20 de outubro de 2009 CASA GERAL

Ao redor da mesma mesa

Um novo livro acaba de sair no caudal da literatura Marista dos últimos anos. Tem por título Ao redor da mesma mesa – A vocação dos leigos maristas de Champagnat, Roma, 2009.

Como o título já o deixa adivinhar trata-se de um livro cujo tema é a vocação do leigo marista. Portanto é um tema que se refere a pessoas, nos mais diferentes estados de vida, casados, solteiros, sacerdotes, que optaram por viver a sua vida segundo a espiritualidade marista, porque se sentem chamados por Deus a essa vocação. Embora neste artigo pense apenas apresentar a estrutura do livro, gostaria desde já de sublinhar o tema do chamado, e de um chamado específico, a viver a sua vida seguindo o carisma fundacional de uma Congregação, pondo em prática a sua espiritualidade e, dentro das possibilidades pessoais de cada um, participando também na sua missão.

Logo desde o início, na apresentação (de 6 de Junho de 2009), o Irmão Seán Sammon fala do “chamado específico” (pag 8) dos leigos em suas vidas, acrescentando logo em seguida: “À medida que procuravam esclarecer sua identidade laical nos anos pós-Concílio, alguns Leigos e Leigas identificaram-se com o carisma de uma ou outra congregação religiosa, acolhido por eles como porto seguro” (pag 9). O livro retoma frequentes vezes este tema e no nº 11 apresenta uma espécie de definição do leigo marista: “O leigo marista é a pessoa que, a partir de um processo pessoal de discernimento, decidiu viver a sua espiritualidade e sua missão cristãs como Maria, seguindo a intuição de Marcelino Champagnat”.

Com a ideia de voltar a este tema e a outros importantes presentes no livro, em outros artigos, fixemo-nos na estrutura deste livrinho que bem pode ser considerado uma última jóia, no já rico acervo de publicações maristas nos últimos tempos. Ainda antes de abordarmos a estrutura, é bom também afirmar desde agora, dois elementos interessantes:

  1. Os conteúdos do livro foram estudados por uma Comissão majoritariamente constituída por leigos: “O Conselho Geral criou uma comissão internacional, formada por sete leigas e leigos e três irmãos, de diferentes idiomas, culturas e histórias pessoais, que trabalhou durante três anos em sua elaboração (pag. 15)”. Convém, no entanto, realçar que foram três leigos de diferentes continentes que redigiram as primeiras versões do texto; do mesmo modo, foi um leigo que deu forma à redacção final, com a ajuda dos restantes membros da comissão levando em conta as sugestões dos leigos e irmãos da maioria das unidades administrativas do Instituto” (pag. 9)
  2. Outro ponto interessante e importante a assinalar é que este livro é fruto da experiência de testemunhos vindos de 92 leigos e leigas do mundo marista dos cinco continentes. Não é um livro de “gabinete” fruto do estudo e da reflexão teórica de alguns iluminados que deixariam no papel o resultado brilhante das suas ideias, sem relação alguma com a vida. Pelo contrário, o livro parte da vida; é a vida das pessoas que transparece em todo o texto. Alguns extractos dos 92 testemunhos são “citados ao longo do documento ajudando o leitor a identificar com mais detalhe os pontos discutidos” (pag.9)

A estrutura do livro é relativamente simples: além da Apresentação e da Introdução, o livro consta de 6 Capítulos que são seguidos por uma Carta Aberta, dirigida, de um modo bastante genérico, aos nossos “estimados irmãos e irmãs” (pag 101). Por fim depois da Carta Aberta há uma série de perguntas referidas a cada capítulo com o título “Guia de Trabalho”.

Os títulos dos capítulos deixam entrever o conteúdo de cada um.

  1. O capítulo 1 (1-35) trata de definir e de apresentar o que é A VOCAÇÃO DO LEIGO MARISTA. Já antes nos referimos ao nº 11 que em poucos termos tenta oferecer uma definição do leigo marista. O nº 13, referindo-se à vocação laical marista e sublinhando ainda a ideia de chamada completa o nº 11: “(A vocação laical marista) é uma chamada pessoal para um modo específico de ser discípulos de Jesus”. Esse modo específico é, evidentemente, o modo marista que segue Jesus como Champagnat o seguiu (cf nº 33, 34; Carta, pag. 102), como Maria o seguiu (cf nº 11, 67, 79, 111).
  2. Os números 34 e 35, os últimos do primeiro capítulo, introduzem os três capítulos seguintes ao mencionar as três dimensões fundamentais, cristãs e maristas. São elas: A MISSÃO (cap 2; 36-64); A VIDA PARTILHADA (cap 3; 65 -99); A ESPIRITUALIDADE (cap 4; 100-123). A referência a estas três dimensões aparece frequentemente no livro, sublinhando, às vezes, a relação entre elas. O nº 123 é paradigmático a este respeito: “Nossa vida se unifica em torno a Cristo nas três dimensões do carisma: a espiritualidade nos envia em missão e gera vida partilhada: a comunhão nos fortalece na missão e plenifica a espiritualidade; a missão descobre novas facetas da espiritualidade e nos faz viver a fraternidade”. (cf n34).
  3. O capítulo 5 (124-148) tenta desenvolver as FORMAS DE RELACIONAMENTO COM O CARISMA MARISTA. É um capítulo de grande importância pois tenta responder a uma pergunta que aparece frequentemente relacionada com o modo ou os diferentes níveis de pertença e de vinculação ao Instituto Marista. O livro, neste campo (cf 135-139), é muito aberto e refere, diríamos quase todas as possibilidades de relação com o Instituo Marista desde as Associações de Antigos alunos até outros grupos de leigos maristas. O mesmo se pode dizer em relação à vinculação ao Instituto Marista: desde uma vinculação formal reconhecida pelo Irmão Provincial até uma relação informal que não pede nenhum reconhecimento (cf 140-143).
  4. O capítulo 6 (nº 149-169) oferece ideias relevantes para descobrir e viver CAMINHOS DE CRESCIMENTO NA VOCAÇÃO. Toda a vocação tem que ser alimentada por itinerários de formação que vamos assimilando ao longo da vida. De outro modo a vocação pode definhar e mesmo morrer. O livro assinala com especial importância a formação permanente (163-169) tanto de leigos sozinhos como de leigos e irmãos conjuntamente. Essa formação, tanto de âmbito provincial como internacional “nos fará olhar muito além de nossos grupos e descobrir novos horizontes para a nossa fé” (164).

A CARTA ABERTA termina da melhor forma o livro. Em estilo epistolar, que não abandona o tom familiar e amigo, os leigos falam da vocação leiga marista como um presente de Deus; sonham também com a missão marista voltada para as necessidades das crianças e dos jovens; reafirmam que querem viver no Espírito mas de um modo marista e que querem caminhar junto com os Irmãos para revitalizar o carisma marista. Retoma alguns temas já presentes na Apresentação e na Introdução e que, depois, aparecem também, de um modo ou outro, nos diferentes capítulos. Podíamos falar da chamada vocacional ou da vocação como um dom; dos três temas fundamentais para serem vividos na vocação laical marista: missão, vida partilhada, espiritualidade; na caminhada vocacional, espiritual e apostólica a ser feita em conjunto por Irmãos e Leigos, uma caminhada onde não falta o selo de Champagnat e a dimensão mariana.

Este livro é bem-vindo. Desde há muito tempo era esperado. Responde a uma necessidade desde há muito sentida no mundo marista. É um verdadeiro regalo para o nosso tempo. O Capítulo Geral de 2009 dar-lhe-á toda a força ao acolher e promover o tema dos leigos como um sinal dos tempos que se impõe na Congregação e sobre a qual não é possível voltar atrás: o carisma de Champagnat é para a Igreja e para o mundo, é para os Irmãos e os Leigos.

Ouvi, aqui e além, algumas vozes, pouco proféticas certamente, temendo que o desenvolvimento do laicato marista poderia conduzir, como contrapartida, a diminuição das vocações consagradas e o enfraquecimento do entusiasmo na promoção da vocação do Irmão. Certamente isso é um erro de visão. E os leigos, de um modo muito claro, não pensam assim.

Escrevo estas primeiras notas sobre este novo livro no dia 4 de Outubro, dia de São Francisco de Assis, talvez o santo mais universal da Igreja. Um santo de “uma sensibilidade inteligente”, dizia o meu professor de História da Igreja, contrapondo-o a São Domingos de Gusmão, um santo de “uma inteligência sensível”. Conhecemos a erupção do franciscanismo na Igreja: mais de 100 congregações religiosas e movimentos laicais que se inspiram na espiritualidade de São Francisco. Nunca ouvi dizer aos meus amigos franciscanos que os movimentos laicais franciscanos lhes tenham “roubado” vacações consagradas. Muito pelo contrário: esses movimentos vivendo e dando vida ao carisma e à espiritualidade franciscanas constituem um húmus natural, um terreno fértil onde podem desabrochar e desenvolver-se vocações franciscanas consagradas.

Não poderá acontecer assim no mundo marista? Porque é que o desenvolvimento do laicado marista, vivendo e integrando na sua vida a missão e a espiritualidade maristas, partilhando das mais diversas maneiras a sua vida com a vida dos Irmãos, não constituiria no futuro uma terra fértil onde desabrochariam e se desenvolveriam as vocações maristas consagradas? Confesso que é um dos meus sonhos.

 

Irmão Teófilo Minga

Roma, 4 de Outubro de 2009


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