e uma inesgotável fonte de informação, de ideias, de opiniões, de visões bem ligadas à realidade local. Por isso vinha pensando na sorte que temos neste programa de poder contar com gente assim…e o precioso suco que deles extraem muitos colegas.
Eu bem sei que só se fala desses países quando existe um conflito ou começa a saltar da tela os disparos de metralhadora, os derramamentos de sangue e gente chorando pelas esquinas. Pior é que não existem para estes casos colegas que recorrem a estas fontes de informação, muitos deles são missionários espanhóis, que aí estão, desde sempre, gastando sua vida por estas terras. E é gente que está antes, durante e depois dos conflitos. Que não buscam os ganhos da caridade nem vivem das pomposas cooperações internacionais. Contudo, há uma lacuna enorme entre os agentes da área da informação sobre estes homens e mulheres que deixaram tudo por um ideal e aqui continuam, com suas luzes e sombras, fazendo o melhor que podem.
O POVO DE DEUS faz muito tempo que sabe que esses personagens, como José Antonio ou Javier, têm muito que contar, muito que ensinar. Não porque sejam santos senão porque são impulsionados por uma inesgotável força, marcada pela honestidade e por uma vocação. Vamos estar com eles nos próximos dias, percorrendo projetos apoiados pela ong marista SED.
(Ricardo Olmedo, Pueblo de Dios – TVE)