Sobre as Vocações – Blog marista

03/08/2006

A sessão blogs maristas do nosso site www.champagnat.org, iniciada a partir do mês de maio, apresentou algumas reflexões que despertaram o interesse dos nossos leitores. Pensamos que também será interessante para os leitores do nosso Boletim.
Hoje apresentamos as três primeiras reflexões do Irmão Théoneste Kalisa, Conselheiro Geral, que escreve sobre as vocações.
Difundindo esses textos através do Boletim pretendemos também animar aos nossos leitores a participar da reflexão enviando seus comentários através da nossa página web.

Visibilidade
Existe uma controvérsia latente em nossa espiritualidade. Champagnat nos pedia frequentemente para que vivêssemos uma vida oculta. A maior parte dentre nós foi formada à virtude da vida oculta. Mas eis que hoje somos interpelados pela necessidade de sermos visíveis. Penso particularmente no trabalho da pastoral vocacional. A história da Igreja mostra os contrários cuja conciliação foi proposta como elemento de harmonia na espiritualidade. Os Padres da Igreja falavam da ?embriaguez sóbria?, do ?sono vigilante?, etc. Talvez seja por isso que não fiquei surpreso quando um membro da Família Marista me revelou em que nossas origens comuns a ?vida oculta? era vista e mesmo sugerida como o meio mais seguro de conquistar o mundo. A expressão terá, pois, conhecido uma mudança de sentido, pelo menos é o que eu posso dizer.
Mas, voltemos à nossa controvérsia. Ser oculto ou ser visível?
Hoje acreditamos que a visibilidade do irmão marista é uma necessidade de testemunho, de pastoral vocacional e de evangelização. Escolhamos, pois, ser visíveis. Queremos fazer isso sem nostalgia, sem pesar e sem timidez. Mas, por outra parte, a ?vida oculta? faz parte de nosso patrimônio espiritual. Ela é, certamente, uma das intuições fundamentais de nossos pioneiros. Foi ensinada sob várias formas e o sucesso do Instituto foi muitas vezes atribuído a ela. Ignorá-la completamente, de repente retirá-la dos nossos textos, da nossa linguagem e da nossa cultura marista seria um passo que deixaria um buraco em aberto e um ponto de interrogação preocupante.
Mas, o que fazer, então? Há razão para acreditar que, à imagem da fé cristã que através da história sempre se renovou ao se reformular, seja preciso reapresentar as intuições de nossas origens através de uma linguagem de hoje. E aqui, linguagem de hoje significa e compreende também o complemento de sentido que nasce da experiência espiritual do Instituto. Esse processo nos introduz completamente e com ambos os pés na fidelidade criativa.
Parece-me que a visibilidade que queremos é, acima de tudo, sinal profético. Queremos ser indicadores, sem equívocos, do caminho para Jesus. Que tal visibilidade seja pintada de vaidade, de exibicionismo ou narcisismo, então será a ruína. Queremos nos identificar com e por uma ?visibilidade discreta?. Sim, a vida oculta será sempre uma virtude entre nós, nossa virtude. Ela será, com efeito, a marca distintiva de nossa maneira de ser visível; uma presença vigorosa, atuante, mas sem a busca de si mesmo, sem barulho, como Maria!

Faísca!
Queremos promover uma cultura da vocação entre nós, em nossas comunidades. Desde o início nos perguntamos quais são as chances de tal empreitada.
Hoje, a palavra cultura é de uso corrente. Sabemos o que ela significa. Com freqüência é empregada em um sentido positivo e construtivo.
Por outro lado estamos concluindo o Ano marista das vocações. O entusiasmo suscitado e a criatividade empregada durante esse ano são sinais evidentes da vitalidade do carisma de Champagnat. No rastro de todos esses acontecimentos o Superior geral acaba de criar um secretariado das vocações em nível de Instituto.
Diríamos que tudo está pronto para a eclosão da cultura da vocação. Mas nos falta ainda alguma coisa a mais. Mas o quê? Humm… A obscuridade persiste diante de nós. Necessitamos de um raio para perceber por um instante a maravilhosa paisagem que se estende diante de nós. Necessitamos de uma FAÍSCA, ?esse nada através do qual tudo vem?. Mas como se fará isso? Através do teu ?Sim!?, através do meu ?Sim!?.

A respeito da cultura das vocações
Ao falar de São Francisco de Assis os italianos repetem com freqüência e com entusiasmo: ?Este é um santo verdadeiramente italiano?. Em uma biografia de São Vicente, depois de uma descrição da personalidade social e religiosa deste santo, o autor conclui: ?é um santo tipicamente francês?. A respeito dessas afirmações eu diria um ?sim, mas…? compreensivo e amigável. Um santo pertence a toda a Igreja, e esta o apresenta como um modelo a todas as pessoas de boa vontade.
Mas, o que é que isso tem a ver com cultura das vocações?
Se ?a cultura da vocação? é a ponta de lança de nossa pastoral vocacional durante os próximos quatro anos, isso nos obriga a clarificar a linguagem que empregamos nessa área. E a esse respeito alguns coirmãos me chamaram a atenção sobre a ambigüidade que cria a definição ?a cultura é uma adaptação ao meio?, que utilizei em um escrito recente.
Tomo como exemplo os dois santos mencionados acima para dizer que a adaptação ao meio não poderia significar uma complacência qualquer com a mentalidade reinante, particularmente naquilo que ela tem de contrário ao sentido cristão da vocação. São Francisco e São Vicente eram homens bem adaptados ao seu meio. É por isso que cada um deles interpelou a sociedade da sua época com uma voz que ecoa com clareza ainda hoje.
Nossa cultura da vocação dever ser também uma adaptação ao nosso meio, mas, sejamos claros, falamos de uma adaptação profética. Nós nos comprometemos em uma adaptação que nos interpela a nós mesmos a partir do nosso interior, mas também interpela e desperta aquelas pessoas com as quais partilhamos as alegrias e os desafios do nosso tempo.

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