Carta a Marcelino

Mons. Simon Cattet

1837-08-27

Mons. Cattet teve ocasião de conhecer o trabalho dos Irmãos na escola de Neuville e ficou muito decepcionado com o proceder do Irmão diretor. Nesta carta ele informa o Pe. Champagnat sobre as incoerências do Irmão e sugere a sua transferência. Também lhe dá a conhecer o pedido de um sacerdote da diocese de Viviers, que solicitava Irmãos. Na diocese de Viviers, onde era bispo D. Pierre-François Bonnel, os Irmãos já atuavam em duas localidades: Boulieu e Peaugres. Poucos dias depois de ter escrito esta carta ao Pe. Champagnat, Simon Cattet recebeu do Pe. Vernet, vigário geral em Viviers, um comunicado que interditava o estabelecimento dos Irmãos Maristas na diocese de Viviers. Imediatamente Cattet passou tal comunicado ao Pe. Champagnat que, com muita humildade, escreveu aos párocos de Boulieu e de Peaugres, informando a sua intenção de retirar os Irmãos, em respeito àquela diretiva. O Pe. Champagnat também escreveu bela carta ao bispo de Viviers, manifestando a sua submissão (Lettres, doc. 148, 149 e 150). Sabe-se que, finalmente, os Irmãos não tiveram que sair da diocese de Viviers, pois o bispo anulou a interdição expedida pelo seu vigário geral Pe. Vernet. Recordemos que o Pe. Vernet era o superior dos ?Irmãos da Instrução Cristã de Viviers?, pequena Congregação que, mais tarde, em 1844, se uniu ao Instituto dos Irmãos Maristas.

Lião, 27 de agosto de 1837.

Senhor:

O pároco de lArgentière, na diocese de Viviers, roga-me que vos peça Irmãos para a sua paróquia, que conta de três a quatro mil almas.

Esta tarde respondi-lhe que provavelmente não tendes elementos disponíveis para este ano, mas que ireis examinar bem a sua petição, e que lhe respondereis para indicar as condições, se acedeis aos seus rogos. Fiz observar ao sacerdote que tendes compromisso prioritário na nossa diocese e que conseguis com dificuldade prover às nossas necessidades. Vereis, portanto, se mais tarde podeis responder favoravelmente à carta obsequiosa desse digno pároco.

Passei três semanas em Neuville por causa da minha saúde. Diversas vezes vi a escola. Não posso esconder-vos, meu caro Pe. Champagnat, que o Irmão superior me pareceu muito aquém da posição que ocupa, e que o estabelecimento baixou de nível, desde a partida do bom Irmão que lecionava na primeira classe. O Irmão superior, a quem quis servir durante a minha estada em Neuville, pretendeu enganar-me em vil intriga, que vos relatarei na nossa primeira entrevista. Tive de falar severamente a esse Irmão.

Mas, independentemente da sua má farsa, de que não desconfiava, e que não me ofende pessoalmente, percebi que esse homem é uma espécie de imbecil, que não pode fazer o bem em Neuville. Pensareis, sem dúvida, em mudá-lo. Acordamos o pároco e eu que chamásseis de volta esse Irmão nas férias; pessoalmente não lhe desejo senão o bem.

Sou, com dedicação, caro Pe. Champagnat, o vosso humilde servidor, CATTET, vigário geral.

P.S. Conheço suficientemenete o pouco critério do Irmão diretor de Neuville para grangear-se mérito junto a vós acerca do seu procedimento ou dos seus processos no negócio de que vos falarei. Suspendei o vosso julgamento até a nossa entrevista.

Edição: S. Marcelino Champagnat: Cartas recebidas. Ivo Strobino e Virgílio Balestro (org.) Ed. Champagnat, 2002

fonte: AFM 124.14

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