14 de junho de 2018 ITáLIA

?Que suas vidas se convertam em bela canção?

A comunidade Lavalla200>, de Siracusa, Itália, nasceu em outubro de 2016, para atender principalmente as crianças os jovens refugiados, não acompanhados, que desembarcam na Itália.

Atualmente, seus membros são Gabriel Bernardo da Silva (Brasil Centro-Sul), Ir. Onorino Rota (Mediterrânea), Mario Araya Olguín (Santa María de los Andes) e Ir. Ricardo Gómez Rincón (Norandina).

Segue o testemunho publicado no Boletim de Notícias da comunidade n.o 24, no dia 10 de junho.

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No dia 15 de abril, desembarcaram no porto de Augusta, 218 imigrantes. Três ambulâncias chegaram antes do início da operação de desembarque, sinal de que a bordo havia pessoas passando mal e que deveriam ser levadas com urgência ao hospital. Na primeira ambulância subiu Nabilah, uma jovem de 20 anos que foi levada ao Hospital Umberto I, de Siracusa. Numa cesárea de urgência, deu à luz dois gêmeos de 1,6kg. A notícia apareceu nos meios de comunicação e os jornalistas fizeram fila para obter notícias. Depois, como sucede sempre, silêncio…

Um de nós foi chamado ao hospital para falar com Nabilah, que vinha de Costa de Marfim e que, além do seu idioma, mal se arranjava para fazer-se entender em francês.

Como todos os jovens de sua idade, havia encontrado o noivo do seu coração, porém seu pai exigiu que se casasse com um homem muito mais velho do que ela. Não havia alternativa, a única solução era fugir, e escapou com o consentimento de sua mãe. A viagem feita com seu noivo, durou mais de um ano. Problemas experimentados durante a viagem… podemos imaginar as dificuldades que encontraram. Na passagem pela Líbia, ambos sofreram todo o tipo de torturas e violência, como todos, das quais as redes sociais agora começam a mostrar-nos algumas imagens. Nabilah ficou grávida e, segundo entendi, não sabe se os filhos são de seu noivo ou resultado da violência sofrida. Fez-me essa confissão apoiada na incubadora onde estão seus dois pequenos e, chorando, me disse: “São brancos!”

A viagem da Líbia para a Itália foi longa e complicada, os dois barcos que recolheram os refugiados desembarcaram-nos em portos diferentes e até agora Nabilah não tem notícias de seu noivo. Ela viajava numa lancha cheia a transbordar, não podia mover-se e passava muito tempo de pé porque não havia lugar para sentar-se e muito menos para deitar. Depois de um dia e meio de navegação, advertiu que o bebê (ainda não sabia que eram dois) já não se movia. E quanto subiu ao barco da Guarda Costeira, as pessoas de bordo lhe proporcionaram o tratamento necessário, porém imediatamente compreenderam a gravidade do caso e avisaram a IRC de Augusta.

Agora Nabilah está num centro próximo a Siracusa e algumas vezes vai ao hospital para ver como crescem os dois pequenos. Eu, não pelo tempo, mas porque não tive ocasião de conversar com calma, perguntei-me: Como está vivendo este momento? Como fará para dar carinho para as duas criaturas que levou em seu ventre, e que, talvez, sem tê-lo querido, são o resultado da violência e não do amor? Que efeito terá em sua vida aquela frase dita entre lágrimas: "São brancos"?

Talvez, estou me fazendo perguntas demais! Só espero que o sorriso de Deus, da mãe e de outras pessoas de coração grande, possam dar a essas crianças todo o calor que necessitam para conseguir que suas vidas se convertam em uma bela canção.

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