24 de abril de 2020 FRANçA

Ir. Paul Sester (1926-2020) arquivista e fundador da erudição marista

Não procuraremos evocar todos os aspectos da rica personalidade do Ir. Paul, que acaba de nos deixar em 5 de abril de 2020. É como um estudioso preocupado em estabelecer as fontes de nossa herança histórica e espiritual que veremos aqui.

Essa vocação lhe veio muito cedo, pois ele me disse que, durante o noviciado e o escolasticado em St. Genis-Laval, em 1942-45, um grande pesar o habitava: as cartas do Fundador, mantidas na mesma casa, eram, todavia, inacessíveis. Durante um período de aperfeiçoamento no curso Jesus Magister, em 1966-67, em Roma, o Irmão Paul pôde finalmente conhecer as cartas de Champagnat e começar a fazer sua cópia. Mas foi somente com sua nomeação como Secretário-Geral, em 1976, que ele teve a oportunidade de se dedicar novamente a essas cartas, com a ajuda de uma equipe dedicada que também o ajudou a reorganizar os arquivos gerais e a começar a transcrever as fontes originais da congregação.

O primeiro resultado tangível desse empreendimento de grande fôlego será a publicação dos dois volumes das Cartas do Padre Champagnat. O primeiro, publicado em 1985, é uma edição crítica das 339 cartas que foram preservadas. Tornando-se arquivista, o Ir. Paul publica em 1987, com a colaboração do Ir. Jean Borne, um volume complementar do “Répertoires” sobre seus correspondentes, os lugares e as circunstâncias históricas da produção destas cartas. Graças a esse trabalho acadêmico, a congregação não se contenta mais com textos e tradições sobre o Fundador, mas possui seus próprios escritos. De alguma forma, lhe é dada a palavra. Mas ainda é necessário que pesquisadores se dediquem a estudar, divulgar e interpretar esta palavra para se tornar o bem de todos os Irmãos.  

Por isso, apareceu em 1991, o nº 1 do “Cadernos Maristas” em quatro idiomas, sendo o Ir. Paul praticamente o editor-chefe enquanto ele residia em Roma, até 1998. Ele próprio escreveu uma dezena de artigos e apresentou documentos importantes. É nesta revista que, em maio de 2017 (nº 35), ele nos descreve detalhadamente “A informatização de nossos arquivos”, apresentando-nos, nesta ocasião, a equipe de seus colaboradores.

O resultado do trabalho desta equipe de copistas equipados com novas ferramentas é impressionante: publicação das “Memórias de Ir. Sylvestre”, em 1992, e três volumes dos “Annales de l’Institut”, em 1993. Muitos outros documentos mais complexos ou menos importantes foram duplicados na forma de cadernos A4: em particular os 12 volumes dos “Annales des Maisons”, que constituem uma riqueza de informações sobre a vida das escolas na França antes de 1880-90; ou ainda os numerosos escritos dos Irmãos Francisco e João Baptista. Por volta do ano 2000, não são mais as fontes que faltam, mas pesquisadores capazes de apreciar sua importância; preparar edições críticas e usá-las de acordo com critérios acadêmicos.

Retornando à França em 1998, o Ir. Paul tornou-se naturalmente arquivista provincial. Obviamente, ele fará parte da Equipe Internacional do Patrimônio Espiritual Marista, criada em 2004 pela administração geral. Uma das tarefas desta Equipe foi ajudar na publicação, em 2011, das “Origines des Frères Maristes”: três volumes nos quais o Ir. Paul reuniu todas as fontes de Champagnat e do Instituto até 1840, e às vezes mais além.

Com a morte do Ir. Paul, tenha terminado, talvez, a geração das grandes individualidades como Pierre Zind, Gabriel Michel, Alexandre Balko, Stephen Farrell, etc. que, através de seu trabalho de estudos e de história, e também sua capacidade de despertar auxiliares e discípulos, estabeleceram de maneira duradoura as bases para um expressivo conhecimento de nossa identidade marista.

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Ir. André Lanfrey, abril de 2020.

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