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Partilhando. A Vocação Marista Laical

Região América Sul: Cinco anos de um sonho e de vivências laicais

Para falar sobre quem somos, é importante recordar as sementes do sonho regional. Desde a década de 1960, a Igreja Católica tem potencializado caminhos para ações cooperativas em todo o mundo. A consciência de que somos todos “povo de Deus” nos motiva a ser missionários e instrumento de unidade na sociedade.

A Região América Sul é uma das seis regiões do Instituto Marista, ela representa a união de cinco Províncias – Brasil Centro-Sul, Brasil Centro-Norte, Brasil Sul-Amazônia, Cruz del Sur e Santa María de los Andes – responsáveis pela missão em sete países. Em 2021, a vida regional completou cinco anos. Em harmonia e comunhão, cerca de 432 Irmãos e mais de 30 mil Leigos, Leigas e colaboradores atuam, por meio de um diálogo fraterno, na cooperação, soma de esforços, e na partilha de boas práticas e recursos. No total, a Região América Sul representa 38% da atuação marista no mundo e compreende 50% das pessoas envolvidas na missão.

A interculturalidade presente no rosto regional

Somos argentinos, brasileiros, bolivianos, chilenos, paraguaios, peruanos e uruguaios que compartilham os mesmos valores. A Região se constitui essencialmente de pessoas. São mulheres e homens que, em comum, se dedicam à continuação da obra de Champagnat.

A interculturalidade é a essência do trabalho, ela se constrói a partir da diversidade de países, idiomas, experiências, conhecimentos, histórias e realidades. O mecanismo que movimenta as iniciativas e projetos é acionado através das parcerias, que oportunizam diálogos, inspiram ideias, pensam alternativas e apontam norteadores para a missão compartilhada.

A vida laical na Região América Sul

Desde a consolidação da estrutura regional, em 2016, iniciou-se um percurso para (re)conhecer os espaços e experiências laicais presente na Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e Peru. Assim, em 2017, formou-se a equipe de Animação Vocacional Regional – que teve como objetivo inicial compartilhar as vivências laicais em cada espaço de missão e compreender de que forma seria possível uma atuação em conjunto.

Escola Vocacional – um primeiro passo

Diante desse contexto, em 2019, foi realizada a primeira Escola Vocacional em nível regional. O encontro contou com a participação de, aproximadamente, 80 pessoas envolvidas com Animação Vocacional das cinco Unidades Administrativas/Províncias integrantes da Região América Sul, além de convidados/as do Instituto Marista. A iniciativa buscou proporcionar uma formação aos participantes e promover espaços para debates e aprofundamentos a partir das realidades e contextos regionais, buscando a consolidação da cultura vocacional. A semana de formação foi composta por uma programação dividida em quatro eixos temáticos: Vida Marista; Teológico e Antropológico; Psicológico e Espiritual; e Pastoral e Vivencial. Essa organização tem o objetivo de oportunizar um acompanhamento vocacional em cada um dos processos desenvolvidos.

A proposta é que seja uma formação com mais etapas. Devido à pandemia, ela precisou ser adiada e realizada de forma virtual.

Contexto atual e a formação de um novo horizonte: Rede de Laicato Regional

Já com cinco anos de muitos aprendizados, desafios apontados e descoberta de novas possibilidades, em 2021, durante um dos períodos mais complexos passados pela sociedade, decidiu-se estruturar um grupo regional para refletir e criar estratégias de conexão e aprendizado conjunto na vida laical – a Rede de Laicato Regional.

O grupo busca reunir as iniciativas de Laicato da Região e fomentar os novos horizontes da missão de Leigos e Leigas na vida marista. Embora jovem, a iniciativa – que nasceu durante um tempo turbulento – demonstra o potencial de mudança e de resiliência presente no projeto. Organizar, planejar e construir uma caminhada nova é um grande desafio que tem como base a jornada do fundador, Marcelino Champagnat. Perceber a vida e o carisma marista, reverberando em espaços de vivência laical, é um farol de esperança para o futuro.

Nossos números

Como é possível perceber, a vivência laical na Região é muito diversa e rica. Por compor espaços heterogêneos ao longo América Latina, temos caminhos laicais construídos de muitas formas. Ao todo, somos 115 Fraternidades do Movimento Champagnat da Família Marista, 10 Comunidades Mistas, 19 Grupos de espiritualidade marista e 57 outros grupos de experiência laical. Nesses espaços, atuam 96 Irmãos Maristas, 782 Leigos e 1309 Leigas, totalizando 2.187 membros.

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O conteúdo disponibilizado aqui tem como referência o material organizado pela Rede de Centros de Memória da Região América Sul. Os dados foram atualizados em março de 2021.

Algumas chaves para a vivência da espiritualidade marista a partir da vocação laical

Raúl Amaya Rivera – Diretor do Secretariado de Leigos

Compartilho com vocês algumas ideias sobre a espiritualidade com o modesto desejo de abrir para a reflexão, para o diálogo e dar um suporte para seguir enriquecendo nosso caminho como maristas leigos.

  1. Espiritualidade Cristã encarnada

Todas nós temos uma dimensão espiritual que vivenciamos de maneira distinta segundo nossa cultura, formação e crenças. É importante ressaltar que espiritualidade não é o mesmo que religião nem está no patrimônio das religiões. Em realidade, qualquer pessoa que vive com profundidade a sua existência, vive com uma determinada espiritualidade que motiva a sua vida, inspira o seu comportamento e configura seus valores e o horizonte do seu ser.

Então, o desafio é adentrarmos em nossa dimensão espiritual e tomar consciência dela, pois aí reside o mais fundo de nosso ser: nossas mais profundas motivações, nosso ideal, a paixão que nos anima, o que damos aos demais, o que oferecemos para a sociedade.

A espiritualidade cristã pretende isso e situa o ser humano diante do mistério da sua existência, o convida a descobrir o verdadeiro sentido da vida e a tomar decisões fundamentais: Qual é o meu Deus? Qual é o centro da minha vida? Onde eu ponho a minha última esperança? Como devo atuar no mundo, nas minhas relações com os demais?

A espiritualidade cristã consiste em seguir a Jesus de maneira que sua experiência de Deus e seu Espírito sejam inspiração para a nossa vida. É nisso que se fundamenta o discipulado cristão e é o que diferencia a espiritualidade cristã da budista, da judaica, islâmica ou de outras espiritualidades (PAGOLA, José Antonio Pagola, Algunas clases de la espiritualidade de Jesús). Então, quando falamos da espiritualidade cristã encarnada, falamos do Espírito Santo e de sua manifestação entre nós, em nossa vida cotidiana, na sociedade, em nossas relações com os demais e com o mundo. Ele está vivo em nós e se faz vida através de nós. Nos move a seguir o Deus de Jesus e a atuar no mundo como consequência. Em “Água da Rocha”, na Introdução, afirma-se que “quando falamos de espiritualidade nos referimos a esse fogo inextinguível que arde dentro de nós, que nos enche de paixão pela construção do Reino de Deus e se converte na força propulsora de nossas vidas, deixando que o Espírito de Cristo nos guie”.

Não existe um caminho fixo na espiritualidade cristã. O itinerário espiritual de cada pessoa é uma decisão individual e uma aventura inédita e original, pois nasce e alimenta-se da experiência íntima do encontro com Cristo que nos transforma. Assim, se queremos experimentar uma espiritualidade viva e atualizada ao nosso tempo, teremos que estar muito atentos e abertos ao Espírito que animou a Jesus e cotidianamente fala ao nosso coração. Aí está a importância do discernimento e do viver experiências que auxiliem o desenvolvimento da interioridade.

  • Espiritualidade Marista

A espiritualidade marista é um dos componentes do carisma marista que dialoga permanentemente com a missão e com a fraternidade. Essa é maneira como vivemos como maristas – leigos, leigas e Irmãos – nossa relação com Deus, inspirada pelo Espírito e que marca profundamente nossa maneira de ser e de agir. “Água da Rocha afirma que “nós vivemos a espiritualidade cristã de uma maneira peculiar: mariana e apostólica. É uma espiritualidade encarnada que surgiu de Marcelino Champagnat e que se desenvolveu depois entre os Primeiros Irmãos – que nos transmitiram essa herança preciosa”. A fonte da nossa espiritualidade é a profunda experiência espiritual que Marcelino Champagnat e os Primeiros Irmãos viveram, juntos, com Jesus e Maria., A espiritualidade marista é cristocêntrica, mariana e apostólica.

  1. Cristocêntrica

Cristo é o fundamento de nossa existência como cristãos e maristas. Essa existência é baseada em viver segundo os critérios de Jesus, filho de Deus encarnado como homem em meio a humanidade (o que faria Cristo no meu lugar?) e identificada e implicada por aquilo que o apaixonou e pelo que Ele entregou a sua vida:

  1. O Reino de Deus e sua justiça;
  2. Sua vivência de Deus como pai bom em quem confia plenamente; e
  3. Docilidade na ação do Espírito Santo que conduz a curar, libertar, potencializar e melhorar a vida das pessoas.
  • Mariana

Como maristas, temos Maria de Nazaré como referência na vida cristã:

  1. Na acolhida para a ação do Espírito Santo e sua confiança plena em Deus;
  2. Nos valores que possuía e nas atitudes que assumiu como mãe que educou seu filho;
  3. No seu processo de discipulado junto ao seu filho (sendo a primeira e mais perfeita discípula);
  4. Na animação da primeira comunidade junto dos apóstolos; e
  5. Em ser nossa companheira de caminho que nos anima e orienta a seguir Jesus. Ela é nossa irmã na fé (Água da Rocha, 29).
  • Apostólica

Nossa espiritualidade é encarnada e vive em meio ao mundo, em contato permanente com as pessoas (Cf. Água da Rocha, 124). Como maristas, nos relacionamos como irmãos e irmãs de todos, em especial, das pessoas marginalizadas. “No apostolado, da mesma forma que Jesus, nos doamos a nossos irmãos e irmãs. Verdadeiramente somos pão da vida para os demais, como Jesus foi para nós” (Água da Rocha, 107).

A missão dos maristas, inspirada em Jesus, Maria e Champagnat, é evangelizar por meio da educação e ser como apóstolos para os jovens e crianças, dando testemunho de nossa vida e nossa presença entre eles. Também servimos suas famílias e a sociedade em busca de fazer da sociedade um mundo mais em sintonia com o Reino de Deus, anunciando a Boa Nova, denunciando e transformando as estruturas injustas. Nossa ação apostólica é comunitária.

  • Alguns pontos de orientação para viver a espiritualidade cristã e marista a partir de uma perspectiva laical

A espiritualidade dos leigos e leigas está inserida no mundo e está a seu serviço, valorizando positivamente a natureza, a sociedade e a história como obra de Deus e como lugar de desenvolvimento do ser humano provocando uma atitude contemplativa e agradecida. Além disso, impulsiona o progresso humano por meio da ciência, da cultura, da técnica, da política e outras áreas através da atividade de trabalho e atuação social (Juan 10, 10).

Também manifesta o amor de Deus a partir da diversidade de opções de vida leiga, com espaço especial na vida matrimonial e familiar. Tendo esses pontos como fundamento, algumas orientações podem nos ajudar a viver uma espiritualidade mais consciente no estilo de vida laical:

  • Viver com atitude alegre, profética e apostólica, como resposta ativa para as chamadas do Espírito no mundo de hoje. Nos comprometemos como construtores do Reino de Deus e sua justiça nos lugares onde estamos inseridos – família, trabalho, política, vida social e cultural – sendo audazes e criativos em anunciar a Boa Nova e denunciar estruturas injustas que oprimem as pessoas, esforçando-nos em transformá-las segundo os critérios do Evangelho. Fazemos isso, preferencialmente, por meio da educação, mas também a partir de outras frentes como a cultural, política, social, … (Evangeli Gaudium).
  • Desenvolver a interioridade através de diversos meios (Juan 10,10), para acolher da melhor maneira a ação do Espírito em um e discernir até onde ele pode nos levar e atuar em consequência de suas ações (A segunda chamada do XXII Capítulo Geral nos convida a “crescer em interioridade para poder descobrir um Deus de amor que se manifesta no ordinário de nossas vidas”). A atitude de oração permanente é fundamental, experimentando diversos modos de oração, pessoal e/ou comunitária, que nos levem ao encontro com Deus e a entrar em sintonia com ele.
  • Compartilhar nossa fé em comunidade, seguindo o exemplo das primeiras comunidades cristãs e a tradição marista da vida em fraternidade. Essa experiência compreende todas as idades, desde os primeiros anos de vida até os idosos. Como maristas, estamos chamados a viver a fraternidade, a nos sentirmos irmãos e irmãs uns dos outros e pôr em primeiro lugar sempre as pessoas. Os movimentos juvenis, as Fraternidades do MChFM, as comunidades laicais, os grupos de espiritualidade e outras tantas manifestações de vida comunitária são testemunho de que a fé se vive e fortalece em união.
  • Ser reflexo de uma Igreja de rosto mariano, onde somos chamados a pôr em prática o significado de visitação (igreja de missão, de serviço), de Pentecostes (Igreja fonte do povo, fraternidade, comunidade) e da Anunciação (A beleza salvará o mundo, espiritualidade – para aprofundar esse ponto, sugiro ler “Nos deu o nome de Maria”, de Ir. Emili Turú).
  • Vivencia dos valores e atitudes de Maria encarnados na vida cotidiana como modelo de seguimento de Jesus: liderança servil, escuta atenta, audácia, valentia no atuar, consciência social (Magnificat) e abertura para a ação do Espírito. A simplicidade do coração de Maria nos inspira e orienta nosso caminho espiritual.
  • Vivencia dos traços do carisma marista  como nosso modo distinto de ser seguidores de Cristo no estilo de Maria e Champagnat e de inculturar o Evangelho hoje: presença amorosa, confiança em Deus, amor por Jesus e seu Evangelho, espírito de família, espiritualidade da simplicidade, amor ao trabalho (Cf. Missão Educativa Marista, 97 ao 123, e Água da Rocha, 15 ao 41).

Como maristas, leigos e leigas, sonhamos viver uma espiritualidade alimentada e sustentada pela experiência da bondade, da proximidade e do amor incondicional de Deus por todos. Uma espiritualidade que tenha como paixão o Reino de Deus e sua justiça e que siga os passos de Jesus. Fazemos esse caminho espiritual acompanhados de Maria de Nazaré e inspirados por Marcelino Champagnat.

Para nossa reflexão

  • O que inspira minha forma de ser e agir? Quais são os valores que me movem? De que fonte eu bebo frequentemente? O que me inspira para viver de determinada maneira?
  • Que experiência de Deus eu tenho? Quem é Deus para mim? Como Ele marca a minha vida e minha forma de agir?
  • O que significa o carisma marista para mim? Como eu vivo o carisma no meu cotidiano? Que chaves ou meios me ajudam a vivenciá-lo?

Reflexões sobre a vida marista

Esmeraldina Laurinda da SilvaBrasil Centro-Norte

Experiências inspiradoras no marista? A vivência da espiritualidade de Marcelino Champagnat. Partindo do princípio de que a espiritualidade é um jeito de ser, a resposta para essa questão indica para ações que às vezes parecem insignificantes, mas que apresentam grandes valores, seja no espaço de trabalho ou não, buscando ser uma pessoa melhor todos os dias com os outros, com o meio, com o que faz e, em minha vida, tomo como exemplo os ensinamentos que ao longo dos anos tenho aprendido com Marcelino Champagnat e os Irmãos Maristas.

Se manifestar por meio de atitudes simples não é tão vantajoso, não aparece muito, não dá ibope, às vezes não enaltece. Um dos Irmãos Maristas me inspira para vivência desses valores, o (falecido) Irmão Luiz Ângelo com quem aprendi muito, um homem que falava baixo, pouco, contava algumas histórias, entregava bilhetinhos aos alunos na hora do recreio, escutava as pessoas e respondia sempre com muita franqueza, cantava e, com suas atitudes simples, fazia as pessoas se sentirem amadas, valorizadas, lembradas. Hoje sou gestora no trabalho, sou mãe, sou esposa, sou pastoralista na igreja, e ele é exemplo para mim, tinha como regras primeiras a simplicidade, humildade e modéstia como Champagnat, atitudes que foram base para os primeiros irmãos e que continua inspirando os gestores maristas. Viver essas virtudes é aceitar as pessoas como elas são e se aproximar delas com sinceridade e generosidade, é procurar saber como se sentem, é oferecer o perdão incondicional e sempre tomar a iniciativa da reconciliação. É também ter um espírito encorajador a assumir um jeito simples de viver evitando consumismo e acúmulo do desnecessário.

Sou preocupada com a insistência da teologia da prosperidade, hoje muito evocada. Um exercício que deturpa e confunde ainda mais os ambientes fazendo prevalecer o interesse e a força do capital. É preciso estarmos mais abertos ao sopro do espírito, isto é, pensar para além da nossa denominação de fé, ou ainda, pensar para além dos muros das nossas igrejas e não só pensar para além dos muros das empresas ou locais de trabalho, buscando superar o olhar meramente do capital, da produção e do lucro.  Isso é possível quando existem provocações, reflexões, ações que repercutam nas coisas simples do dia a dia.

Como eu contribuo para o laicato marista no mundo?

Embora pareça contradição, pois o sistema de gestão entrou em um mundo competitivo e de valores que não tão espirituais, hoje há um grito maior pela defesa da vida e de seus valores na gestão dos processos, dos planos de trabalhos, objetivos, inclusive usando termos apropriados que são da espiritualidade, valorizar, cuidar, termos que expressam algo perene que é próprio da espiritualidade cristã marista. Os sinais de uma empresa espiritualizada se percebem por meio do clima e qualidade das relações: empoderamento, valorização dos colaboradores (política de gestão de pessoas), inclusão étnica, cultural e de pessoas com deficiência. E eu sinto-me implicada nessas ações em meu trabalho, como membro nos conselhos de direitos humanos, fóruns de defesa das crianças, adolescentes e jovens, nos grupos da igreja, em casa com meus filhos e demais familiares, onde eu me manifesto e defendo a vida. Participo de um grupo de leigos, me envolvo com as formações maristas e busco o seguimento de Jesus de Nazaré.  Sou leiga marista onde vivo.

Um jardim de flores, frutos e esperança

João Barbosa de Lima NetoBrasil Centro-Norte

Em 1993, aos quatro anos de idade, ingressei no “Jardim da Infância” do Colégio Marista Pio XII, em Surubim (PE). A entrada foi graças ao empenho e deificação dos meus pais: Profº. José Barbosa de Lima e Profª. Marisa Siqueira de Lima, ambos ex-alunos Maristas e, no momento do meu ingresso, eram professores lá.

Do Jardim ao terceiro ano do ensino médio, tinha consciência de que estava vivendo em um espaço no qual o meu desenvolvimento, enquanto cristão e cidadão, era potencializado não apenas em sala de aula, mas, sobretudo, nos movimentos de pastoral estudantil e no serviço de arte e cultura a partir da música.

O convívio com os Irmãos Maristas me estimulou a entender como ser um cristão leigo capaz de estar atento aos sinais dos tempos na vivência da simplicidade, humildade e modéstia. O exemplo de vida do Pe. Champagnat e suas interpelações à nossa missão enquanto leigo marista, trazem sentido para minha vida desde a entrada no tal “Jardim”. Jardim dos sonhos, utopias, possibilidades, desafios, oportunidades e, principalmente, o jardim da esperança de contribuir na educação e na formação vocacional de tantos adolescentes e jovens que conseguimos encontrar através do Projeto Conexão, em que atuo e vivo minha vocação marista leiga como Agente Vocacional. O jardim se expande junto ao serviço na Comissão Provincial do Laicato, no qual podemos pensar e sonhar ações que possam cultivar os desejos do Pe. Champagnat, inspirados pela Boa Mãe, no chão de cada realidade das unidades da Província.

Acredito que do jardim do nosso mundo provincial estamos conseguindo ser verdadeiros faróis de Esperança, pois estamos construindo pontes entre os anseios do Instituto e as realidades de nossos(as) companheiros(as) que colaboram com a vitalidade da missão, proporcionando itinerários que fomentem a vocação laical em seus jardins da vida.

Ser leiga marista: um precioso dom!

Sara Sánchez Vicuña – Santa Maria de los Andes, Peru – Coordenadora da Rede de Laicato da Região América Sul

Ser marista é um dom precioso que recebi do Senhor junto com a vida e minha família, pois define minha identidade como pessoa, como mulher. Orienta as opções e decisões que tomei em diferentes momentos da minha vida, também me impulsiona a seguir adiante, a empreender, arriscar e ser valente, confiando no Senhor. Ser leiga marista dá sentido e plenitude para minha vida. É berço de sonhos e projetos.

Ser marista também marca o meu caminho de fé, minha experiência e as respostas que dei em diferentes momentos da minha vida. Como marista, como mulher, Maria é meu modelo e companheira de trajetória, a mãe que me consola, me anima a seguir adiante e ter um olhar atento aos demais. Além disso, ela me faz perceber as necessidades das pessoas com quem me relaciono, a tomar iniciativa, a servir e compartilhar a simplicidade da minha vida. Comungo minha caminhada com meus irmãos e irmãs da comunidade Caná desde 2009 – 8 leigos e 3 Irmãos.

Com o tempo, descobri que o dom recebido gratuitamente traz consigo a responsabilidade de compartilhar com outras pessoas e transmiti-lo a novas gerações. É um dom para pôr a serviço em diferentes instâncias de missão pelas quais eu passo: nas sala de aula com estudantes, na animação pastoral, na animação da espiritualidade, acompanhando o caminhar de comunidades leigas no Peru e, recentemente, na coordenação da nova Rede de Laicato da Região América Sul. Uma rede que sonha em ser um espaço de reflexão, que acredita na sinergia unindo as riquezas de cada Província e compartilhando recursos e experiências em torno do caminhar do Laicato marista.

Como leiga marista, sonho que continuemos aprendendo a caminhar juntos, nutrindo-nos do carisma que nos une e ajuda a viver intensamente nossas respectivas vocações. Sonho com que “onde haja um Irmão ou Leigo marista” seja possível compartilhar a mesa da fraternidade, contagiando-nos de paixão por fazer da nossa missão uma comunhão em meio a realidades tão fragmentadas e polarizadas. Não me imagino vivendo outro carisma que não seja o marista.

Champagnat como guia e farol: relato da trajetória apaixonante da Flávia

Flávia de Oliveira Rodrigues Lopes – MChFM – Brasil Centro-Sul

Começo expressando a alegria que nossa família tem de carregar o sobrenome de Champagnat! No ano de 2000, tive o privilégio de ser contratada para trabalhar no Colégio Marista de Maringá (PR) como Produtora Cultural, uma mineira que se instalava em terras paranaense carregando na mochila o sonho de colocar em prática a carreira de comunicadora. Fui acolhida pelo irmão Luiz Adriano Ribeiro que logo, na primeira reunião, me disse: quer trabalhar no Marista? Então sua primeira tarefa é ler o livro, a Vida de São Marcelino com mais de 400 páginas. Assustada, dediquei-me à leitura que logo me despertou um profundo gosto pelas histórias de Champagnat.

Tive o privilégio de conviver com mais dois “Champagnats” em Maringá: Ir. Virgílio, que evangelizava todos com a sua singela frase: Seja Feliz! E o nosso estimado Irmão Alfredinho, que encantava os corredores do Colégio tocando a sua gaitinha… Santos homens!

Trabalhei sete anos em Maringá e tive a oportunidade de viver experiências que foram importantes para o meu itinerário vocacional marista. Destaco o Vivemar (Vivência Marista), uma das experiências mais marcantes da minha fé. Percebi que ser marista vai além dos muros escolares, nossa missão é mais séria: testemunhar em nossa vida o amor por Jesus, atendendo os mais necessitados, principalmente os jovens e crianças. E a missão torna-se mais séria e comprometedora porque carregamos o nome de Maria, nosso eterno recurso habitual.

Conheci meu marido também no Marista, nos casamos e temos uma bela menina, a nossa Maria Clara, de 15 anos. Durante o tempo no Marista, fui me encantando com o carisma e investindo, cada vez mais, na minha fé seguindo os passos de Champagnat. Em uma oportunidade, ouvi falar do Movimento Champagnat da Família Marista (MChFM), pessoas que se reúnem mensalmente para partilhar dos ensinamentos de Marcelino, aprofundar na fé, ter uma convivência fraterna, além de praticar o bem por meio da solidariedade. Logo me encantei e iniciamos, em Maringá, a Fraternidade Rosey, uma caminhada que dura até os dias de hoje.

Em 2007, fui desligada do Colégio, foi um processo difícil, mas já tinha sido seduzida por Champangat e estava decidida que, onde quer que eu estivesse, carregaria comigo os ensinamentos do meu santo educador!

Mudamo-nos para Curitiba. Chegando lá, havia três Fraternidades, que maravilha, podemos continuar nossa caminhada como fraternos. Lembro que estive no velório do Irmão Panini – que saudades desse Champagnat que deu a sua vida pelo MChFM na Província Marista Brasil Centro-Sul!  No seu velório disse a ele: vou montar uma outra Fraternidade em Curitiba e conto com sua intercessão aí do céu! Assim se fez, nasceu a Fraternidade Tesouros de Maria, com colaboradores maristas e ex-alunos. Somos assessorados pelo Irmão Ivo Strobino, nossa enciclopédia valiosa sobre São Marcelino.

Quanto mais a gente conhece, mais a gente ama e quer mais… Fui para minha primeira experiência na Missão Solidária Marista com a minha filha, na cidade de Nova Andradina (MS). Eu gosto de dizer que todos os pais deveriam ir com os seus filhos para uma experiência dessas. Ser esperança, alegria, rezar com as famílias, foi uma das experiências maristas mais marcantes em nossa vida.

A beleza do carisma marista é que, quando nos relacionamos de verdade com ele, seguimos uma trajetória de constante avanço. Temos que sempre ir para águas mais profundas, lançar a rede do outro lado, ser farol de esperança onde está turbulento, ser lar de luz que emana esperança. Sempre me questiono, o que estou fazendo com meu talento marista? Onde tenho feito essa semente dar frutos? E assim é a nossa missão hoje como Leigos Maristas de Champagnat!

Sou uma apaixonada por tudo que ser refere a São Marcelino Champagnat, sua vida, suas cartas, seus ensinamentos e seu jeito de ser.  Em minhas orações, falo com ele: O que o senhor faria se estivesse no meu lugar… E assim é a nossa relação. Dizem que santos são estrelas que nos guiam para seguir os passos de Jesus.  Champagnat é a mais inspiradora estrela da minha vida que sempre está me dizendo: “Torne Jesus Cristo conhecido e Amado”, essa é a sua missão, Flávia!

Uma história em movimento: da sala de aula para a vida marista

Sophia Kath – Brasil Sul-Amazônia

Meu nome é Sophia Kath, tenho 29 anos, sou brasileira e moro no sul do Brasil, na cidade de Porto Alegre, que faz parte da Província Marista Brasil Sul-Amazônia. Faço parte do Movimento Farol e sou referencial do grupo Vagalumes. Sou jornalista, especialista em juventudes e atuo como Agente de Pastoral no Colégio Marista Rosário.

Minha trajetória marista iniciou no ano de 2002 quando ingressei no Colégio Marista Rosário, como estudante. Durante o tempo de colégio, fui conhecendo aos poucos o carisma marista, participando de diversas atividades promovidas pela escola como a Pastoral Juvenil Marista, Grupo de Voluntariado, Grêmio Estudantil, entre outras. Em 2009, ingressei na PUCRS para o curso de jornalismo e acabei me aproximando do Centro de Pastoral e Solidariedade. Participei de alguns projetos da Pastoral e, em 2010, iniciei minha trajetória profissional, atuando até 2018 em projetos de comunicação e como Assessora da Pastoral Juvenil Marista. Também na PUCRS, atuei como Analista de Relacionamento em projetos de integração entre a Universidade e os colégios e, em 2020, iniciei minha atuação como pastoralista no Colégio Marista Rosário, no qual estou atualmente.

Ao longo dessa trajetória como estudante e profissional, tive muitas experiências significativas e marcantes que foram me construindo como Leiga Marista. Acho importante destacar os momentos de retiro, o Vidamar, que é um programa de formação da nossa Província, a Semana Solidária e as diversas vivências que tive na Pastoral Juvenil Marista. Também, em 2011, vivi uma experiência que foi muito significativa e que abriu mais meu horizonte sobre a missão marista no mundo. Tive a oportunidade de participar do Encontro Internacional de Jovens Maristas na Espanha e foi o momento em que comecei a entender a riqueza da diversidade cultural que temos como Instituto e como temos diferentes realidades em cada Província.

Minha identidade de Leiga Marista ainda é muito nova para mim, pois, apesar de já ter alguns anos de vivência na Rede Marista, comecei a me dar conta dessa identidade, principalmente, a partir do momento que comecei no Movimento Farol. Ao olhar para minha história, no entanto, percebo que esse processo iniciou muito antes, e é fruto de todas as experiências e pessoas que tive a oportunidade de conhecer, e sou muito grata pela transformação que tiveram na minha vida.

Em 2018, junto com alguns jovens da minha Província que também tinham o desejo de viver comunitariamente a espiritualidade marista, mas que não tinham se encontrado na experiência de laicato que já tínhamos estruturada como Província, que era o Movimento Champagnat da Família Marista, começamos alguns encontros grupais. É muito importante ressaltar que não foi um não querer ao MChFM, pois admiramos todo o processo realizado pelas Fraternidades, mas, nas conversas que tínhamos, percebemos que gostaríamos de algo novo. Iniciamos um grupo de laicato jovem, não demarcado necessariamente apenas pela idade, mas sim por características que víamos muito presentes nas juventudes. Essa foi uma experiência muito interessante, pois fomos vivendo algumas experiências, mas ainda sem uma organização provincial. Em paralelo a isso, a Província constituiu um GT de Laicato Jovem que fez um processo de escuta e de organização que resultou na criação do Movimento Farol – grupos juvenis de vida marista.

Então, desde 2019, o grupo do qual eu fazia parte, aderiu à proposta do Movimento Farol e, com a entrada de novas pessoas, escolhemos como nome do grupo a palavra Vagalumes, que fala muito sobre sermos luz nos espaços em que atuamos. Sou muito feliz e grata por poder viver essa experiência e ver o Movimento Farol crescendo na nossa Província e fazendo sentido na vida das pessoas que participam. Cabe ressaltar que, mesmo nesse período de pandemia, não deixamos de fazer encontros grupais e provinciais online e atuar para a organização do nosso Movimento. Com certeza, em tempos tão difíceis, o Movimento foi um dos espaços de acolhida e cuidado que tive.

Falar sobre o que eu contribuo para o Laicato Marista no mundo é bem desafiador, pois sempre tenho a sensação de que as diversas vivências que tive na Rede Marista contribuem muito mais na minha formação como pessoa do que eu posso contribuir de volta. Acredito, entretanto, que o Movimento Farol é uma novidade muito bonita para a nossa Província e para o Instituto. De forma especial, acredito no poder transformador das juventudes, e que temos muito a contribuir com o nosso jeito de viver o carisma marista. Consigo perceber no potencial de cada participante do Movimento o quanto ainda podemos contribuir para o Instituto e para seguirmos construindo um mundo melhor em cada lugar em que estamos.

Ser marista leiga

Daniela Costa – Cruz del Sur, Urugai

  Sou Daniela Costa, de Montevideo, Uruguai. Conheci os Irmãos Maristas por meio do movimento adolescente e juvenil Abaré. Alguns anos mais tarde, comecei a ser catequista no Colégio Marista Juan Zorrilla de San Martín. Atualmente, sigo na catequese, sou voluntária no Centro Educativo Comunitário Hogar Marista e estou na área de Vocação Marista na Província.

  Por meio dos Irmãos, conheci e descobri São Marcelino Champagnat e sua maneira de seguir Jesus no estilo de Maria. Aprendi a conhecer Maria de uma nova forma, ressignificando sua presença na minha vida, até senti-la como “meu recurso habitual”. Quase sem me dar conta, fui abraçando esse carisma, e ele foi dando sentido para a minha vida”.

  Na catequese, nas aulas, nos pátios, nas reuniões, nos bairros mais pobres principalmente, o encontro com os outros e outras foi me mostrando o estilo marista de estar no mundo, construindo comunidade, tecendo redes, estando a serviço dos mais vulneráveis e me encontrando com Deus de Jesus vivo em tantas crianças, jovens e adultos que aparecem em meu caminho até hoje.

  Ser marista leiga para mim é viver minha vocação cristã, seguindo Jesus no estilo de Maria e Champagnat, sempre com outras pessoas, construindo fraternidade, com um olhar atento para os acontecimentos mais simples da vida e com a confiança que é em Deus que tudo ocorre e ele que constrói a casa para todos.