Feliciano Montero García

Feliciano Montero García é catedrático de História Contemporânea, na Universidade de Alcalá de Henares, e conhece bem, portanto, o contexto social e histórico no qual ocorreu o assassinato de nossos irmãos. Publicou, entre outros livros, «O movimento católico na Espanha», «Franquismo e memória popular», «A Ação Católica espanhola e o franquismo: auge e crise da Ação Católica especialmente nos anos 60», e colaborou em importantes obras coletivas a propósito da história da Espanha. Além disso, conhece bem o Instituto marista, pois foi aluno do colégio marista de Salamanca desde o curso primário até o pré-universitário, e seu irmão Agustín é irmão marista da Província Compostela.
Ele nos recebe gentilmente nas instalações da Conferência marista, em Madri, onde nos explica o contexto histórico no qual ocorreram as mortes dos mártires maristas, no verão de 1936.

AMEstaún. Já foi decidida pela Igreja a beatificação de um grupo de irmãos maristas assassinados no início da guerra civil espanhola de 1936 a 1939. Como era o estado da opinião pública naqueles momentos, na Espanha?
Feliciano Montero. 
Houve um tempo, no final do regime de Francisco Franco (governante da Espanha de abril de 1939 a novembro de 1975, que assumiu o poder em conseqüência de um golpe de Estado contra o governo da Segunda República, ocorrido em 18 de julho de 1936, e que motivou a guerra civil, que se estendeu entre os anos de 1936 e 1939), em que a reivindicação dos mártires e da guerra civil, como uma «cruzada», parecia que tinha passado à história dentro de certa compreensão e consideração da guerra civil como um erro monstruoso, onde todos os protagonistas, de um lado ou de outro, tinham tido alguma responsabilidade.
Depois deste reconhecimento geral das próprias culpas e responsabilidades, o que havia era um compromisso de reconciliação e uma intenção de superar a fase de acertos de contas e de revanches.
Nesse contexto, os inúmeros processos de beatificação dos mártires da guerra ficaram paralisados, a serviço desse objetivo reconciliador, que era a principal via de um processo pacífico de transição para a democracia, no qual a Igreja teria um papel essencial. Por seu lado, os herdeiros dos vencidos renunciariam a reivindicar-lhes a memória.
Passado o tempo, consolidada a transição, a Igreja, em meados dos anos 1980, coincidindo com o 50º aniversário da guerra civil, reiniciou ou deu um novo impulso aos processos de beatificação dos seus mártires. Ao mesmo tempo, na época, começavam a surgir em setores não católicos, críticas abertas à Igreja, sobre sua implicação e colaboração nas repressões do franquismo, e por isso se solicitava a ela que, no espírito do jubileu de 2000, também pedisse perdão.
Mais recentemente a investigação dos historiadores e algumas iniciativas de cidadania, como a Associação para a recuperação da memória histórica, estão reivindicando fortemente as outras vítimas, mártires de outras causas, anônimos, desaparecidos, sepultados em fossas comuns, vítimas da repressão dos vencedores durante a guerra e nos primeiros anos do pós-guerra.
Em resumo, parece ter voltado, com toda a sua virulência, na opinião pública espanhola, um clima de confrontação em relação às violências cometidas por uns e pelos outros durante a guerra civil, como se tratasse de um novo acerto de contas. Mesmo considerando o risco que este confronto mediático possa significar para a consolidação da convivência civil, esta pode ser também a ocasião para curar definitivamente as feridas latentes, que talvez tenham sido silenciadas por causa do medo de reproduzir o conflito.

Em todo caso, é neste clima de confrontação, com o risco de um acerto de contas ou de esclarecimento da «verdade» completa de tudo o que aconteceu, que devemos situar a recordação e a homenagem aos nossos mártires maristas. Como fazê-lo, sem contribuir a exacerbar o confronto político? 
Seguramente fazendo um exercício de compreensão histórica dos acontecimentos, de forma complementar à leitura cristã. Contextualizando o ocorrido dentro de uma leitura política, social e mental de seu tempo. Procurando responder às perguntas sobre a natureza e as razões da uma violência anticlerical e anti-religiosa, que seguramente vinha de longe, ficou incubando lentamente e se manifestou de maneira surpreendente e descontrolada, inexplicável e irracional, incompreensível até hoje para os historiadores e para os herdeiros ideológicos ou políticos daqueles violentos. O surpreendente, como foi assinalado pelo antropólogo Manuel Delgado, é a incapacidade de historiadores e políticos para entender e assumir essa violência anticlerical e anti-religiosa que provocou o acontecimento dos mártires, no verão de 1936.

Como se forma na Espanha a corrente de pensamento do anticlericalismo? 
Para começar, o anticlericalismo na Espanha vinha de longe, tinha-se manifestado ciclicamente através do assassinato dos frades em 1835, mas tinha sido alimentado especialmente desde o início do século 20, seguindo o exemplo de outros países, especialmente a França da Terceira República.
O anticlericalismo, com suas múltiplas manifestações e características, já antes da Segunda República espanhola era a expressão de uma luta defensiva e ofensiva contra seu antagonista, o «clericalismo», ou seja, de acordo com a percepção dos anticlericais, era contra o peso social, político e principalmente ideológico do clero diocesano e religioso, nas instituições sociais e especialmente educacionais. Era uma influência que se considerava perniciosa, um obstáculo para a modernização e o progresso.
O que os anticlericais reivindicam como legítima secularização de um Estado autônomo, os clericais denunciam como um perigoso processo de descristianização, que era ao mesmo tempo entendido como uma perda fundamental da identidade nacional e da convivência social harmônica.
Na Espanha da «restauração canovista» (sistema político promovido por Cánovas del Castillo, durante o período 1876-1923), as referências legais, isto é, a Constituição e o concordato com a Santa Sé, protegiam um regime com características confessionais e de unidade católica, deixando pouca margem à livre expressão e propaganda dos liberais e dos agnósticos.
No entanto, pouco a pouco, suas iniciativas culturais e pedagógicas foram ganhando terreno e influência real, ainda que não conseguissem modificar as referências legais para dar uma mínima tolerância aos católicos.
Paralelamente, o catolicismo consolidava sua hegemonia e sua influência social e ideológica através da crescente implantação de novas congregações religiosas, muitas delas como os Maristas, vindas da França no final do século 19 e princípio do século 20. Eram congregações masculinas e femininas, dedicadas principalmente ao ensino e à assistência social, e que foram precisamente o principal alvo das denúncias dos anticlericais desde o início do século 20.
Uma campanha sistemática, paralela aos projetos para regular as congregações, procurou desprestigiar o trabalho delas e responsabilizá-las por todos os «males» da nação. A regeneração da Espanha, sua modernização, dependia da redução da presença das congregações religiosas na educação.

A educação é um tema de discussão e de confronto entre os clericais e os anticlericais espanhóis. Realmente a regeneração da Espanha dependia da redução da presença da Igreja no campo da educação? 
Esta tese da retórica anticlerical, reiterada e assumida especialmente durante o tempo da Segunda República, não correspondia à realidade social. Melhor dizendo, segundo estudos recentes (Maitane Ostolaza), se os colégios das congregações tinham se expandido tanto nas primeiras décadas do século 20, não era apenas pela proteção legal (política), mas porque também respondiam de maneira eficaz à demanda social. O que elas ofereciam no campo educacional se ajustava melhor às novas necessidades sociais do que a fraca e escassa escola pública.
Mas, é certo que a contribuição da escola católica à «modernização» econômica e social, de um país em vias de industrialização, não impedia que seus conteúdos doutrinais («o liberalismo é pecado») fossem considerados perniciosos pelos liberais, pelos homens da Instituição Livre de Ensino, os maçons e livre pensadores, os republicanos, os socialistas e anarquistas. Isto quer dizer que nas primeiras décadas do século 20 não parou de crescer o confronto e com um descrédito recíproco entre clericais e anticlericais. Não importa muito se seus argumentos foram reais ou míticos, o certo é que eram eficazes na configuração dos dois blocos, das duas culturas antagônicas e identidades coletivas, chamadas a se excluírem e a se eliminarem reciprocamente.

Em meio a uma intensa ebulição social e política, culmina nesta época na Espanha um processo que incluía medidas secularizadoras da educação. Como os maristas foram afetados pelas leis sobre a educação, promulgadas durante este período? 
A lei das congregações, de 1933, foi o auge de uma série de medidas secularizadoras e, de acordo com os artigos da Constituição, ela afetava diretamente a vida e a atividade docente das congregações, como os maristas. Ela as obrigava a secularizar seus colégios, colocando-os nas mãos de associações leigas se quisessem continuar exercendo suas atividades. Mas, uma vez aprovada esta lei, a mudança política motivada pelo triunfo eleitoral dos partidos de direita, aliviou a situação. As leis anticlericais não foram derrogadas, pois para isso deveriam ser revisados previamente os correspondentes artigos da Constituição, mas sua aplicação foi contida ou suavizada.
Em efeito, durante o biênio 1933-1935 governou de forma instável uma coalizão de republicanos radicais (moderados, apesar do nome) e católicos da CEDA (Confederação espanhola das direitas autônomas).
A CEDA era o partido majoritário da coalizão, mas não tinha maioria suficiente para governar sozinho, e, além disso, sua orientação republicana era considerada duvidosa para os republicanos de esquerda e para os socialistas.
Por isso, diante da chegada de vários ministros da CEDA ao governo, a esquerda operária convocou uma greve geral revolucionária (em outubro de 1934) que, ainda que tenha fracassado, menos nas Astúrias, provocou manifestações de violência anticlerical. A morte do Irmão Bernardo, em Barruelo, foi uma expressão dessa violência, que antecipava as que se reproduziriam em julho e agosto de 1936.

Há, pois, um passo da agressividade legal, do anticlericalismo «legal», à violência anticlerical? 
Durante a Segunda República já tinham acontecido alguns episódios violentos, especialmente o incêndio dos conventos em 11 de maio de 1931, a menos de um mês da proclamação da República, e durante a revolução de outubro de 1934. Mas, a violência anticlerical, a perseguição religiosa propriamente dita, o assassinato sistemático e indiscriminado de padres, religiosos e leigos militantes de organizações católicas, a queima e profanação de lugares de culto, a violação e a zombaria dos sacramentos, dos ritos e cerimônias, não se produziram até o verão de 1936. E isto sob a forma de iniciativas populares, de comitês revolucionários e de milícias locais, que dentre seus objetivos revolucionários tinham como prioridade a eliminação física da Igreja e de seus ministros, por considerá-los os principais obstáculos para as mudanças sociais.
Os inúmeros testemunhos recolhidos pelos historiadores, mais especialmente na obra clássica de Antonio Montero, que continua sendo fundamental, confirmam a natureza radical e indiscriminada dessa violência, que não distingue entre o padre «bom», ou «social», e o menos virtuoso, entre o mais religioso e o mais empenhado politicamente…
Certamente existem tantas variantes quantas situações locais e sociais. Houve republicanos que procuraram mediar e evitar com maior ou menor êxito as execuções, ou pessoas que esconderam ou deram outro tipo de cobertura.
Todos os historiadores, de um lado ou de outro, reconhecem a magnitude da violência anticlerical, aceitando-se ainda como válidos os números que nos oferece o livro de Antonio Montero, isto é, 13 bispos, 4.184 sacerdotes diocesanos, 2.365 religiosos e 283 religiosas, em um total de 6.832 vítimas. Assim como também reconhecem as razões fundamentalmente religiosas, mais que políticas, dessa perseguição. Embora nem todos estejam de acordo com essa distinção, a verdade é que era muito difícil naquele momento separar a razão religiosa da razão política.

Isto quer dizer que a guerra civil e sua conseqüente explosão de violência anticlerical eram inevitáveis? 
Não necessariamente. A violência nas ruas era muito importante, mas foi o golpe militar falido aquilo que provocou a resistência popular, e a violência revolucionária, sob a forma de um grande «acerto de contas».
A violência anticlerical se prolongou durante toda a guerra, mas foi especialmente intensa nos meses de julho a setembro de 1936, o chamado «verão sangrento», tempo em que os poderes locais e os comitês revolucionários controlaram diretamente a situação, por cima e à margem das instituições republicanas.
Isto é o que ficou acertado, para quitar ou reduzir a responsabilidade das autoridades republicanas na violência anticlerical dos primeiros meses, salientando, pelo contrário, as iniciativas de mediação e de cobertura que as autoridades tinham tido diante dos comitês revolucionários. De fato, isto foi o que ocorreu com o grupo de irmãos maristas de Barcelona, que foram salvos «in extremis» pela autoridade do Generalitat (governo da Catalunha) no dia seguinte do assassinato do primeiro grupo.

Quais poderiam ter sido as razões da violência e do anticlericalismo popular na Espanha durante esse período turbulento? 
Como já disse no início, ainda hoje não se entendem bem as razões dessa violência anticlerical, de fobia pelo sacro e anti-religiosa dos primeiros meses da guerra civil. As autoridades republicanas procuraram imediatamente conter e se manter à distância dessas ações, lavando suas mãos de toda responsabilidade, atribuindo-as a agentes incontrolados. Apesar disso, não se pode negar um certo grau de cumplicidade com essas iniciativas. Mas, principalmente, a questão está em explicar a possível conexão, incluída a involuntária, entre a violência verbal e a propaganda acumulada desde o início do século, especialmente nos anos 1930, e a violência popular.
Alguns autores, a partir da perspectiva antropológica, sugerem razões muito profundas e antigas, que têm a ver com a ausência da reforma protestante. Outros, a partir do estudo das culturas e das identidades políticas, buscam raízes mais próximas, ligadas às lutas pela secularização do Estado e da sociedade, que ocorreram em todos os países católicos latinos, como França, Itália e Portugal. Em todo caso, parece claro que na violência do verão de 1936 se conjugaram diversos elementos ou fatores de origem e natureza diversas, velhos preconceitos ou imagens sobre os «vícios» do clero e os acertos de contas mais recentes, relacionados com o controle da educação popular e as lutas sindicais.

Pode-se atribuir a violência popular anticlerical a uma razão defensiva, diante do alinhamento da Igreja, sua colaboração com o golpe militar e, em alguns casos, a sua participação material na luta, armazenando armamento ou utilizando os edifícios religiosos como fortalezas? 
As denúncias desse tipo não puderam ser demonstradas. Por outro lado, a explosão da violência e a perseguição anticlerical foram anteriores ou simultâneas aos primeiros acontecimentos da guerra, quando ainda não se podia saber com muita clareza o que estava acontecendo. Isto não quer dizer que o assassínio dos clérigos tinha sido previamente planificado, que fosse um objetivo revolucionário prioritário ou que fosse condição prévia para a realização de outros objetivos. Esta era uma convicção amplamente alimentada na reflexão e na propaganda da imprensa e nas escolas operárias.

Qual era a perspectiva da Igreja católica espanhola em relação aos debates sobre a escola e a educação popular? 
Umas das expressões mais claras do confronto clericalismo-anticlericalismo, ou catolicismo-laicismo, é a luta pela escola, quer dizer, pelo controle dos conteúdos educativos e do conjunto do sistema educacional.
A partir da perspectiva católica, em nome da liberdade de ensino, se pretendia já nos congressos católicos nacionais no início do século 20 (Burgos em 1899 e Santiago em 1902) a possibilidade de criação de centros docentes em face ao que chamam de «monopólio do Estado docente», e junto a isso, a defesa das congregações religiosas diante dos projetos para regular e controlar suas atividades. Recorda-se que em 1910, o governo presidido por Canalejas aprovou a chamada «lei do cadeado», que impedia o estabelecimento na Espanha de novas ordens religiosas sem a autorização expressa do Conselho de ministros.
A pressão anticlerical parece ceder entre 1912 e 1931 e, em um clima de proteção à ditadura de Primo de Rivera, a escola católica, em suas diversas expressões, não deixa de crescer. Um quadro da evolução das escolas, das comunidades e das vocações maristas na Província Espanha, entre 1919 e 1931, expressa bem esse crescimento. O número de colégios e escolas tinha passado de 60 a 69, o de irmãos de 587 a 813 e o de alunos de 13.023 a 20.246.
A boa saúde da escola católica não podia então deixar de suscitar a preocupação de seus antagonistas. Neste, como em outros temas relativos à «secularização», a proclamação da Segunda República era a ocasião para levar a termo, de forma radical, os objetivos secularizadores. Foi assim que se refletiu no artigo 26 da Constituição de 1931, e de uma maneira mais determinante na Lei das congregações religiosas, de junho de 1933. Segundo o artigo 30 da Lei das congregações, as ordens e as congregações religiosas não poderiam se dedicar ao exercício do ensino, e a Inspeção do Estado cuidaria para que as ordens e as congregações religiosas não pudessem criar ou manter colégios de ensino privados, nem diretamente, nem se valendo de pessoas leigas por interposição. E o artigo 31 dava prazos concretos e imediatos para a entrada em vigor dessas determinações.

Qual foi a reação dos Irmãos Maristas diante das leis secularizadoras que os impediam de exercer o ensino, de criar escolas ou de manter colégios de ensino privados? 
As congregações tomaram conhecimento da nova situação e trataram de se adaptar e de se defender, decidindo medidas oportunas. A principal delas foi a de secularizar sua presença pública, a partir do traje leigo ao invés do hábito, obtendo títulos de docência oficiais, mas principalmente transformando a titularidade jurídica e nominal dos colégios em «mútuos escolares» e transformando juridicamente as propriedades em novas sociedades que depositavam o capital no exterior. O livro do Ir. Teodoro Barriuso sobre o Ir. Laurentino explica muito bem esta transformação obrigada.
As vicissitudes da República foram fazendo aumentar os temores e as esperanças pela sobrevivência. O panorama hostil percebido desde o início (a queima dos conventos em 11 de maio de 1931 afetou alguns colégios), se manteve e cresceu até junho de 1933. A aplicação da Lei das congregações tornaria dificilmente sustentáveis os colégios e as comunidades, mesmo que tivessem a aparência secularizada. Mas, o triunfo do partido católico, a CEDA, nas eleições de novembro de 1933, despertou as expectativas de uma mudança. Ainda que não tenha tido mudança na lei, o novo clima de governo permitiu a sobrevivência dos colégios católicos. A expectativa mudou de novo radicalmente com o triunfo eleitoral da Frente Popular, em fevereiro de 1936. Os governos da Frente Popular retomariam os objetivos e programas reformistas em todos os terrenos, inclusive no da secularização e no da escola.
Além disso, a pressão das bases revolucionárias extravasava a própria legalidade, como por exemplo, a iniciativa municipal de confiscar o colégio marista de Orihuela.
Havia um choque entre a posição do governo, em defesa da legalidade, da aplicação da Constituição e da Lei das congregações, com a pressão revolucionária popular que, lembrando o que tinha ocorrido em outubro de 1934, poderia estourar com toda a sua virulência, assim como realmente aconteceu.
A partir do estouro da guerra já não cabiam nem negociações nem adaptações, mas se impunha a eliminação física das pessoas, dos centros e seus meios de comunicação. A editora Edelvives foi um dos primeiros objetivos a serem destruídos.

Finalmente, a partir do ponto de vista do historiador e do homem de fé, existem algumas lições que a Igreja, e mais concretamente os Irmãos Maristas, podemos aprender com o ocorrido nesse verão de 1936? 
Como historiador e como homem de fé, na linha do pensamento do concílio Vaticano II e no espírito que presidiu a proposta que fez o papa João Paulo II, na ocasião da celebração do jubileu, convidando a Igreja, os cristãos e os católicos a uma revisão autocrítica da própria história, eu convidaria os Irmãos Maristas a fazerem um esforço para verem o passado de maneira compreensiva, mas ao mesmo tempo de uma maneira autocrítica.
Apesar de que atualmente parecem se reproduzir os conflitos entre os partidários que lutaram de um ou do outro lado, eu penso que felizmente o real contexto social espanhol neste momento não tem nada a ver com o contexto dos anos 1930. Nesse sentido, não deveríamos temer. Mas, em todo caso, se deveria procurar evitar alimentar as raízes que levaram a desencadear este conflito, insistindo mais na abertura ao diálogo com os outros a partir do ponto de vista ideológico e social, além de transformar as plataformas, que podem ser potencialmente de conflito, em plataformas de compreensão e de diálogo.

BREVE CRONOLOGIA DA HISTÓRIA DA ESPANHA (1868-1939)

1868 – Revolução contra Isabel II [exilada na França em 30 de setembro]
1870 – Eleição de Amadeu I de Savóia como rei
1872 – Terceira guerra carlista (1872-1876)
1873 – Abdicação de Amadeu II
1873 – Proclamação da Primeira República
1874 – Restauração da monarquia dos Bourbon, com Alfonso XII [filho de Isabel II]
1876 – Nova Constituição e uma «Lei municipal»
1885 – Regência de Maria Cristina
1893 – Atentados anarquistas (bomba no colégio de Barcelona)
1897 – Assassinato de Cánovas (primeiro ministro) pelos anarquistas
1898 – Guerra contra os Estados Unidos
1898 – Perda das últimas colônias imperialistas. Tratado de Paris.
1902 – Maioridade de Alfonso XIII
1909 – Começo da guerra do Marrocos
1909 – Greve geral em Barcelona [A SEMANA TRÁGICA]
1911 – Greves gerais protestando contra a guerra do Marrocos
1912 – Assassinato de Canalejas (primeiro ministro)
1917 – Greve geral revolucionária na Espanha
1921 – As tropas espanholas lutando no Marrocos sofrem o desastre de Anual
1923 – Golpe de Estado de Miguel Primo de Rivera
1927 – Pacificação no Marrocos
1931 – 12 de Abril se declara a Segunda República
1931 – Incendiados conventos em Madri
1932 – Falido o golpe militar do general Sanjurjo
1932 – Autonomia da Catalunha
1932 – Agitação anarquista na Catalunha
1932 – Dissolve-se a Companhia de Jesus
1933 – Revolução anarquista em Casas Viejas (vilarejo da Andaluzia)
1934 – Forma-se o governo da CEDA (Confederação espanhola das direitas autônomas)
1934 – Movimentos revolucionários na Catalunha e nas Astúrias
1936 – A Frente Popular ganha as eleições
1936 – Sublevação do general Francisco Franco em 18 de julho: começa a GUERRA CIVIL
1939 – Fim da guerra civil em 1º de abril
1939 – Governo do general Franco (1939-1975)