Carta a Marcelino

Ir. Jean-Pierre

1836-08-11

Ampuis e Vienne são cidades situadas às margens do Ródano, não muito distantes de Lião. Apesar de próximas uma da outra, ambas possuiam escola marista na época do Fundador. Na escola de Vienne, fundada em 1833, era diretor o Ir. Jean-Pierre, autor desta carta. O texto foi escrito em Ampuis, onde o Ir. Jean-Pierre, provavelmente, fazia visita ou consulta aos coirmãos, no início das férias de verão daquele ano. Tratava-se de desaconselhar o Pe. Champagnat a continuar com a escola de Vienne. Em Vienne havia duas grandes paróquias: a de Saint-Maurice, onde era pároco o Pe. Guttin, e a de Saint-André, onde era pároco o Pe. Gilloz. A escola dos Irmãos ficava na pároquia de Saint-André. Ao ver o sucesso da escola dos Irmãos na paróquia vizinha, o Pe. Guttin pediu Irmãos ao Pe. Champagnat, porque também almejava boa escola para Saint-Maurice. O Pe. Champagnat encarregou o Ir. Jean-Pierre de fazer-lhe relato dos locais e das condições da nova escola. Com base na descrição pouco positiva do Irmão e por causa de outras dificuldades, o Fundador negou Irmãos ao Pe. Guttin. Este, desapontado, recorreu aos Irmãos das Escolas Cristãs, que abriram a escola em 1835, fazendo concorrência e dificultando a sobrevivência da escola marista em Saint-André. Nesta carta o Ir. Jean-Pierre, citando o parecer de algumas pessoas, aconselha o Pe. Champagnat a retirar os Irmãos da localidade de Vienne, deixando campo livre para os Irmãos Lassalistas. Sobre esse assunto temos uma carta do Fundador ao pároco de Saint-André ( Lettres, doc. 71), onde o Fundador mostra o seu desacordo com as propostas que o Pe. Gilloz fazia, isto é: os Irmãos morariam em casa alugada e deveriam cobrar dos alunos para manter a escola. A escola de Vienne foi fechada em 1837.

Jesus, Maria, José.
Ampuis, 11 de agosto de 1836.

Meu reverendíssimo Pai, em Jesus e Maria, a vossa bênção.

A última carta que vos escrevi e que foi para pedir ajuda, bem como dar a conhecer os sentimentos do Pe. Gilloz no tocante à escola, vai ser anulada pela presente, pois vos peço que fecheis a escola no final do corrente, se julgais que não retornaremos mais a Vienne, depois do que vos relatei acerca do último encontro com o pároco. Ele disse-me que nada faria para nos alojar, mas que nos daria 100 luíses para comprarmos uma casa, se encontrar alguém que queira ajudá-lo e que, uma vez adquirida a casa, faríamos uma escola gratuita e outra paga, sem que ele se intrometesse em nada, nem sobre as retribuições, nem sobre o número de Irmãos necessários para fazê-las funcionar. Disse que havia escrito ao sr. bispo, antes de vir a Vienne, sobre esse assunto, e que a resposta que recebeu era de que a escola deveria manter-se com as contribuições, senão deveria deixar de existir. Consultei o sr. Petitin, para quem o melhor é deixarmos campo livre, segundo o seu modo de ver.

Saindo da casa do Pe. Gilloz, encontrei uma pessoa que se interessa por nós e que me disse que não confiasse nem um pouco no sr. pároco, pois que ele promete e, depois, esque- ce as promessas. Disse que havia conversado com o sr. Merle, grande amigo do Pe. Michon , que sempre afirmou que não conseguiremos manter-nos e que, se nos aventurarmos em caminhar sozinhos, nos destruiremos. Talvez tenha dito isso porque o sr. pároco lhe pediu.

Necessitaríamos conhecer bem as vossas deliberações, a fim de terminarmos em tempo, e vender a nossa mobília, segundo o que dissestes também aos Irmãos vizinhos. O pároco Gilloz deixa as suas instalações na festa de Todos os Santos. Vão ser ocupadas por uma diretora de pensão, que preferiria as peças que ocupamos. Se resolvermos logo, não pagaremos aluguel, não ocupando o lugar. Enfim, é um labirinto em que nos perdemos; paro aqui. O sol está encoberto. Talvez seja preciso aguardar que o tempo melhore; o sr. pároco é como eu: num mesmo dia, dá esperanças e temores.

Aguardando ser honrado com a resposta, aceitai os sentimentos de submissão, de respeito e afeição daquele que tem a honra de ser, querido Pai, o vosso muito humilde, muito obediente e muito respeitoso filho, em J. e M. Irmão JEAN-PIERRE

P.S. O Pe. Guilhard, pároco de Reventier, quereria um dos Irmãos. Insistiu em que eu intercedesse por ele. Fez o mesmo junto aos padres de Ampuis.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 121.04

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