4 de junho de 2021 BRASIL

O Padre Champagnat de Vicente Caruso: a história dessa obra artística

Infográfico da linha do tempo de representações visuais sobre Champagnat

Em 2021, como parte das celebrações do Dia de São Marcelino Champagnat (6 de junho), a Província Marista Brasil Centro-Sul resgata a história de uma manifestação artística sobre nosso fundador. 

Trata-se da pintura do busto de Champagnat assinada por Vicente Caruso (1912-1986). Obra que o Irmão Benê Oliveira, Superior Provincial da PMBCS, trouxe recentemente de São Paulo para o Memorial Marista, em Curitiba.

A história dessa pintura, assim como de outras representações de Marcelino, é rica em detalhes interessantes. Em cada tempo e lugar, nós, maristas, procuramos atualizar a imagem do fundador entre nós.

Por que conhecer essa história é importante? 

“Porque na arte expressa em cada quadro ou escultura de Champagnat estão codificados elementos importantes da cultura, da teologia, da espiritualidade e até mesmo da visão de mundo que marcaram os Irmãos Maristas e hoje os Maristas de Champagnat do nosso tempo”, explica Angelo Ricordi, integrante da Diretoria de Identidade, Missão e Vocação da PMBCS. 

Primeiramente, queremos dar a conhecer a história do Champagnat de Caruso. E, sobretudo, resgatar alguns elementos históricos e iconográficos. Ou seja, resgatar tópicos sobre a representação visual do fundador.

O quadro de Champagnat pintado por Caruso

O relato começa com uma observação do Irmão Egídio Luiz Setti (1919-2006), enquanto exercia o cargo de Superior da Província de São Paulo. 

“Um dia o Irmão Egídio, grande incentivador de preservar a memória de Marcelino, constatou que na sala da sede provincial, na cidade de São Paulo, não havia nenhum quadro de grande porte sobre o fundador. Motivado pelo desejo de suprir essa lacuna, fomos ao encontro do artista plástico Vicente Caruso, na época residente em São Paulo”, conta o Irmão Dario Bortolini. 

A saber, a pintura de Caruso foi inspirada no quadro preparado para a beatificação de Marcelino Champagnat, em 1955. 

Vida e obra

Caruso nasceu em São Carlos (SP), em 1912. Quando ainda era adolescente, mudou-se para a cidade de São Paulo, residindo inicialmente no bairro Ipiranga e posteriormente em outros endereços próximos ao centro da cidade. Teve uma filha e três netos.

Seu último ateliê (1972-1986) foi em seu próprio apartamento, na Rua Augusta. Local onde residiu até a sua morte, em 1986. Por isso, podemos situar a execução da pintura do quadro de Champagnat como um de seus últimos trabalhos. 

Caruso faz parte de uma geração de artistas que se vincularam à Academia Paulistana de Belas Artes. Em seus quadros, ele prezava pela técnica apurada. Sem dúvida, a luz era uma de suas maiores preocupações. É o que nos revela, por exemplo, a sua obra sobre Jesus. Poucos sabem, mas uma das imagens de Jesus mais divulgadas no Brasil, graças às Edições Paulinas, é de autoria de Vicente Caruso. 

Linha do tempo das obras sobre Champagnat

1841

O primeiro retrato oficial do Padre Champagnat tem como autor o pintor de Saint-Chamond, o senhor Joseph Ravery (1800-1868). Logo após a morte, Marcelino foi revestido do hábito eclesiástico (batina, roquete e estola) e exposto numa poltrona, tendo nas mãos a cruz que portam os Padres professos da Sociedade de Maria. Junto dele, sobre a mesa, havia um crucifixo entre dois círios acesos (LANFREY, A. Cadernos Maristas, n. 29).

1882

Champagnat Fundador. Grande retrato a óleo (1,12 x 1,40), pintado pelo Irmão Wulmer, por encomenda do Irmão Nestor, então Superior Geral do Instituto Marista. Ainda que tenha um ar austero, é uma notável composição em relação ao fundador. O original se conserva na Casa Geral (Roma) e ainda permanece inédito.

1885

Foto pintura que aparece pela primeira vez na Vida popular do Padre Champagnat, editada em 1885. Pode equivaler à primeira reprodução feita para as “estampas ou quadros Champagnat”, acordado na sessão de 20 de maio de 1853 (Capítulo Geral Constituinte). Na ocasião, a Assembleia votou, por aclamação, que seria colocado um quadro ou imagem do Venerado Padre em cada sala de classe. Mais tarde, em 1859, o Irmão Francisco informou em uma Circular: “Se imprimiu o retrato de nosso piedoso Fundador – em tamanho pequeno – e o poderão oferecê-lo para o público” (Circ. Vol.2, p.394). Podemos ver que o modelo de Ravery foi “dulcificado”, neste caso por uma imprensa de Paris.

1896

Retrato de Champagnat: grande quadro pintado a óleo, assinado pelo pintor romano Silvério Capparoni. É possível que tenha sido encarregado depois da “Introdução Oficial” da causa em Roma (1896), porque a estampa já era usada como uma recordação de uma seção do Segundo Noviciado em Saint-Genis-Laval, em 1899. Detalhe importante: a aparição, pela primeira vez, da imagem de Maria junto ao fundador, juntamente ao livro das Regras e o Rosário – a devoção predileta do Irmão Marista.

1955

Retrato oficial da beatificação de Marcelino, pintado em Roma, por Tito Ridolfi (1955). Bem ao estilo romano tradicional. Certamente, reflete os traços essenciais do retrato original feito por Ravery (1840). E quer mostrar, sobretudo, um homem de Deus, como convinha à circunstância celebrada. Mas, na atualidade, nos parece que poderia ser mais autêntico à reflexão paralela de alguns traços mais enérgicos (como as mãos de um trabalhador).

1981

Marcelino Champagnat “sorridente”, por Gregorio Domínguez González (Goyo), em 1981. O quadro foi pintado sobre uma tábua de madeira (maciça) e foi o seu primeiro ensaio de um retrato do fundador. Bem como o primeiro trabalho na renovação de nossa iconografia de Champagnat, impulsionada pelo Irmão Agostinho Carazo, Postulador entre 1981 e 1989. Dessa imagem, foram editadas estampas, postais e pequenos pôsteres.

 1985

Retrato de Champagnat. Quarto ensaio de Goyo. Escolhido para acompanhar o segundo pôster, substituindo a imagem anterior, da Vida Gráfica (Champagnat II, 1819-1840), com 19 episódios. Foi impresso pelo Estabelecimento Salomane, em Roma (1985). Esta imagem teve muita aceitação e serviu de base para o novo retrato da canonização.

1999

Ao final de 1998, a equipe da canonização encomendou a vários pintores um retrato de Marcelino. Pediu-se aos artistas um quadro de cerca de 50x70cm (técnica não definida) do busto do fundador, sem nenhuma imagem sobre o fundo, que correspondesse a um homem de 40 anos (francês), expressando alegria, entusiasmo e simpatia. Escolheu-se a obra de Goyo, pintada em acrílico. 

Inspirações

Ao final desse passeio pela rápida história sobre imagens de São Marcelino Champagnat, reafirmamos a importância do quadro de Caruso. Bem como de outros artistas importantes, que hoje temos à disposição no Memorial Marista. 

Do ponto de vista espiritual, que possamos enxergar cada quadro como “um retrato vivo”. Assim como afirmava o Irmão Francisco (Carnet 301, p.47). 

Ou então, como dizia o Irmão Sylvestre:

“Tomara que todos os Pequenos Irmãos de Maria possam mostrar-se, sempre e em toda parte, fotografias vivas e eloquentes do nosso venerando fundador”. E na sua humildade acrescenta: “que não sejam fotografias borradas como, infelizmente, eu fui” (SYLVESTRE, 2014, p. 336).

Referências consultadas:

  • SCHERER, Júlia. Pinceladas de uma vida voltada à arte: Vicente Caruso e as PIN-UPS (1950-1980). III Seminário Internacional – História do tempo presente – Florianópolis: UDESC, 2017.
  • LANFREY, Andre. Os retratos do padre Champagnat no século XIX. Cadernos Maristas, n. 29. Roma: Instituto dos Irmãos Maristas, 2011.
  • IRMÃO FRANCISCO. Caderno 301 – Miscelânea. Cadernos Maristas, 12. Roma: Instituto dos Irmãos Maristas, 1997.
  • IRMÃO SYLVESTRE (Félix Tamet). Relatos sobre Marcelino Champagnat. Brasília: UMBRASIL, 2014.
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