Carta de Manuel de Irujo y Ollo

O Ministro da República durante o Governo Republicano

A Constituição da República proclama a liberdade de consciência e de cultos. A Lei sobre as Congregações e as confissões regulamenta e garante o seu exercício.

A situação real da Igreja, a partir de julho passado , em todo o território leal, exceto os Países Bascos, é a seguinte :

a- Todos os altares, imagens e objetos de culto, com raras exceções, foram destruídos e, com freqüência, profanados.
b- Todas as Igrejas foram fechadas às celebrações, as quais ficaram totalmente e absolutamente suspensas.
c- Na Catalunha, uma grande parte das igrejas foi incendiada, como se isso fosse normal.
d- Os depósitos e os organismos oficiais receberam sinos, cálices, cibórios, candelabros e outros objetos de culto; eles foram derretidos e utilizados para fins militares ou industriais.
e- Nas igrejas foram instalados depósitos de todo tipo : mercados, garagens, estrebaria de quartéis, abrigos e diversos outros tipos de ocupação…
f- Todos os conventos foram esvaziados e a vida religiosa proibida. Os prédios, os objetos de culto e os bens de todo tipo foram queimados, saqueados, ocupados ou destruídos.
g- Os padres, os religiosos foram presos, lançados na prisão e fuzilados aos milhares sem nenhum processo; esses fatos, embora tenham diminuído, continuam ainda, não somente na região rural, onde foram cassados e mortos de maneira selvagem, mas também nas cidades. Em Madri e Barcelona, assim como em outras grandes cidades, existem centenas de presos cujo crime é o fato de serem padre ou religioso.
h- A posse de imagens e objetos sacros, mesmo que de maneira privada, é totalmente proibida. A polícia, que mantém o registro das famílias, realiza, com freqüência, vistorias nas casas, na vida íntima pessoal ou familiar, destrói com desprezo e violência imagens, quadros, livros religiosos e tudo o que se refere à religião ou simplesmente a faz lembrar.

A opinião do mundo civilizado vê com estupor e indignação a conduta do governo da República que não impediu esses atos de violência mencionados, e que consente com a sua continuidade, na maneira como foi exposto. A vaga revolucionária pode ser considerada cega, irresistível e incontrolável nos primeiros momentos. A destruição sistemática das igrejas, altares e objetos sacros não pode ser mais considerada como uma ação incontrolada. A participação de organismos oficiais na transformação das igrejas e dos objetos sacros para fins industriais, a prisão de padres e religiosos nos cárceres do Estado, seus assassinatos, a continuação de um sistema verdadeiramente fascista, visto que se ultraja todos os dias a consciência individual dos cristãos, mesmo na intimidade do seu lar, e isso através das forças oficiais do poder público, tudo isso não pode mais receber um explicação plausível sem colocar o Governo da República diante do dilema da sua cumplicidade ou da sua impotência. A conclusão é que a política exterior da República não atrai mais para sua causa a estima do mundo civilizado.

O Ministro concluiu sugerindo toda uma série de medidas para pôr fim a essa situação: conceder a liberdade aos padres e religiosos, reabrir as igrejas, permitir publicamente a prática do culto, não mais incomodar a intimidade das famílias…