Entrevista com o Ir. Spiridion, superior do MIC

08/02/2007

O Ir. Spiridion Ndanga nasce em Ruanda em 1946. Depois dos anos de formação marista, ele prestou seus serviços no Instituto em diversos países da África, primeiro como superior de comunidade, depois como formador, trabalhando tanto como mestre dos postulantes como dos noviços. Fez seus estudos em pedagogia, em catequese e em teologia. Participou do curso para mestres de noviços, ministrado pelo Ir. Basílio Rueda e realizado em Castelgandolfo, na Itália. Em 1994 foi nomeado superior do então distrito, em circunstâncias muito difíceis, depois da guerra do Congo, e desde 2005 é o superior da comunidade do Marist International Center, de Nairobi, no Quênia. Esta é a maior comunidade de irmãos do Instituto, contando com 69 irmãos estudantes e 13 formadores.

Ir. AMEstaún: Ir. Spiridion, quais são as funções de um superior do MIC?
Ir. Spiridion:
Até o momento em que eu assumi este cargo, a direção do MIC era exercida por uma pessoa chamada de reitor, que era ao mesmo tempo superior da comunidade e diretor da escola. Quando cheguei aqui em 2005 encontrei o Ir. Joseph Mackee, que era o responsável tanto da parte acadêmica como da vida da comunidade. Mas já há alguns anos que se pensava que seria melhor diferenciar estas duas funções, de modo que um irmão seria o superior da comunidade e o outro se responsabilizaria pelas questões acadêmicas. E foi isso o que sucedeu, de maneira que o Ir. Joseph Udeajah é atualmente o encarregado do colégio e eu respondo pela comunidade. O MIC é uma comunidade religiosa, conseqüentemente deve ter um superior. Eu assumo as funções de superior da comunidade, sabendo que se trata de uma comunidade especial, constituída de formadores e de formandos. Portanto, assumo todas as responsabilidades de uma superior de comunidade.

Podemos dizer que este cargo é equivalente ao de um provincial, tanto pelo número de irmãos que estão sob a sua responsabilidade, que é maior do que em algumas províncias do Instituto, como pela diversidade de procedências e pelas decisões que deve tomar. É assim?
Não sou um provincial, porque os destinos dos irmãos que participam desta comunidade são determinados por seus respectivos provinciais. Mas, cada vez que a Conferência dos superiores da África se reúne, eu participo como membro de direito, como os provinciais.

E como funciona uma comunidade tão numerosa? Como foram solucionados os problemas de convivência e de estudos de um grupo tão numeroso de jovens, para que não tivesse conseqüências na formação deles?
Como superior, eu coordeno todas as atividades da comunidade. Ao mesmo tempo, no que se refere às atividades acadêmicas, os irmãos estudantes e os professores estão sob a responsabilidade do diretor acadêmico. Colégio e comunidade estão instalados no mesmo lugar, compartilhando os mesmos espaços, mas as competências são distintas, ainda que complementares.
A comunidade religiosa está formada por 69 irmãos estudantes e a equipe de formadores é integrada por 13 irmãos. Embora eu seja o responsável de toda esta comunidade complexa, eu partilho a responsabilidade com os animadores das fraternidades. O grande grupo se divide em fraternidades. Temos seis fraternidades, cinco para os estudantes e uma para os formadores e cada uma vive em uma pequena casa distinta. O responsável para os assuntos do dia a dia em cada uma das fraternidades é um irmão formador, que faz as vezes de animador da fraternidade e também é membro da equipe de formadores. Na fraternidade Champagnat vivem oito irmãos formadores que não são animadores de fraternidades.

Existe um projeto comunitário para todos, ou cada fraternidade se organiza por conta própria?
No começo do ano escolhemos aquele que chamamos o «tema do ano», que servirá como coluna vertebral do que faremos durante todo este período de tempo. Em seguida cada fraternidade faz o seu projeto de fraternidade, para concretizar as propostas, levando em consideração o tema do ano. Portanto, cada fraternidade é, até certo ponto, autônoma para certas coisas. Todos os dias fazemos as refeições juntos, no grande refeitório, mas no sábado cedo, o café da manhã se faz em cada fraternidade, assim como o jantar do domingo. Cada fraternidade tem o seu orçamento para a própria manutenção e a limpeza de sua residência, para as refeições que fazem juntos e para os gastos individuais. Deste modo, o animador de cada fraternidade é quem conhece as atividades diárias de cada irmão, é quem dá as permissões necessárias ou o dinheiro necessário para os gastos ordinários.

Como superior desta extensa comunidade, é de sua competência a animação espiritual de todos os seus membros. Sendo uma comunidade tão numerosa, como se consegue atender a todos?
Como superior visito cada uma das fraternidades duas vezes por ano. Passo uma semana em cada fraternidade. Presido as reuniões da equipe de formação e do conselho da comunidade, que é integrado também por dois irmãos estudantes. O conselho da comunidade é constituído pelo superior, por um superior adjunto escolhido pela equipe de formação, pelo diretor acadêmico que também é membro de direito, por dois irmãos eleitos dentre a equipe de formadores e por dois irmãos estudantes, escolhidos dentre os que cursam o terceiro e o quarto ano.
Temos também 11 comissões na comunidade: para a liturgia, para a música litúrgica, para cuidar do jardim, do esporte, da cultura, da tipografia, da decoração da capela, da biblioteca, da cozinha, da manutenção e dos motoristas. Em cada comissão há um irmão responsável por ela.
Além disso, temos oito grupos para as atividades apostólicas. Trata-se de atividades de formação apostólica, já que tudo o que fazemos aqui é para a formação dos jovens, tais como a catequese nas paróquias, os convites aos professores das redondezas para que duas vezes por ano venham aqui para formar os educadores, e o festival com os jovens, a promoção das vocações, etc.

Estas são as estruturas organizativas através das quais os jovens irmãos podem participar da vida da comunidade. Como é a experiência da vida espiritual marista nesta comunidade?
Considerando já que temos as atividades próprias de uma comunidade marista, como a oração da manhã e da noite, aos domingos rezamos juntos as vésperas e no sábado à tarde fazemos a oração mariana.
A animação espiritual se completa ainda com a realização de cinco retiros durante o ano, nos momentos mais importantes da vivência litúrgica. Em setembro, na ocasião do início do curso; em dezembro, como motivação para o Advento; no último dia do ano, em ação de graças; em fevereiro, em preparação à Quaresma; e em março ou abril, na celebração da Sexta-feira Santa.
Além disso, temos um acompanhamento pessoal. Nem todos os irmãos são acompanhantes, como, por exemplo, o diretor acadêmico e eu não somos acompanhantes, mas recebemos os irmãos para entrevistas. O acompanhamento se faz sistematicamente. Os irmãos que cursam o primeiro e o segundo ano têm um encontro com o acompanhante uma vez por semana. Os do terceiro, duas vezes por mês, e o do quarto ano, uma vez por mês.
Já há algum tempo, um dia por semana estávamos tendo conversas no período da tarde. Todas as segundas-feiras nos reunimos para tratar um tema de formação, com conteúdos importantes. Mas estamos percebendo que os estudantes estão freqüentemente cansados e fica difícil tratar temas vistos com uma certa descontinuidade, porque passa muito tempo entre um encontro e o outro. Por esta razão estamos criando cursos que fazem parte do currículo, onde estão incluídos os temas que estavam sendo tratados nessas conversas mais informais e que deste modo podem continuar a ser analisados.

Quais são esses temas formativos que vocês tratavam um dia por semana e que agora fazem parte dos programas acadêmicos?
Os do primeiro ano, neste período em que vivem um processo de transição do noviciado ao escolasticado, estudam a espiritualidade. Os do segundo ano, estudam a teologia dos votos. Os do terceiro, a pedagogia marista, e os do quarto, o discernimento e a direção espiritual.

E como estão distribuídos os irmãos, segundo os cursos que estão freqüentando? São quantos irmãos em cada ano?
Temos 18 irmãos no primeiro ano, 11 no segundo, 26 no terceiro e 14 no quarto. No total são 69 estudantes.

Um grupo tão numeroso é ao mesmo tempo complexo, pela sua internacionalidade, suas línguas, lugares de procedência, com seus costumes, seu modo de ser… É um espaço onde realmente se pode dizer que domina a diversidade. Como se vive a internacionalidade no MIC?
Na visita pastoral que acabam de fazer, os irmãos conselheiros afirmam que todos os irmãos consideram a internacionalidade do MIC como um grande valor. A escolha da fraternidade da qual farão parte e onde viverão é minha, enquanto superior da comunidade do MIC. Quando designo os irmãos para cada uma das fraternidades, o critério geral é não colocar juntos na mesma fraternidade dois de uma mesma nacionalidade. Eu os misturo o máximo que posso, porque esta diversidade é uma riqueza que deve ser compartilhada. Isto não significa que alguns não devem se esforçar mais para se misturar com os outros, mas isso é bem mais raro.

Muito obrigado, Ir. Spiridion, por sua acolhida e por suas interessantes respostas.

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