15 de janeiro de 2011 CASA GERAL

Tornar-se próximo

Pedro estava sentado sobre a mala, colocada no chão, tendo a seu lado mais outras três grandes bolsas, com alhos e bugalhos. Trazia a barba cinzenta, um pouco à moda dos andarilhos. Chegamo-nos a ele, três moças e eu. Estávamos no interior da estação ?Tuscolana?, em Roma. Eram 21h da terça-feira que precedeu o Natal de 2010. Perguntamos a ele:- Onde vai passar a noite? – Aqui, na estação. – Sobre o assoalho? Faz frio e as portas da estação estão abertas. – Tenho uma boa coberta e neste canto está um pouco menos frio. Estou acostumado. – Mas você não tem família?- Sim, tenho irmãs; mas faz uns trinta anos que cortei todo contato. Pedro era espontâneo e mostrou surpresa pelo fato de pessoas desconhecidas se interessarem por ele. Seus olhos continuavam como os de uma criança.Então, uma das moças, a mais nova, apenas adolescente, acocorou-se perto dele, pegou-lhe uma das mãos e apertou-a fortemente entre suas duas mãos. Depois, inclinando-se mais, deu-lhe um beijo demorado na face direita. O andarilho sorriu e recebeu o beijo com naturalidade. Pessoalmente, admirava esse gênio feminino que sabe inventar gestos profundamente humanos e pensei na mulher que cobriu de beijos os pés de Jesus. Essa adolescente manifestou-se próxima, o quanto pôde, desse homem solitário cujo coração dizia ter sede de afeto.Nas terças-feiras à noite, a comunidade da Casa geral prepara uma janta para os migrantes que esperam fora da estação ?Tuscolana?. Um grupo de Irmãos leva comida para uma centena de pessoas, muitos jovens, provenientes dos países do leste europeu, à procura de trabalho e de dinheiro, vivendo situações difíceis, antes de encontrar uma ocupação. Há também alguns italianos idosos aos quais a vida não sorriu.Nessa terça-feira, tínhamos encontrado um grupo de moças que se juntara àqueles da Comunidade de Santo Egídio. Vinham da cidade de Pavia, a uns 400 km de Roma. Sua visita à Cidade eterna previa uma experiência de encontro com pobres; por isso, tinham-se unido aos membros da Comunidade de Santo Egídio e vieram até a ?Tuscolana?. Foi ali que as encontramos.Nessa terça-feira, um senhor nos havia precedido, trazendo abundantes marmitas de arroz. Por isso, quando chegamos com as porções de massa quente e café, demoramos um pouco para distribuí-las. Sobravam umas trinta rações, em pequenos contentores de alumínio. Quando as jovens se deram conta disso, agarraram a caixa que os continha e fizeram publicidade, entre os refugiados. Foi o que bastou para que tudo fosse distribuído com rapidez. Pedro não foi esquecido e houve nova oportunidade para falar com ele.Admirei esse grupo de jovens que viera a Roma não apenas para ver monumentos históricos e tesouros artísticos, mas outrossim, para encontrar os pobres e viver sua vocação de discípulas do Senhor.Emoção semelhante nós tínhamos vivenciado, no dia de Natal, na basílica de Santa Maria ?in Trastévere?. Nessa basílica, a Comunidade de Santo Egídio tem o costume de, no dia de Natal, convidar à mesa em torno de 400 pessoas que vivem na miséria. No próximo Natal, esse almoço na basílica será repetido pela trigésima vez (30 anos!). Muitos voluntários se tinham oferecido para os diversos serviços e, entre esses, três Irmãos da Casa geral. Ajudamos a retirar os bancos da igreja, dispor as mesas e cadeiras, pôr as mesas para todas as pessoas e, depois, ao longo do almoço trazer e servir o menu.O clima era alegre na basílica muito iluminada, e amizades inesperadas foram nascendo entre os comensais e os serventes. Impressão de grande família e de muita humanidade: Cristo servido e Cristo servidor; a Igreja sofredora e a Igreja servidora; todos irmãos e irmãs no Senhor, no dia de Natal.Duas coisas caracterizam o serviço dos pobres: o pão, o alimento, às vezes roupas e cobertas; no entanto, muito mais a partilha da amizade, a palavra trocada que permite uma abordagem mais humana, mais profunda; mãos que se apertam e o sorriso do encontro. Serve-se o café e uma boa palavra; distribui-se a massa entabulando rápidos diálogos. O pão e a palavra juntos: serviço completo, uma ajuda concreta para nossos irmãos em dificuldade. Para dar o Pão e a Palavra é preciso tornar-se próximo.________________* A Comunidade de Santo Egídio é um movimento de Igreja que se caracteriza pelo serviço aos pobres; as iniciativas em favor das pessoas necessitadas são múltiplas: pontos de distribuição de alimentos, roupas, casas de acolhida, lugares para se lavar, se banhar, médicos prontos a receber os pobres, advogados para defender as causas deles, lugares para estudar o italiano, cartas escritas aos condenados à morte, desenhos de crianças com necessidades especiais vendidos e o dinheiro resultante enviado para comprar remédios na África, visita a prisioneiros, contatos pessoais de casa em casa com pessoas necessitadas… A Comunidade de Santo Egídio é constituída, sobretudo, por leigos cristãos; o fundador, Andrea Riccardi, ele também um leigo, é professor de História em uma das Universidades de Roma.__________Ir. Giovanni Bigotto

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