Beatificação de 47 irmãos maristas mártires na Espanha

02/11/2007

Os preparativos para a festa, na Casa Generalícia
Chegam ao fim os preparativos, na Casa geral, em Roma. Os mais pontuais são os que chegam de longe: Malásia, Brasil, Argentina, EUA e outros. As distâncias e as dificuldades de viagem exigem partir em tempo. Logo mais chegará o grupo maior, o espanhol. Calcula-se que deverá beirar a mil pessoas, entre irmãos, familiares, colaboradores dos irmãos e amigos.
Os peregrinos que visitam a Casa geral encontram algumas novidades, próprias do acontecimento. Antes de mais nada, a fachada da casa ostenta o emblema marista da beatificação, rodeado pelas fotos de 47 irmãos maristas martirizados, na Espanha, em forma de grande painel que proclama, aos quatro ventos, a santidade dos novos beatos. Na entrada da casa, a estátua de Maria, em visita a sua prima Isabel, acolhe os visitantes, ladeada pelos Irmãos Bernardo, Laurentino e Virgílio, nomes que encabeçam a lista das causas de beatificação. A escada principal, que dá acesso ao andar do Conselho geral, nos permite ler, degrau após degrau, uma frase do Irmão Diógenes, Superior geral quando do martírio dos novos beatos, expressando os sentimentos de dor e de confiança que o acontecimento provocava. A capela dos superiores constitui-se em relicário marista, onde se conserva o altar usado por Marcelino, além do retrato original, pintado por Ravery, poucas horas após a morte; a imagem da Boa Mãe e a falange de um dedo da mão direita de Marcelino, conservada num relicário de ouro. Pode-se visitar também a sala do Conselho, onde estão expostos diversos documentos maristas e rostos de crianças, sempre presentes na reflexão, no estudo e nas decisões do Conselho geral.
O corredor, em que se perfilam as imagens dos Superiores maiores, acolhe uma exposição, relativa aos mártires, em que se destacam cinco motivos. O primeiro é o anúncio que dá unidade ao conteúdo da exposição: o convite de Jesus a tomar a cruz e a segui-lo, convite já escutado por 37.586 pessoas que fizeram sua profissão religiosa como maristas, desde as origens do Instituto até nossos dias. O segundo é uma homenagem à santidade na Congregação, destacando Marcelino, os mártires e confessores cujas causas foram introduzidas.
O terceiro motivo reúne alguns irmãos mártires agrupados segundo características comuns. Assim os irmãos que serviam na enfermaria de Les Avellanes e os de Lleida, que atuaram como enfermeiros, quando o colégio foi convertido em hospital, para acolher os feridos que vinham da frente de guerra. Igualmente a homenagem às mães de todos os mártires, sabendo-se que dois dos mártires eram manos; outro que garantia dever a vocação às orações de sua mãe e um quarto que escrevia cartas de muito valor à sua genitora.
Os irmãos maristas mártires da Espanha viveram e morreram em comunidade. Esta é a quarta motivação. Como metáfora, uma equipe esportiva de irmãos mártires realça as virtudes que eles praticavam em comunidade. O mestre de noviços e o diretor do Escolasticado, que também morreram, estão ao lado deles como os ?treinadores?, em vista da vida espiritual. E finalmente, o quinto motivo alude aos irmãos que, com a pedagogia marista, lutaram em favor da escola cristã. O percurso da exposição se conclui na grande capela, onde os nomes dos 47 irmãos mártires formam uma coroa, em torno de uma grande cruz e do círio pascal.
Estes são alguns preparativos materiais. Por detrás desses detalhes e arranjos está a alegria da fraternidade e o coração aberto para que quantos queiram visitar a casa sintam-se à vontade e possam celebrar uma festa de beatificação.

Irmãos e alunos visitam a Casa generalícia
Ao longo do dia 26, sexta-feira, véspera da beatificação, a Casa geral acolheu dois grupos de alunos da Alemanha e um bom número de irmãos, provenientes de diferentes partes do mundo. Aproveitaram a oportunidade para percorrer tranqüilamente a exposição relativa aos irmãos mártires, disposta no corredor dos Superiores, e concluir o percurso com um tempo de oração, na capela central. Uma grande cruz fora disposta ante o altar e, pouco à frente, o círio pascal rodeado de 47 lâmpadas que iluminavam o nome de cada um dos mártires.
Uma presença muito significativa foi o Irmão Francisco Peruchena Ollacarizquieta (Policarpo Luís),
companheiro dos mártires na prisão; não foi morto, mas sobreviveu para ser, hoje, com seus 91 anos, testemunha viva do que ocorreu. O Irmão Francisco Peruchena nasceu em Sarasa, Navarra, no dia 22 de outubro de 1916.
No final da tarde, o Irmão Superior geral e seu Conselho compartilharam uma hora de oração com os Conselhos gerais dos ramos maristas, mais o Bispo de Burgos, Dom Francisco Gil Hellín, e o embaixador da Espanha junto à Santa Sé, o Sr. Francisco Vázquez. Reunidos no significativo espaço da parte superior da escada central, proclamaram o nome dos novos beatos, intercalando o canto do Magnificat. A celebração foi concluída com o canto da Salve Regina. Neste mesmo local fora montada uma sugestiva composição com raízes secas, entre as quais surgiam, surpreendentemente, coloridas flores e, no centro, um feixe de espigas de trigo. Em quatro línguas, explicava-se o sentido de tudo isso: ?Em meio ao mal, Deus sabe tirar o bem?. O encontro foi encerrado com uma janta, servida aos convidados, no refeitório da Villa EUR.

Encontro dos maristas no santuário da ?Madonna del Divino Amore?
No sábado, dia 27 de outubro, os Irmãos, familiares diretos dos novos bem-aventurados e os peregrinos maristas encontraram-se com o Conselho geral e com os irmãos da Administração geral, no santuário da ?Madonna del Divino Amore?, nos arredores de Roma. No encontro orante, tomaram parte cerca de mil peregrinos, provenientes das várias partes do mundo: Malásia, Argentina, França, Venezuela, Brasil, Alemanha, Grécia, Chile, USA, Canadá, Holanda, Grã- Bretanha, França, Venezuela, América Central, Paraguai e, especialmente, da Espanha. Durante duas horas, mediante, cantos, leituras, encenações e procissão de símbolos, celebraram a memória dos mártires, no moderno templo do santuário. O Irmão Luís Garcia Sobrado, Vigário Geral, saudou as delegações de todos os países, entre as quais destacava-se uma representação de peregrinos jovens, constituída de uns duzentos alunos da Espanha, Itália e Alemanha.
A celebração ressaltou a fé e a esperança dos irmãos mártires. Quatro símbolos representaram o fogo e a paixão que eles traziam em seu coração. Entrou, em primeiro lugar, o círio pascal, luz que se põe no candelabro para alumiar a todos os que estão na casa. Em seguida, foi trazida, processionalmente, a Palavra, lembrando aos presentes que são bem-aventurados os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática. O terceiro símbolo era um feixe de espigas de trigo, evocando as sementes de vida em que se transformaram as vidas fecundas dos irmãos. Finalmente, a quarta alegoria eram dois grandes pães de forma, sugestivamente dourados no forno. O grão de trigo que cai no chão e morre produz muito fruto. A simbologia, acompanhada de cantos e reflexão, preparou os presentes para a proclamação das bem-aventuranças.
O Irmão Seán Sammon, no pronunciamento que aparece na página web, dedicada às beatificações, recordou o dom da vida dos novos bem-aventurados. Lembrou sua juventude, sua origem de famílias humildes, a simplicidade de seu trabalho, mas sobretudo a compreensão que tinham de que ?Jesus devia ser o centro de suas vidas?. ?Em cada geração, há uns poucos que conquistam a grandeza de entregar livremente suas vidas. São os que valorizam mais a Deus do que a própria vida?.
Observou Seán que ?os mártires são perigosos. Não por sua crença, mas porque estão dispostos a colocar sua crença em prática?. Convidou os presentes a tirar duas lições da vida e da morte desses Irmãos: Levar a sério o Evangelho, como o fizeram esses irmãos e entregar a vida em favor do Evangelho. E concluiu sua intervenção, proclamando o nome de cada um dos Irmãos mártires, precedido da palavra ?bem-aventurado?.
Em seguida, enquanto se cantava a ladainha dos novos bem-aventurados, quarenta e sete pessoas, de diferentes idades, foram se aproximando do altar, em procissão, portando ramos de palmeira. Esses ramos significavam o triunfo daqueles que morreram pela fé em Jesus Cristo. O quadro se completou quando os familiares dos mártires emprestaram um rosto a cada um dos ramos, ocupando os degraus do altar. Foi um momento muito emocionante.
A cerimônia foi concluída com a consagração de todos os presentes à Boa Mãe, venerada, no santuário, como ?Madonna del Divino Amore?. Depois, os grupos se organizaram, no parque, para comer o que tinham trazido, para o meio-dia.
Ainda no mesmo dia, às 18h30, teve lugar a cerimônia de acolhida aos peregrinos, na Basílica de São Paulo Extramuros, organizada pela Conferência Episcopal Espanhola. Constou de música, testemunhos sobre alguns mártires e oração. Dom Ricardo Blásquez, bispo de Bilbao e presidente da Conferência Episcopal, dirigiu uma saudação aos peregrinos. Interveio também o arcebispo de Sevilla, Cardeal Carlos Amigo, com uma alocução sobre as bem-aventuranças: Quem são e donde vêm esses mártires. Houve uma homenagem musical, incluindo os hinos em louvor aos 498 mártires do século XX, na Espanha, executados pelos coros da catedral de Almudena, de Madri, e pela Filarmônica romana.

Cerimônia de Beatificação na Praça de São Pedro
A cerimônia de beatificação mais numerosa da história, a de 498 mártires do século XX, na Espanha, foi celebrada na Praça de São Pedro do Vaticano, no dia 28 de outubro de 2007, com grande solenidade. Entre eles havia 47 Irmãos maristas. Desde as primeira horas da manhã, os fiéis começaram a acudir à Praça de São Pedro, e entre eles, um numeroso grupo de peregrinos maristas, oriundos de diversas latitudes, especialmente da Espanha. A partir das 9h15 foram entoados cantos e foram lidos testemunhos dos próprios mártires, para motivar a celebração. O primeiro texto lido foi a exortação que o Irmão Laurentino dirigira a seus irmãos, meses antes de morrer: ?Agora é tempo de mostrar até onde vai a fidelidade que jurastes ao Senhor?. O texto pode ser lido, na web: http://www.champagnat.org/es/220411006.htm Esses testemunhos arrancaram aplausos da multidão.A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Dom José Saraiva Martins, como delegado do Papa. Acompanharam-no os bispos espanhóis presentes em Roma e os Superiores gerais das ordens e congregações religiosas. O Irmão Seán e o Irmão Luís Sobrado ocuparam um lugar preferencial, junto às autoridades.
O rito de beatificação foi iniciado pelo arcebispo de Madri, cardeal Antonio Maria Rouco Varela, à cuja arquidiocese pertence o maior número de mártires; ele aproximou-se do altar, acompanhado pelos bispos das dioceses em que foram instruídas as 23 Causas, e dos postuladores, entre os quais, o Irmão Giovanni Bigotto, para solicitar ao Papa Bento XVI a inscrição dos mártires, no catálogo dos bem-aventurados.
Ato contínuo, os bispos enumeraram as causas de suas respectivas dioceses, segundo a data de instrução das causas; Barcelona (Irmãos Laurentino, Virgílio e 44 companheiros), Burgos (Irmão Bernardo), Toledo, Cuenca, Ciudad Real, Mérida-Badajoz, Madrid, Oviedo, Jaén, Santander, Cartagena e Gerona. O arcebispo de Madri concluiu o pedido de beatificação, em nome de todos os bispos. O Cardeal Saraiva leu, então, a Carta apostólica do Papa na qual se autoriza a veneração desses servos de Deus como bem-aventurados e estabelecendo a festa para o dia 6 de novembro. A assembléia aplaudiu com entusiasmo, enquanto se desvelava o emblema oficial da beatificação. O rito da beatificação foi encerrado com as palavras de agradecimento do Cardeal Rouco Varela. Em seguida, prosseguiu a celebração da Eucaristia. O hino oficial ?Semillas de Paz?, interpretado pelo coral da Catedral de ?La Almudena?, de Madri, encerrou a cerimônia.
Na beatificação estiveram presentes 71 bispos espanhóis, em torno de mil sacerdotes diocesanos e religiosos, mais de dois mil e quinhentos familiares de mártires e uns 40 mil fiéis. Por parte dos maristas, participaram uns cem familiares diretos, trezentos irmãos e em torno de mil peregrinos.
A cerimônia pôde ser seguida, ao vivo, pela Internet, através da Televisão do Vaticano e na página web da Conferência episcopal espanhola.

Recepção dos irmãos maristas, na Casa generalícia
Na tarde do domingo, os Irmãos que haviam participado da festa da beatificação, em torno de 300, foram acolhidos na Casa geral. Iniciou-se com uma oração, na grande capela, em torno da grande cruz, erguida diante do altar, onde se lia a frase: ?Perdoamos como Jesus perdoou. O nome dos novos bem-aventurados, com uma cruz, estavam impressos em faixas, dispostas em torno do círio pascal, ladeados por lâmpadas acesas, símbolos da fé.
O Irmão Seán destacou a fidelidade dos mártires, homens simples, com vida semelhante à dos irmãos aí presentes, mas que souberam responder até as últimas conseqüências. Felicitou a todos por esse acontecimento de família e expressou seu agradecimento aos que diretamente haviam trabalhado no processo das causas de beatificação.
O Irmão Luís García Sobrado, Vigário geral, convidou os Irmãos Lucio Zudaire, Toni Torrelles, Timoteo Pérez, Jesús Martínez, Gregorio Acero y José Luis Melgosa, ali presentes, a virem para frente, próximo ao presbitério, por serem parentes de irmãos mártires e testemunharem, ao vivo, que o sangue dos mártires maristas é semente de novas vocações.
A oração terminou com o canto do ?Sub tuum praesidium? e a entrega de uma lembrança do acontecimento para cada Irmão. Seguiu-se um coquetel muito fraterno e caloroso.

Missa de ação-de-graças, na Basílica de São Pedro
Na segunda-feira, dia 29 de outubro, às 10h, foi celebrada uma missa de ação-de-graças, na Basílica de São Pedro, presidida pelo Cardeal Bertone, Secretário de Estado. Concelebraram os bispos espanhóis, presentes em Roma, e o arcebispo de Toledo, Cardeal Antonio Cañizares, expressou, em nome de todos, sua gratidão ao Papa e a todos os presentes.

Uma exposição sobre os irmãos mártires
A Casa geral foi visitada por muitas pessoas, durante os quatro dias da festa da beatificação. Puderam conhecer a reforma feita na ?Sala Champagnat?, onde estavam expostos alguns documentos originais de São Marcelino, como seu passaporte, algumas de suas cartas, uma capa magna que estivera a seu uso. Também constava do roteiro a capela do Conselho geral, a sala do Conselho e o corredor dos Superiores, onde estavam expostos muitos símbolos, quadros e lembranças dos irmãos mártires, sob o lema ?Toma tua cruz e segue-me?. Na história marista, já reponderam ao convite do Senhor um total de 37.586 pessoas que professaram no Instituto. Todo o corredor estava tomado por evocações da vida dos novos bem-aventurados e das circunstâncias em que desenvolveram seu apostolado educativo. A caminhada se concluía na capela central, com um momento de contemplação e de ação-de-graças.
Foi particularmente emocionante a visita de um grupo de Irmãos que tinham conhecido pessoalmente os mártires, bem como a visita feita por seus familiares.

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