A RD do Congo chora seus filhos: está inconsolável
1. Nós, Arcebispos e Bispos, membros do Comitê permanente da Conferência Nacional do Congo, reunidos em Kinshasa, em sessão extraordinária, de 10 a 13 de novembro de 2008, aflitos e transtornados com a tragédia humana, no Leste e Nordeste da RD do Congo, lançamos um grito de angústia e de protesto. Com efeito, passou exatamente um mês desde que nossa Conferência Episcopal Nacional do Congo, por seu Presidente, fez uma declaração relativa à retomada das hostilidades no Leste e Nordeste da RD do Congo.
Apesar de nossos apelos patéticos, tanto aos nossos governantes quanto à comunidade internacional, infelizmente, a situação nessa parte de nosso país piora sempre mais. Está atingindo proporções insuportáveis, muito inquietantes e capazes de desestabilizar toda a sub-região, se medidas não forem tomadas. Sim, hoje, como diz a Escritura: uma voz foi ouvida na RD do Congo, choro e grande lamentação; é Goma, Kiwanja, Dungu…, é a nação inteira que chora seus filhos e não quer ser consolada, porque eles já não existem (cf. Mt 2, 18).
Genocídio silencioso?
2. Um verdadeiro drama humano, semelhante a um genocídio silencioso, desenrola-se sob o olhar de todos, no Leste da RD do Congo. Os massacres gratuitos, em grande escala, das populações civis, o extermínio preferencial dos jovens, as violações sistemáticas perpetradas como arma de guerra: novamente uma crueldade de excepcional virulência desencadeia-se contra as populações locais que nunca exigiram mais do que uma vida pacífica e decente, em suas terras. A quem interessa esse drama?
3. O mais lamentável é que esses fatos infelizes acontecem sob o olhar impassível daqueles que receberam o mandato de preservar a paz e de proteger a população civil. Nossos próprios governantes mostram-se impotentes diante da amplidão da situação, dando a impressão de não estarem à altura dos desafios da paz, da defesa da população congolesa e da integridade do território nacional. A inteira classe política parece não conceber a dimensão de sua responsabilidade, diante desse drama que risca de hipotecar o futuro da nação.
Recursos naturais e plano de balcanização : fio condutor da guerra.
4. É evidente que os recursos naturais da RD do Congo alimentam a cobiça de algumas potências, que sabem da violência imposta à população. Com efeito, todos os conflitos acontecem em torno de objetivos econômicos e dos poços de mineração. Como se pode compreender que os diversos acordos sejam violados sem uma pressão eficaz para constranger os signatários a observá-los?
As várias conferências e reuniões, para resolver essa crise, nunca abordaram as questões de fundo e nada mais fizeram do que procrastinar e decepcionar as legítimas expectativas de paz e de justiça de nosso povo. Além disso, o plano de balcanização que não paramos de denunciar é executado por pessoas intermediárias. Tem-se a impressão de uma grande cumplicidade que não revela seu nome.
A grandeza da RD do Congo e suas numerosas riquezas não podem servir de pretexto para transformá-la em terra selvagem. Pedimos ao povo congolês de não ceder a qualquer veleidade de balcanização de seu território nacional. Recomendamos de nunca subscrever uma reconsideração de suas fronteiras, internacionalmente estabelecidas e reconhecidas, desde a Conferência de Berlim e acordos ulteriores.
Condenação
5.- Condenamos veementemente este modo ignóbil de considerar a guerra como meio para resolver os problemas e para chegar ao poder. A ordem institucional em nosso país, resultante das eleições democráticas, deve ser salvaguardada.
– Denunciamos todos os crimes cometidos contra cidadãos pacíficos e desautorizamos de modo absoluto toda a agressão ao território nacional.
– Reprovamos o laxismo com que a Comunidade internacional trata o problema da agressão de que é vítima nosso país.
O que pedimos?
6. Pedimos insistentemente a suspensão das hostilidades e a garantia de condições de segurança para que os prófugos retornem a suas terras.
7. Com urgência, apelamos à solidariedade nacional e internacional em favor de um aumento da ajuda humanitária, para os milhares de homens, mulheres e crianças amontoados em campos de refugiados.
8. Convidamos toda a população congolesa a uma tomada de consciência nacional em favor da convivência fraterna, na solidariedade e na unidade nacional, para que a RD do Congo não submerja na violência e na divisão.
9. Exortamos o Governo congolês a empreender todo o possível para restabelecer a paz em todo o território nacional. É dever sagrado de nossos governantes exercerem suas funções de direito para proteger o povo e garantir a segurança nas fronteiras. Ninguém ignora que a ausência de uma armada republicana é prejudicial à paz, no país.
10. Pedimos à Comunidade internacional de comprometer-se sinceramente em fazer respeitar o direito internacional. Consideramos necessário o envio de uma força de paz e de estabilização para restabelecer o estado de direito, em nosso país. Todos ganharão mais com um Congo em paz do que com um Congo em guerra.
Compromisso da Igreja
11. Solidária com o sofrimento de seu povo, a Igreja, família de Deus que está na RD do Congo, compromete-se a acompanhar seus filhos e filhas magoados, para reconduzi-los no caminho da reconciliação e da paz. Ela exprime seu reconhecimento ao Santo Padre, Bento XVI, por sua atenção ao drama da RD do Congo, seus apelos reiterados em favor de uma solução pacífica e pela ajuda financeira que concedeu para aliviar as populações deslocadas.
12. Queira o Senhor – que vigiou durante horas no jardim do Getsêmani e acolheu, como feitos contra si, todos os sofrimentos infligidos e impostos aos membros de seu corpo (cf. Mt 25,31-46) ? queira Ele vigiar conosco e sustentar-nos, diante do drama que aflige nosso país.
A Santíssima Virgem Maria, a Rainha da paz, obtenha a paz para nossa querida pátria!
Kinshasa, 13 de novembro de 2008.