Carta a Marcelino

Pe. Ferreol Douillet

1836-02-03

Já tivemos ocasião de mostrar como o Pe. Douillet insistiu várias vezes com o Pe. Champagnat em pedir-lhe a abertura de um noviciado na sua região (Cartas n° 59, 65 e 67). Ele tinha interesse em formar religiosos dedicados ao ensino, concretizando desse modo o seu sonho de ser diretor de uma escola normal; mas o Pe. Champagnat não endossava o seu projeto e expressava com firmeza razões em contrário. O Pe. Douillet acaba aceitando as ponderações do Fundador e renuncia ao seu projeto do noviciado próprio. Pede a ajuda de algum Irmão na formação dos seus candidatos e, ao mesmo tempo, anuncia que enviará os seus noviços para l?Hermitage. Esta sua posição será repetida também no documento seguinte, conforme se vê na Carta n° 85. Em novembro de 1835, o Ir. Liguori tinha sido nomeado diretor da escola, em substituição do Ir. Jean-Pierre. O Pe. Douillet não está contente com ele e pede a sua substituição. Efetivamente, o Ir. Liguori atuou somente naquele ano em Côte-Saint-André.

La Côte, 3 fevereiro de 1836.

Senhor superior:

Tenho a honra de vos agradecer de todo o coração os bons desejos que formulais para a minha verdadeira felicidade, as boas disposições de que estais animado em prol da diocese de Grenoble e os bons conselhos que vos aprouve dar-me; esforçar-me-ei para tirar proveito de tudo, para a maior glória de Deus e para a honra de nossa boa Mãe.

O meu desejo de um noviciado em La Côte não era senão porque acreditava ter razões de pensar que Grenoble estava esquecida. Dissestes-me várias vezes, senhor Superior, que havia obstáculos ou, antes, razões contra. Tenho a mesma opinião; entretanto, se o bem da Sociedade em geral e aquele da diocese de Grenoble em particular o reclamam, prestar-me-ei de boa mente. Se comungais a minha opinião, pretendo enviar-vos, tão logo receba a vossa resposta, os mais antigos dos nossos noviços, como compensação pelos Irmãos que dareis à localidade de Miribel, no próximo dia de Todos os Santos, porque não é admissível que em tal época não se possa iniciar pelo menos essa nova escola.

Rogo-vos que nos façais chegar a resposta, quanto antes, por intermédio do novo Irmão que havereis de nos dar. Cumpre seja alguém que siga os noviços por toda a parte, afora na aula, e que possa formá-los no espírito religioso. No nosso caso, será solução útil; há longo tempo que penso nisto; mas onde encontrar tal Irmão ? ireis logo dizer-me. Se não podeis destacar aquele que acompanha os noviços em lHermitage, ou outro, tentai enviar-nos, pelo menos por algum tempo, o Irmão Ambroise ou, na falta desse, o Irmão Justin. Quem sabe se com isso não curamos a doença moral de um e a física do outro.

Não saberíeis acreditar, senhor Superior, como experimento dificuldades em estabelecer a reputação dos novos Irmãos, sobretudo a do Irmão Liguori. Como as mudanças são funestas! Creio que faríeis bem em aconselhar-lhe que deixe comigo a contabilidade, já que está adoentado. Malgrado os meus esforços, os alunos se retiram; entretanto não desespero em sustentar esses queridos e bons Irmãos, a quem posso render constante testemunho de que dão prova da melhor boa vontade do mundo. A chegada do Irmão que tenho a honra de vos pedir encorajá-los-á muito. Rogo que tenhais a imensa bondade, senhor superior, de bem querer transmitir aos Irmãos Louis e Ambroise que estou muito envergonhado por não lhes ter respondido, e que não posso exprimir-lhes quanto sou sensível aos votos de bom ano e aos outros sentimentos lisonjeiros que me testemunharam na sua carta comum.

Tenho a honra de ser, com o mais profundo respeito, senhor superior, o vosso muito humilde e muito dedicado servidor, DOUILLET.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 127.06

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